Quatro mil diagnósticos de coronavírus espalhados por Belo Horizonte aparecem reunidos em um mapa online criado pela urbanista Eugênia Cerqueira de 31 anos para facilitar o acesso de moradores à quantidade de infectados e óbitos existentes em cada bairro da cidade. O site com o mapa está há uma semana no ar e neste ínterim recebeu cerca de 2.000 acessos – sendo 1.200 deles apenas nos dois primeiros dias. Os dados que constam na plataforma são fornecidos pela própria Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e referem-se àqueles casos que estão georreferenciados.
Através do mapa, é possível que cada morador da capital procure diretamente seu bairro em uma ferramenta de busca capaz de mostrar a ele quantas pessoas foram infectaram com o coronavírus na região e quantas morreram em decorrência da Covid-19. A inclusão de novos casos no site acompanha um relatório semanal da PBH responsável por indicar a quantidade de óbitos e diagnósticos por bairro. Entretanto na quarta-feira passada (15), por exemplo, não houve atualização deste balanço.
Logo que os primeiros casos apareceram em Belo Horizonte, a urbanista que tem mestrado e doutorado na Sorbonne na França decidiu acompanhar os números publicados pelos órgãos oficiais e entender a tendência de expansão da pandemia pelos bairros da cidade.
“Quando a PBH passou a soltar esses boletins com mapas com a distribuição de casos por bairros eu comecei a ter uma espécie de curiosidade para explorar melhor estes dados. Nos primeiros boletins, enxergamos uma concentração intensa de casos na região Centro-Sul de Belo Horizonte e poucas notificações na periferia. Esta era uma tendência um pouco diferente da constatada em outras metrópoles brasileiras”, esclarece Eugênia.
Plataformas semelhantes também foram criadas em cidades onde a explosão de diagnósticos de Covid-19 aconteceu mais rapidamente que em BH, como no Rio de Janeiro e em São Paulo. A ideia inicial de criar um mapa que sanasse sua curiosidade tornou-se logo uma possibilidade de garantir o acesso à informação de forma mais simples e transparente.
“Eu criei a plataforma com o intuito de esclarecer essa curiosidade, mas de repente se transformou em uma ideia para divulgação de informações referentes à pandemia. Eu vi que aquilo era interessante para as pessoas, como também uma forma de auxiliar o poder público a compreender as especificidades do contágio em Belo Horizonte”, detalha.
Esta não é a primeira vez que Eugênia discute dados referentes à população da capital mineira e seus tráfegos. Anteriormente, ela estudou o acesso de moradores de periferias a serviços ligados ao comércio e práticas de lazer na cidade. “Eu tinha uma boa experiência em análise urbana quantitativa. A criação de plataformas públicas é uma tendência que observamos cada vez mais, trata-se de uma tentativa de difundir dados em massa e tornar as informações mais transparentes e mais acessíveis”, afirma a urbanista formada na Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ela, apenas dois dias bastaram que a plataforma fosse criada e aberta para o público.
A pesquisadora esclarece que existe um interesse em entender a propagação da pandemia em regiões periféricas. Um desejo seu é expandir o mapa para analisar o avanço da pandemia em municípios da região metropolitana, especialmente pelo intenso trânsito entre moradores destas cidades por Belo Horizonte.
“Existe uma dificuldade relacionada à fonte porque é muito complicado encontrar uma fonte única. A plataforma é uma maneira de garantir informações principalmente às pessoas que não são da área técnica. Traduzo também outros tipos de informação no mapa como a taxa de letalidade que nos ajuda a entender que há uma concentração grande de mortes por Covid-19 na periferia”, conclui.