Operação Lavagem III

Marido de vereadora é detido durante entrevista à rádio Itatiaia

Ainda não há informações sobre qual seria o envolvimento do marido da política no esquema fraudulento

Por JOSÉ VÍTOR CAMILO / ALISON PITANGUEIRA
Publicado em 09 de dezembro de 2014 | 14:57
 
 
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O marido da vereadora de Confins, na região metropolitana de Belo Horizonte, Flávia Renata Oliveira Silva Cruz (PSC), conhecida como Flávia de Lair, foi detido na tarde desta terça-feira (9) no momento em que concedia uma entrevista à rádio Itaiaia. A prisão aconteceu em decorrência da operação Lavagem III, que tem como objetivo desarticular uma organização criminosa que atuaria em Santa Luzia, Vespasiano, Sete Lagoas, Confins e Belo Horizonte. Armando Junio Pereira da Cruz foi detido dentro do estúdio da rádio, durante o programa "Chamada Geral".

Ainda não há informações sobre o envolvimento de Armando Cruz no esquema. Segundo a Polícia Civil (PC), os policiais investigam fraudes em licitações, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e corrupção. Estão sendo cumpridos 24 mandados de busca e apreensão e seis de prisão. 

Ouça o momento da prisão:

Assista também ao vídeo do momento:

 

O marido da vereadora concedia uma entrevista falando sobre a prisão da sua companheira no programa Chamada Geral, do apresentador Eduardo Costa, quando dois policiais civis chegaram com um mandado. O jornalista chegou a tentar intervir, mas o suspeito acabou detido. "Quero comunicar aos senhores que, neste momento, dois policiais civis estão no estúdio da rádio Itatiaia para prender o Armando, marido da vereadora de Confins. Até aqui, respeitosamente, estou resistindo e dizendo a eles que não acho crível, lógico, correto que invadam o estúdio da maior emissora de Minas para fazer uma prisão", alegou Costa.

Após isso, o apresentador chegou a clamar pelo delegado Oliveira Santiago Maciel, chefe da Polícia Civil, o secretário de Defesa Social, Marco Antônio Romanelli e o governador Alberto Pinto Coelho, para que a intervenção não acontecesse nos estúdios da rádio. "Nós, que não nos dobramos sequer na ditadura, não vamos aceitar. Ninguém vai prender ninguém dentro do estúdio da rádio Itatiaia".

Em seguida, o jornalista afirmou que os policiais estariam cumprindo uma ordem que era documentada naquele momento. "O policial aqui, numa atitude de desrespeito, nós não merecíamos, está dizendo: 'o protegido da Itaiaia'. Está levando o moço preso neste momento, arrancando de dentro do estúdio da Rádio de Minas"

Durante a entrevista, Armando Cruz alegou que sua mulher é ilha de Confins, honesta, e que estaria sendo vítima de represálias por parte do delegado Jonas Tomazi. De acordo com o detido, o problema com o policial civil teria começado após uma criança da cidade desaparecer. "Levei a mãe na delegacia e falaram que teríamos que procurar a de desaparecidos. Lá fizeram a ocorrência e alguém ligou lá em Confins e falou algo com ele sobre o caso. De lá pra cá ele vem puxando minha ficha pregressa, prendeu minha mulher por boca de urna no dia da eleição. A casa que moro é de barro, com rachaduras que cabem uma mão", alegou o detido durante o programa.

O suspeito ainda afirma ter levado o delegado na ouvidoria da Polícia Civil no dia 21 de novembro. "No dia que ele recebeu a notificação, fiquei sabendo que ele deu pulos de raiva e falou que ia prender eu e a Flávia", afirmou.

Antônio Afonso Pereira Júnior, presidente do Conselho de Biblioteconomia, também estava nos estúdios da rádio, porém para dar uma entrevista sobe um projeto de lei que visa criar o cargo de bibliotecários nas escolas públicas e particulares do Estado e que ainda não saiu do papel.

"Já tinha saído lá de dentro quando o prenderam, mas estava no táxi e ouvi tudo. Não acho que o preso foi muito convincente nas palavras, mas o que mais incomodou o Eduardo Costa foi a forma como aconteceu a prisão. Tiraram ele a força do estúdio, podiam ter esperado ele sair de lá de dentro", alegou.

Truculência

Uma funcionária da rádio Itatiaia, que preferiu não ter o nome divulgado, contou como a prisão aconteceu. "A truculência começou com o porteiro. Ele tentou avisar da chegada dos policiais e, eu pude ver nas imagens, quando eles tentam tomar o crachá do porteiro para passar", explicou. Após isso, quando os policiais chegaram na porta do estúdio, o apresentador os avistou e pediu que aguardassem, momento em que a produtora saiu para conversar com eles. 

"Eles chegaram, não apresentaram nenhum documento, e chegaram até mesmo a empurrar a porta que a produtora estava segurando para entrar no estúdio. A questão é que não pode entrar lá ao vivo, prejudica o som, etc. Depois que o Eduardo saiu para conversar com eles, mandaram ele calar a boca, falou que estava protegendo o Armando, chamaram de queridinho da Itatiaia e o levaram, empurrando para fora do estúdio", relatou a funcionária.

O problema principal teria sido o clima que ficou na redação após o ocorrido, já que o programa estava próximo do fim e outro apresentador já se preparava para tomar o lugar do Eduardo Costa. "Foi muito despreparo da polícia chegar invadindo um estúdio ao vivo. O delegado chegou a ligar depois e falaram que ele só mandou cumprir o mandado", finalizou. 

Em nota oficial, a Polícia Civil de Minas Gerais informou que a Corregedoria Geral da corporação já iniciou apuração que vai esclarecer as circunstâncias em que dois policiais civis cumpriram o mandado de prisão nas dependências da Rádio Itatiaia.

Segundo o comunicado, o corregedor geral adjunto, delegado Antônio Gama, já esteve na emissora, onde recolheu imagens de vídeo que registram a ação e levantou informações para elaboração do relatório preliminar que deve subsidiar o procedimento investigativo.

"A Polícia Civil reafirma que rejeita quaisquer práticas que atinjam a liberdade de imprensa, atributo que caracteriza a reconhecida independência dos veículos de comunicação do nosso país, e que têm na Rádio Itatiaia um de seus mais respeitados exemplos", diz a nota.

Relembre

Na manhã desta terça-feira (9), já na terceira fase da operação, seis pessoas já haviam sido presas, entre elas o pai do vereador Aladir José Pessoa e Souza (PTB), que é suspeito de liderar o grupo. Dos presos, dois são funcionários da prefeitura de Confins, um é "laranja" de uma empresa ligada ao político e outros dois familiares de Souza.

Os presos foram encaminhados para Delegacia de Polícia Civil de Confins e serão ouvidos ainda nesta terça-feira (9). Além disso, foram apreendidos um computador, R$ 72 mil em dinheiro, documentos e um Corolla, tudo na casa do chefe de gabinete da prefeitura de Confins.

O vereador Aladir José Pessoa já chegou a ser preso em outras etapas da operação, ficou detido por 25 dias, mas conseguiu habeas corpus e responde o processo em liberdade. O político pagava propina para funcionários da prefeitura de Confins e tinha cerca de cinco empresas que entravam na concorrência e venciam as licitações.

Segundo as investigações, em um intervalo de quatro anos o vereador quase dobrou seu patrimônio. Dados disponíveis no site do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) revelam que o patrimônio de Aladir passou de R$ 263 mil, em 2008, para R$ 410 mil, em 2012.

O salário de um vereador de Confins é de R$ 3.282. O parlamentar ainda tem direito a verba indenizatória no valor mensal de R$ 8.400. O recurso é ressarcido no caso de gastos com o mandato.

Atualizado às 17h55

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