Cães intoxicados

Ministério detectou monoetilenoglicol em outros lotes de alimentos para pets

Por conta disso, demais marcas de produtos para animais deverão informar ao Mapa se usam o propilenoglicol e quem são os fornecedores do aditivo

Por José Vítor Camilo
Publicado em 09 de setembro de 2022 | 17:52
 
 
 
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As investigações sobre a morte de 40 cães supostamente intoxicados após comerem petiscos, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), identificou em análises preliminares monoetilienoglicol como contaminante de propilenoglicol em outros lotes de produtos para animais da marca Bassar. Na quarta-feira (7), a empresa que vendeu o adtivo para a marca responsável pelos petiscos supostamente contaminados informou ter adquirido o produto de outra empresa

Os testes foram realizados pelos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária (LFDA). "Até o momento, as investigações ainda não determinaram a origem do aditivo utilizado, em virtude da falta de rastreabilidade dos envolvidos e da mistura de lotes de aditivos nos diferentes estabelecimentos já identificados sem registro no Ministério", detalhou a pasta. 

O ministério lembra ainda que o propilenoglicol é um produto de uso permitido na alimentação animal, entretanto, ele deve ser adquirido de empresas registradas no Mapa. 

Na última terça-feira (6), o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal do Mapa determinou a suspensão imediata do uso em linhas de produção de dois lotes da matéria-prima propilenoglicol da empresa Tecno Clean Industrial LTDA. 

A Bassar foi procurada por O TEMPO e informou, por meio de nota, que iniciou na quarta-feira o recall de todos os seus produtos fabricados a partir de 7 de fevereiro deste ano. "Isso compreende todos os lotes de produto – marca própria ou marca Bassar –, com numeração acima do 'lote 3329' (inclusive este)", disse a empresa.

"Nós, da equipe da Bassar Pet Food, estamos extremamente consternados com os relatos de contaminação de animais e queremos expressar nossos mais profundos sentimentos pelo ocorrido. Também somos tutores e sabemos da dor e da tristeza da perda de um pet, ainda mais em circunstâncias como as que estão sendo investigadas", completou. 

Por fim, a Bassar orienta que, para a realização do recall, basta o consumidor devolver o produto à loja, que deverá realizar o reembolso do valor gasto, mesmo se a embalagem já estiver aberta ou se parte do produto tiver sido utilizada. 

"Em caso de dúvidas sobre o recall ou sobre nossos produtos, os consumidores podem entrar em contato com nosso SAC pelo email sac@bassarpetfood.com.br", finalizou. 

Outras marcas deverão enviar informações de fornecedores

Ainda conforme o Mapa, nesta sexta-feira (9) o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal determinou que todas as empresas fabricantes de alimentos e mastigáveis deverão indicar os lotes de propilenoglicol existentes em seus estoques e seus respectivos fabricantes e importadores ao Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SIPOA) de sua região. 

Elas também deverão fazer análises em seus produtos que contenham o propilenoglicol na composição, "para garantir a segurança de uso nesses produtos", além de indicar os lotes de produtos acabados em estoque e já distribuídos que tenham utilizado propilenoglicol em sua composição, "incluindo a porcentagem utilizada".

"Aos fabricantes de aditivos que elaborem ou importem propilenoglicol, o Dipoa solicitou que se manifestem quanto à fabricação, importação ou compra de propilenoglicol em território nacional desde dezembro de 2021, com relação à identificação dos lotes, o quantitativo adquirido e suas origens", completou o ministério. 

O Mapa determinou ainda que os demais fabricantes de produtos para outras espécies de animais também deverão indicar se usam o propilenoglicol na composição dos seus produtos e quem são os fornecedores do aditivo.

"As empresas têm o prazo de 10 dias para atender às determinações do Dipoa. A não comunicação ao SIPOAS será interpretada como não utilização do propilenoglicol e as empresas serão fiscalizadas quanto à veracidade das informações prestadas", conclui o Mapa. 

Perguntas e respostas

As mortes de cães intoxicados após consumirem petiscos deixam tutores em alerta. A situação é investigada pela Polícia Civil de Minas Gerais e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Conforme as autoridades, os alimentos estavam contaminados com etilenoglicol, composto químico altamente tóxico quando ingerido. 

Pelo menos 40 cães morreram após consumirem os petiscos em Minas Gerais e outros oito estados, além do Distrito Federal, detalhou a delegada Danúbia Quadros, da Delegacia Especializada em Defesa do Consumidor de Minas Gerais. Apenas em Belo Horizonte foram oito óbitos. 

O que causou a morte dos animais?

Exames de necropsia realizado pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) apontaram existência de etilenoglicol no organismo de cães mortos. Perícia da Polícia Civil feita em petiscos também atestou a presença da substância no alimento.

O composto é da mesma família do dietilenoglicol, substância apontada como a causa da morte de dez consumidores da cerveja Backer em Minas Gerais em 2019 e 2020. Ambas provocam danos severos aos rins.

Por que os petiscos estavam contaminados?

Esta é uma das principais perguntas que as investigações tentam responder. Conforme o Ministério da Agricultura, o problema teria sido causado pela contaminação do aditivo propilenoglicol, substância usada para produção de alimentos para animais e humanos, com etilenoglicol. 

A investigação identificou a contaminação em dois lotes de propilenoglicol — AD5053C22 e AD4055C21, ambos vendidos por uma fornecedora de matéria-prima, a Tecnoclean Industrial, com sede em Contagem, na região metopolitana de Belo Horizonte. A empresa alega atuar apenas como revendedora da substância.

O Mapa determinou, nessa terça-feira (7), que todas empresas do setor de alimentações que adquiriram a matéria-prima do fornecedor retirem produtos fabricados e distribuídos ao mercado.

Quais marcas estão envolvidas?

Os petiscos envolvidos são das marcas Dental Care, Every Day e Petz Sanack Cuidado Oral, todos fabricados pela Bassar. 

O que a substância tóxica causa?

Vômitos, convulsões e diarreias são alguns dos sintomas apresentados por cães supostamente intoxicados por etilenoglicol. A substância também está relacionada a problemas renais. 

O que fazer em caso de suspeita de contaminação?

Os tutores devem procurar imediatamente um veterinário após verificarem os sintomas. Além disso, a Polícia Civil também pode ser comunicada, pro meio da Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor (rua Martim de Carvalho, 94, Santo Agostinho, Belo Horizonte). 

O que dizem as empresas?

Responsável pela fabricação dos petiscos contaminados, a Basser, que interrompeu a produção desde a semana passada, diz que “está realizando um recall de todos os seus produtos junto a seus consumidores, solicitando que entreguem no local de venda os itens que já tenham adquirido anteriormente”.

A empresa também diz ser a “maior interessada no esclarecimento dos fatos” e que “apoia as investigações do Mapa e das autoridades policiais”. Além disso, a Bassar diz que todo processo de produção e maquinários da produção de alimentos para animais passa por perícia. 

“A empresa reforça que o etilenoglicol não faz parte de nenhuma etapa da sua cadeia de produção. A Bassar Pet Food se solidariza com todos os tutores de pets – a razão de nossa empresa existir. Os consumidores podem tirar dúvidas pelo e-mail sac@bassarpetfood.com.br”, finaliza a nota.  

A Tecnoclean Industrial, fornecedora da matéria-prima que estaria contaminada, em comunicado na sede da empresa nesta quinta-feira, informou que atua apenas como revendedora e que, por esse motivo, não possui regulamentação junto ao Mapa. 

Atualizada às 18h18

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