Com a melhora dos indicadores relacionados à Covid-19, o Ministério da Saúde voltou a autorizar as centrais estaduais de transplantes a fazer a captação de órgãos em doadores. Em Minas, a notícia é um alento a quem precisa voltar a enxergar, por exemplo, pois poderão fazer a operação de córnea.
De janeiro a julho, a queda no número de intervenções de córnea no Estado caiu mais de 50%. No geral, a queda global das cirurgias de transplante em Minas foi de 35%, da segunda quinzena de março e até o fim do mês de setembro, em comparação com o mesmo período de 2019.
Segundo o diretor do MG Transplantes, Omar Cançado, em Minas, se a cidade estiver na onda verde do Minas Consciente, pode voltar a captar. Isso porque um dos parâmetros para ela estar nessa onda é ter taxa reduzida de ocupação dos leitos de UTI, ou seja, há leito sobrando para atender aos transplantes. Para Cançado, após fase crítica de queda dos transplantes, o momento é de otimismo.
Recusas aumentaram
Um dado alarmante, ainda ligado à queda dos transplantes, é o aumento da recusa dos familiares de possíveis doadores já diagnosticados com morte cerebral.
“Antes da pandemia, esse percentual ficava, no máximo, em 30%. Com o isolamento social, nos últimos três meses, 50% dos parentes que perderam seus entes se recusaram a autorizar a doação de órgãos”, lamentou Cançado. O diretor reforça que as pessoas precisam expressar em vida, junto às famílias, a intenção de doar órgãos.
Corrida contra o tempo
Especialista em transplantes de fígado e coordenador dessa área na Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte, Aguinaldo Lima, concorda e destaca a urgência dos pacientes à espera de um doador.
“Sabemos que a queda dos transplantes relacionada à Covid-19 é temporária, mas muitas vezes não há mais tempo para quem está na fila. As pessoas deviam voltar às consultas, para se credenciarem às cirurgias, mas ainda estão temerosas. O momento é de retorno com total segurança nos procedimentos, precisamos voltar ao patamar de crescimento”, sublinhou Lima.
Reflexo drástico
Em 2020, até o início de março, mês a mês, em relação ao ano passado, o MG Transplantes registrava aumento de cerca de 10% no número de transplantes.
Com o início da pandemia, a partir da segunda quinzena de março até o fim do mês de setembro, em relação ao mesmo período de 2019, ocorreu redução de 20%, no total dos transplantes de órgãos; de 80%, no de tecidos, especialmente de córneas.
De coração novo durante a pandemia
Contrariando todas as atuais estatísticas, a auxiliar de serviços administrativos Patrícia Ferreira da Silva, 35, em pleno pico da pandemia, precisou submeter-se à cirurgia de coração.
Portadora de doença de Chagas, ela fazia controle com remédios, mas, no fim de abril, após um desmaio, foi internada no Hospital Mater Dei e transferida para o Hospital das Clínicas com falência cardíaca. O transplante era a única chance de vida.
“Não sabemos o motivo de o quadro dela ter se agravado. O caso dela tornou-se gravidade máxima, porque ela tomava o máximo de medicação e já estava com o balão intra-aórtico. Não havia mais o que fazer”, recorda a fisioterapeuta Poliana Ferreira, irmã de Patrícia.
Patrícia passou a ocupar o primeiro lugar da fila e, 20 dias depois, entrava na sala de cirurgia para receber o coração novo. “Só tenho a agradecer à família que permitiu a doação, aos médicos e à equipe do MG Transplantes”, elogiou Poliana.