Espírito Santo

Laboratório flutuante vai medir prejuízos causados pela lama

Navio é um dos mais modernos das Forças Armadas; outras duas embarcações auxiliam trabalho

Por Bernardo Miranda
Publicado em 25 de novembro de 2015 | 03:00
 
 
 
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Mais de 400 militares, dezenas de pesquisadores de duas instituições e três navios da Marinha formam uma força-tarefa que começa a trabalhar para entender a extensão dos impactos ambientais causados ao oceano pela lama do rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, na região Central de Minas. Ontem, a mancha na costa de Linhares (ES) já tinha chegado a 20 km mar adentro, 5 km rumo ao litoral sul e 30 km ao norte.

O principal instrumento de trabalho é o navio hidro-ceanográfico Vital de Oliveira, um dos mais modernos das Forças Armadas, que chega a Linhares amanhã. A embarcação foi adquirida em parceria com a Petrobras e a Vale, empresa que junto com a BHP Billiton controla a Samarco, om um dos objetivos principais de descobrir riquezas minerais no solo oceânico.

O navio está atracado em Vitória, onde irão embarcar pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Instituto de Estudos do Mar Almirante Paulo Moreira (IEAPM).

A embarcação de 78 m de comprimento está equipada com 28 instrumentos de alta tecnologia, que permitem a realização de análises detalhadas da fauna e flora atingidas pelos rejeitos de mineração que correram o rio Doce até o oceano. Entre esses equipamentos está um robô com capacidade para explorar áreas com até 4.000 m de profundidade. A embarcação é praticamente um laboratório flutuante, o que possibilita que todo o material recolhido seja analisado em alto mar. Ele foi entregue ao Ministério da Defesa em julho deste ano e custou R$ 162 milhões. Desse total, R$ 70 milhões foram investidos pela Petrobrás, R$ 38 milhões pela Vale e o restante foi dividido entre os ministérios da Defesa e Ciência e Tecnologia.

Além do navio Vital de Oliveira, uma fragata e um rebocador da Marinha já estão atuando na região de Linhares e ajudam em análises preliminares.

Alarmante. O biólogo Luciano Cabral, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Linhares, destaca que só com esse estudo será possível identificar todo o impacto causado pela tragédia. “A gente já sabe que houve uma grande mortandade de peixes, visualmente esta cena é muito impactante. Tínhamos um mar claro há três dias e hoje ele está todo enlameado. Mas é preciso tomar cuidado para não fazer análises alarmantes, sem os dados técnicos que possam embasar esse diagnóstico”, afirmou.

Antes das análises da Marinha, que vão indicar os impactos totais da lama na fauna e flora do mar, a Prefeitura de Linhares espera que hoje seja divulgado o resultado dos testes sobre como o material afetou a qualidade da água do mar. Por enquanto, há alertas em todas as praias do município avisando que não há condições para banho.


Na foz, 700 peixes morreram

Enquanto a lama vai se espalhando pelo oceano, aumenta a mortandade da fauna em Linhares (ES). Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), cerca de 700 peixes mortos já foram recolhidos na foz do rio Doce. Há ainda relatos extraoficiais de que o total de animais mortos em Minas e no Espírito Santo em decorrência do rompimento da barragem da Samarco chegue a oito toneladas.

O maior temor é que a lama chegue até o arquipélago de Abrolhos (no sul da Bahia), a 250 km de Linhares e usado como área de reprodução por baleias. Porém, segundo a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Espírito Santo, por enquanto, os estudos descartam essa possibilidade.

De acordo com pesquisas anteriores sobre o trajeto de sedimentos que chegam do rio Doce e como eles se espalham pela costa, não haveria esse risco. Esses mesmos levantamentos trazem como pequenas as chances dos rejeitos atingirem o litoral da região metropolitana de Vitória.

Já os municípios vizinhos a Linhares devem ser atingidos pelos rejeitos nos próximos dias. A expectativa é que a lama chegue até o litoral sul de São Mateus e norte de Aracruz.

A última medição apontou que a lama está se dispersando mais rapidamente para o norte. Já foram 30 km acima da foz atingidos pelos rejeitos. Já no litoral sul, a lama se espalha com menor rapidez, até agora são 5 km. Para dentro do oceano, a mancha marrom já atingiu 20 km, dez a mais que o informado, anteontem.

Porém, essa tendência pode ser alterada, dependendo do comportamento dos ventos e das correntes marítimas.

 

Surfistas se arriscam entre rejeitos

LINHARES. Apesar da lama, alguns surfistas se arriscaram na praia de Regência, a 4 km da foz do rio Doce, e sentiram grande diferença nas condições do mar. O local é considerado o melhor para a prática de surfe no Espírito Santo.

Segundo o surfista Luís Cláudio Rodrigues, 29, a textura e o gosto estavam alterados. “Estava mais oleosa, mais grossa”, disse. A impressão dele é que os peixes nadavam desnorteados, saltando para fora da água, uma cena diferente da encontrada em um dia normal. Eu pus a água na boca e ela estava meio esquisita, como se estivesse com um pozinho?”, comentou outro sufista, Alexandre Cavalcanti, 40.

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