O cardiologista e intensivista Itamar Tadeu Cardoso, que atestou o óbito de Lorenza Maria de Pinho, mulher do promotor de Justiça André Luis de Pinho, teve seu telefone celular e o prontuário médico da mulher apreendidos pela Polícia Civil. Pedido foi feito pela Justiça e cumprido no último domingo (4).
Conforme apurou O TEMPO, três investigadores, um delegado e um promotor foram até o apartamento do médico, localizado no bairro Castelo, região da Pampulha, em Belo Horizonte, para cumprir o mandado durante a manhã.
Cardoso entregou o aparelho de prontidão, tendo, inclusive, fornecido a senha de acesso. Já o prontuário médico, do hospital Mater Dei, estava dentro de sua bolsa de trabalho. Os materiais foram encaminhados à Procuradoria-Geral de Justiça.
A reportagem passou horas na frente de sua casa para tentar contato com o médico, mas sem sucesso. Em um dado momento, sua advogada, Ana Carolina Rocha, foi até a portaria e afirmou que o cliente não conversaria com a imprensa.
"Eu venho aqui perante a imprensa para informar que tudo que ele tiver que informar será informado em juízo, ou na presença da autoridade policial. Só isso que nós temos a dizer", explicou.
Proximidade com a família
Itamar Tadeu Cardoso era próximo da família Pinho. A reportagem identificou nas redes sociais do médico, em diversas postagens, principalmente com seus filhos, que Lorenza comentava mensagens de afeto, como "feliz ano novo" e "família linda".
Além de ter seu consultório particular, localizado no Barro Preto, região Centro-Sul de Belo Horizonte, o médico também presta serviços ao Hospital Mater Dei, que possui duas unidades na capital. Em seu site, consta que ele é natural da cidade, mas formou-se em medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
"Gosto das coisas simples da vida, sempre valorizando amigos e família. Ser médico sempre foi um sonho, por isso hoje exerço essa função com muito respeito e dignidade. Procuro sempre ouvir e valorizar todas as queixas de meus pacientes. Sendo claro, objetivo e eficaz nas condutas. Cada paciente é único, por isso merece um atendimento individualizado, completo e humano. Conte comigo para o que precisar!", escreve.
Ambulância
A defesa de André Luis de Pinho, suspeito de matar a mulher, contou que o médico esteve na residência do casal e tentou reanimar Lorenza por 40 minutos. O corpo da mulher não foi imediatamente levado ao Instituto Médico Legal (IML) porque não havia, conforme teria dito o profissional, causas violentas relacionadas ao óbito.
O TEMPO confirmou que o Mater Dei disponibiliza ambulâncias com Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e médico para socorrer pacientes em qualquer ponto da capital.
Mesmo sem ter um plano de saúde, qualquer pessoa pode solicitar socorro ao hospital em casos de urgência e emergência. Caso não haja convênio, é cobrado um valor de R$ 1.580 pelo transporte, onde pode ser feita intubação do paciente, caso necessário. Chegando ao hospital, outros custos podem ser cobrados, como consulta, honorários de médicos e internação. A assessoria de imprensa do Mater Dei informou que, devido ao sigilo das investigações, não irá comentar o caso.
Atualização
À tarde de quarta-feira (7), a assessoria jurídica do clínico e cardiologista Itamar Tadeu Gonçalves Cardoso, composta pelas advogadas Tatiana Caldas e Pâmela Petzold, reafirmou à reportagem que o médico não foi diretamente contactado pelo promotor André Luis Garcia de Pinho, 51, após a morte de Lorenza Maria Silva Pinho, 41. Ele foi designado para atendimento emergencial pelo próprio Hospital Mater Dei, onde, à ocasião, atendia como plantonista – na unidade de saúde, Cardoso atua como médico nos setores de urgência e emergência. Como esclarecido em reportagem de segunda-feira (5), o Mater Dei declarou que oferece ambulâncias equipadas com Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para socorrer pacientes em situações emergenciais em quaisquer pontos de Belo Horizonte – aqueles que não têm convênio médico também podem contratar o serviço diretamente com o hospital pelo valor R$ 1.580 para o transporte.
Em relação à apreensão feita no endereço residencial do clínico, a assessoria jurídica informou que não são verdadeiras as informações veiculadas anteriormente e que apontam os objetos específicos recolhidos no imóvel. Outras informações não serão repassadas, segundo as advogadas, pelo fato da investigação correr em segredo de justiça – ainda segundo elas, por meio de nota, o médico está à disposição da autoridade competente “no intuito de prestar todo e qualquer esclarecimento necessário à elucidação das circunstâncias da morte da paciente”.
Sobre os comentários feitos por Lorenza Maria Silva Pinho nas redes sociais do médico, foi destacado que o cardiologista “não possui, nem nunca possuiu, qualquer relação pessoal com a paciente, muito menos com o investigado” e que as respostas oferecidas por ele nos comentários partem dos preceitos profissionais dele, que preza por um atendimento “individualizado, especial e humanizado” – em um dos comentários, por exemplo, ele reforçou a vocação como cardiologista: “coração saudável, corpo e mente sã”, escreveu.
Atualizada às 17h31 de 7 de abril de 2021. (Com Lara Alves)