Caso Lorenza

Médico que atestou óbito de Lorenza nega relações pessoais com a família Pinho

Em primeiro posicionamento público, o médico Itamar Tadeu Gonçalves Cardoso negou, por meio de sua assessoria jurídica, qualquer relação pessoal com Lorenza e André de Pinho

Por Bruno Menezes e Lara Alves
Publicado em 07 de abril de 2021 | 11:19
 
 
 
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Cinco dias depois da morte de Lorenza Maria Silva Pinho, 41, o médico Itamar Tadeu Gonçalves Cardoso, que assinou o atestado de óbito na residência da família Pinho, no bairro Buritis, à região Oeste de Belo Horizonte, manifestou-se pela primeira vez e em nota à reportagem na manhã de quarta-feira (7), assinada por sua assessoria jurídica, negou ter mantido qualquer relação pessoal com a mulher ou com o promotor André Luis Garcia de Pinho – detido desde domingo (4) e apontado como suspeito de matá-la.

“Pode-se apenas, no momento, afirmar categoricamente que o seu cliente (o cardiologista Itamar Tadeu Gonçalves Cardoso) não possui, nem nunca possuiu, qualquer relação pessoal com a paciente, muito menos com o investigado”, escreveram as advogadas Tatiana Caldas e Pâmela Petzold. 

Até quarta-feira, o médico do Hospital Mater Dei não havia se pronunciado sobre quaisquer questões relacionadas à investigação da morte de Lorenza. Ele foi o responsável por assinar o atestado de óbito da mulher do promotor André de Pinho e, segundo o ex-advogado do funcionário do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), o cardiologista teria estado na residência da família no dia da morte e tentado reanimá-la por 40 minutos.

No domingo, logo depois da prisão de André, a reportagem procurou o médico em seu apartamento no bairro Castelo, na região da Pampulha. À ocasião, a advogada dele – que não assina a nota em questão – disse que o cliente não falaria com a imprensa e se posicionaria apenas mediante juízo ou na presença de autoridade policial.

Na terça-feira (6), a reportagem voltou ao prédio. O médico chegou a atender ao interfone, mas disse que não iria se posicionar sobre o caso. O espaço para ele continua aberto assim que optar por se pronunciar.

Ausência de esclarecimentos

O escritório Oliveira Caldas Advocacia, cujo emblema estampa a nota que chegou à reportagem nesta quarta-feira, reforçou por meio do documento que esclarecimentos só serão feitos por parte do médico nos autos do inquérito presidido pela Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais. De acordo com as advogadas, a assessoria jurídica de Itamar Tadeu ainda não teve acesso aos autos do inquérito, que está sob segredo de justiça.

Parecer é encerrado com condolências à família de Lorenza: “tanto esta assessoria jurídica, quanto o dr. Itamar Tadeu Gonçalves Cardoso, lamentam profundamente a morte da sra. Lorenza Maria Silva de Pinho e se solidarizam com sua família nesse delicado momento”. Em relação à função desempenhada pelo médico no Hospital Mater Dei, advogadas disseram que ele atende urgências e emergências na unidade e atua na linha de frente dos cuidados com pacientes infectados pelo coronavírus.

Proximidade entre cardiologista e família

Comentários coletados pela reportagem nas redes sociais do médico atestam a proximidade entre Itamar e Lorenza. Fotos publicadas pelo cardiologista com os filhos recebiam corriqueiramente mensagens de afeto escritas pela mulher do promotor André de Pinho, como “família linda” e “feliz ano novo”.

O celular particular de Itamar Tadeu foi apreendido em cumprimento de mandado de busca e apreensão por três investigadores, um delegado e um promotor no apartamento do médico na segunda-feira (5). Segundo apurou O TEMPO à ocasião, o cardiologista entregou o aparelho telefônico.

De acordo com o ex-advogado de André Luis Garcia de Pinho, Sérgio Leonardo, uma ambulância do Hospital Mater Dei foi acionada para socorrer Lorenza à hora de sua morte e o médico teria tentado reanimá-la por 40 minutos. Atestado o óbito, o corpo dela não foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) porque não havia, segundo teria dito Itamar, causas violentas relacionadas ao óbito. Por outro lado, fontes ouvidas pela reportagem indicam que havia sinais de violência no corpo de Lorenza.

(Com Gabriel Moraes)

Atualização

À tarde de quarta-feira (7), a assessoria jurídica do clínico e cardiologista Itamar Tadeu Gonçalves Cardoso, composta pelas advogadas Tatiana Caldas e Pâmela Petzold, reafirmou à reportagem que o médico não foi diretamente contactado pelo promotor André Luis Garcia de Pinho, 51, após a morte de Lorenza Maria Silva Pinho, 41. Ele foi designado para atendimento emergencial pelo próprio Hospital Mater Dei, onde, à ocasião, atendia como plantonista – na unidade de saúde, Cardoso atua como médico nos setores de urgência e emergência. Como esclarecido em reportagem de segunda-feira (5), o Mater Dei declarou que oferece ambulâncias equipadas com Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para socorrer pacientes em situações emergenciais em quaisquer pontos de Belo Horizonte – aqueles que não têm convênio médico também podem contratar o serviço diretamente com o hospital pelo valor R$ 1.580 para o transporte.

Em relação à apreensão feita no endereço residencial do clínico, a assessoria jurídica informou que não são verdadeiras as informações veiculadas anteriormente e que apontam os objetos específicos recolhidos no imóvel. Outras informações não serão repassadas, segundo as advogadas, pelo fato da investigação correr em segredo de justiça – ainda segundo elas, por meio de nota, o médico está à disposição da autoridade competente “no intuito de prestar todo e qualquer esclarecimento necessário à elucidação das circunstâncias da morte da paciente”. 

Sobre os comentários feitos por Lorenza Maria Silva Pinho nas redes sociais do médico, foi destacado que o cardiologista “não possui, nem nunca possuiu, qualquer relação pessoal com a paciente, muito menos com o investigado” e que as respostas oferecidas por ele nos comentários partem dos preceitos profissionais dele, que preza por um atendimento “individualizado, especial e humanizado” – em um dos comentários, por exemplo, ele reforçou a vocação como cardiologista: “coração saudável, corpo e mente sã”, escreveu.

Atualizada às 17h31 de 7 de abril de 2021. (Com Lara Alves)

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