Somente nos primeiros 11 dias do ano, Minas Gerais registrou 53.395 casos de Covid, mais do que o triplo contabilizado em todo o mês de dezembro de 2021. Somente em Belo Horizonte, foram 5.149 infectados pela doença em janeiro, fazendo com que crescessem a taxa de transmissão do vírus e a ocupação de leitos de enfermaria.
Mesmo com a escalada de novos casos e a pressão sobre os serviços de urgência – na semana passada, a capital mineira registrou mais de 33 mil atendimentos a pacientes com suspeita de Covid nas redes pública e privada, um recorde em toda pandemia –, medidas restritivas não devem ser adotadas pela prefeitura neste momento.
Na terça-feira, 11, o prefeito Alexandre Kalil afirmou que a administração municipal vai seguir na mesma “toada”, mas está atenta aos dados. "Não tenham dúvida que se acontecer saturação da saúde pública, se acontecer alguma coisa desse tipo, alguma atitude vai ser chamada. Mas, por enquanto, é especulação, nós estamos relativamente tranquilos quanto à internação, estamos reabrindo leitos, principalmente de enfermaria”, disse.
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que também não há orientações para a retomada de restrições em municípios mineiros.
Ainda não há sinais de novas restrições em Belo Horizonte e outras cidades porque o crescimento de casos de Covid não é o único indicador levado em conta pelos gestores públicos. Desde junho, a capital mineira vem adotando como parâmetro a taxa de normalidade, atualmente mensurada em 85%, em uma escala de 0 a 100%.
A taxa de normalidade é baseada em seis parâmetros: taxa de incidência de novos casos por 100 mil habitantes, tendência de novos casos, mortalidade por 1 milhão de habitantes, letalidade global da Covid, tendência da mortalidade e percentual da população plenamente vacinada com as duas doses.
O cientista de dados e professor da PUC Minas Braulio Couto foi um dos criadores da taxa, junto ao infectologista Carlos Starling. Ele explica que a incidência de casos de Covid cresceu vertiginosamente, mas os outros parâmetros permanecem estáveis, fazendo com que a taxa não caia tanto. “A taxa de ocupação de leitos foi muito importante especialmente no início da pandemia. Mas ela varia conforme o número de vagas disponíveis. Por isso, foi importante desenvolver outros parâmetros”, diz.
Monitoramento
A taxa de normalidade é recalculada semanalmente para todos os municípios de Minas Gerais, conformes os dados disponibilizados pela Secretaria de Estado de Saúde. Braulio Couto conta que, além das prefeituras, existem gestores privados que estão utilizando o indicador para definir se a equipe pode retornar ao presencial ou ficar no home office.
A taxa de normalidade foi utilizada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), durante o Brasileirão, para o planejamento de volta do público aos estádios. “O índice se tornou uma boa ferramenta de planejamento. Empresas petrolíferas e frigoríficos, por exemplo, passaram a usá-la”, explica Couto, acrescentando que um trabalho científico desenvolvido junto a indústrias e à CBF foi submetido à apreciação para ser apresentado em um congresso europeu de doenças infecciosas, em Portugal.