A manifestação dos moradores do bairro Tupã, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, começou às 8h30 e só foi acabar às 17h30, quando a LMG-808 foi liberada após 9 horas fechada. Os cerca de 500 manifestantes liberavam a rodovia apenas em intervalos programados e por 10 minutos em cada sentido. O protesto é contra a reintegração de posse de um terreno no bairro, ocupado pelos moradores.
Segundo o major Sérgio Dourado, da 2ª região da Polícia Militar (PM), a rodovia foi fechada após o início dos trabalhos de reintegração de posse. “A ordem que a gente tem é não quebrar nada. Hoje faremos apenas a retirada dos pertences”, disse. Sobre a presença de um trator, que assustou os manifestantes e teve a passagem impedida por eles, o major afirmou que serviria apenas para desobstruir a passagem, e não derrubar casas.
Ainda conforme o major, a PM vinha conversando desde agosto com os ocupantes para que eles não deixassem ninguém mais construir no local, já que o terreno poderia ser desapropriado. “Avisamos que a reintegração aconteceria e que eles deveriam arrumar lugar para ficar”, informou o militar. Os policiais chegaram a fazer um cordão de isolamento para que o trânsito na via não fosse interditado, mas os manifestantes conseguiram interditar os dois sentidos da rodovia.
Imagens de uma emissora de televisão mostraram que, enquanto uma equipe conversava com os manifestantes, cinco ônibus da corporação conseguiram entrar na área invadida por uma estrada de terra.
Segundo militares da 38ª Companhia do 18º Batalhão, não houve registro de atrito entre a polícia e o grupo. Além de policiais do batalhão, participam da ação a Tropa de Choque da Polícia Militar, a Cavalaria da corporação, a Companhia de Missões Especiais e a Polícia Militar Rodoviária.
Porém, segundo uma moradora que não quis ser identificada, os militares estavam arrombando as casas e removendo todos os pertences. “Não estão identificando nada, simplesmente jogando de qualquer jeito no caminhão. E se sumir alguma coisa minha?”, protestou.
Rafael Bittencourt, das Brigadas Populares, disse que a população espera que a prefeitura faça uma negociação justa. “Eles exigem o reassentamento das famílias e bolsa moradia. Porque não é certo pegar essas pessoas, que investiram algo nesse terreno, e jogá-los na rua. A prefeitura é a autora da reintegração”, disse.
O desempregado Luciano Ribeiro, de 32 anos, mora há quase 1 ano na ocupação, com a mulher grávida de 3 meses e o filho de 9 anos. “Investi o meu acerto de contas no emprego para construir uma casa de dois cômodos para minha família. O negociador me deu a palavra dele de que hoje não iriam derrubar, por isso ficamos aqui, esperando a resposta da prefeitura. Quando resolvi ir até a minha casa, encontrei já sendo demolida. Podiam pelo menos ter deixado a gente tentar tirar as telhas, para reaproveitar. Teve uma senhora que passou mal quando derrubaram a casa dela”, lamentou.
Segundo ele, o que ficou decidido no encontro com a prefeitura foi que apenas uma escola será usada como abrigo até amanhã. “Não vão dar moradia, nem auxílio. Agora a maioria dos que estão aqui não tem para onde ir. Não vou levar minha família inteira para a casa de dois cômodos em que morava com meus pais”, disse. Ribeiro ainda reclamou da forma como seus pertences foram levados. “Não falaram para onde seria levado, passou um caminhão de transportar areia com as coisas, vi minha cama e a geladeira de cabeça para baixo passando”, contou.
Resposta
Em nota, a prefeitura da cidade informou que o dono do terreno invadido ganhou na justiça, por meio de liminar o direito de reintegração de posse. Além disso, as invasões teriam provocado diversas queimadas no local, abrindo uma grande área de desmatamento, provocando assim, o desequilíbrio ecológico, com o risco de assoreamento e poluição da Lagoa de Vargem das Flores.
Ainda segundo o comunicado, a prefeitura afirmou que prestará assistência às famílias que estavam no local.
Outro ato
Nessa segunda-feira (28), um outro protesto pela mesma causa fechou a LMG-808 por cerca de seis horas. Aproximadamente 300 manifestantes exigiram a presença do prefeito do município, Carlin Moura, para negociação, o que não foi atendido.
Atualizada às 17h56.