Um médico cardiologista foi detido na noite dessa quarta-feira (28) em Uberaba, no Triângulo Mineiro, suspeito de estuprar e agredir uma paciente, 32, durante atendimento clínico na manhã do dia. Após o episódio de violência sexual, ele teria, aliás, agendado um retorno para ela dali cerca de três semanas. Logo depois do estupro, a mulher falou com uma amiga pelo WhatsApp e contou o que aconteceu, foi ela quem a convenceu de denunciar o médico à Polícia Militar (PM).

O atendimento durou cerca de uma hora, e o marido da vítima a esperou do lado de fora do consultório, mas a mulher temia que, se contasse a ele o ocorrido, ele agrediria o médico ou se separaria dela. Exame feito no Hospital da Mulher da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) poucas horas após o estupro detectou a presença de lesões vaginais. O laudo será entregue nesta quinta-feira (29). O médico acabou detido em flagrante em casa e em frente à família. Questionada, a clínica onde o estupro teria acontecido relatou à reportagem que “não tem nada a declarar”.

A mulher havia começado acompanhamento com o médico em função de arritmias cardíacas constantes, e logo à primeira consulta ele receitou a ela remédios contra ansiedade e pediu exames – ainda neste primeiro atendimento feito, ela relatou ao marido que o cardiologista teria apalpado suas pernas e seios. À época, o companheiro dela se agitou e disse que este comportamento não era normal, e, em função do estranhamento, decidiu acompanhá-la na consulta desta quarta-feira (28). 

À polícia, a mulher conta que seria atendida no período da tarde, mas logo de manhã a secretária do médico telefonou para ela e pediu que fosse adiantada a consulta. Ela aceitou e foi até o prédio onde está instalada a clínica no horário marcado. O marido decidiu esperá-la fora da sala. Ela conta que, quando entrou, era próximo de 10h20, saindo mais de uma hora depois, às 11h50. Em seu depoimento, a vítima esclareceu que logo que entrou, o médico alegou que iria examinar suas pernas e a colocou deitada de bruços na maca com os braços para trás. Logo em seguida, o suspeito a apalpou por todo o corpo. A mulher conta ter percebido o médico encostar o próprio genital nas mãos dela ordenando que ela relaxasse. 

Foi neste momento que o suspeito puxou para o lado a calcinha da mulher e a estuprou. Segundo o relato, o médico teria agarrado a mulher pelos cabelos, e, só após a luta corporal, a libertado. Ele, então, teria ejaculado no chão da sala. Depois de estuprá-la, o médico ainda teria marcado um retorno para dali três semanas, dizendo que ela não poderia deixar de tornar à consulta.

Quando conseguiu sair do consultório, a mulher narrou o estupro para uma amiga pelo WhatsApp e disse que tinha medo de contar ao marido, temendo que ele se separasse dela ou cometesse um "crime contra o médico", como relatado na ocorrência. Ela declarou também que não reagiu durante o estupro porque o médico poderia alegar que ela era louca, já que tinha receitado remédios para ansiedade. Outro temor da mulher é que o suspeito poderia conseguir, por meio do cadastro na recepção, o endereço dela.

Depois de algumas horas de insistência, a amiga, então, teria convencido a mulher a prestar queixa, e, por isso, ela procurou a polícia acompanhada do marido. O homem contou à PM ter estranhado a demora no atendimento da mulher, que permaneceu mais de uma hora na sala do médico. Ele relatou ter encaminhado mensagens pelo WhatsApp para a companheira durante a consulta para saber se corria tudo bem, mas nenhuma delas foi respondida.

Feita a denúncia, os militares encaminharam a vítima até o Hospital da Mulher da UFTM, onde ela recebeu atendimento médico. A doutora que a atendeu relatou à polícia ter detectado lesões na parte interna da vagina. O laudo médico completo será entregue nesta quinta-feira (29). Frente à acusação, agentes seguiram para o endereço do suspeito, onde ele mora com a família. Ele optou por acompanhar a PM até a companhia, para dar sua versão dos fatos longe de seus parentes.

À polícia, ele disse que é chefe do setor de cardiologia de um importante hospital na cidade e que atendeu a paciente durante cerca de 40 minutos na manhã de quarta-feira. Ele conta que se tratava de retorno para avaliar exames médicos, e que a porta permaneceu apenas encostada, e não trancada. Disse também que havia três secretárias do lado de fora. Ele nega os fatos narrados pela mulher.

O médico acabou detido em flagrante e foi encaminhado à delegacia de plantão de Uberaba. De acordo com a Polícia Militar, busca no sistema revelou três outras ocorrências contra o suspeito com relatos semelhantes àquele feito pela paciente nessa quarta-feira. À reportagem, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) declarou que a autoridade policial ratificou a prisão em flagrante e o suspeito foi encaminhado ao sistema prisional. A investigação seguirá sob sigilo. Procurada, a clínica onde o estupro teria acontecido declarou que “no momento, não temos nada a declarar”.