Operação 'Voz da Arquibancada'

Ministério Público pede banimento da Máfia Azul e da Pavilhão Independente

Até o momento, oito pessoas foram presas durante a operação desta terça-feira

Por Carolina Caetano
Publicado em 17 de dezembro de 2019 | 11:31
 
 
 
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O Ministério Público Estadual (MPE) vai representar pelo banimento das torcidas organizadas do Cruzeiro, Máfia Azul e Pavilhão Independente, temporariamente a partir desta terça-feira (17). A informação foi divulgada no fim da manhã, após a operação 'Voz da Arquibancada', que teve como alvo líderes e membros das organizadas. Oito pessoas foram presas.

"O Ministério Público instaurou esse inquérito  civil público tão logo ocorreram os conflitos entre essas duas torcidas. A partir das juntadas de vários documentos foi feita a tentativa da primeira conciliação, que não foi respeitada. Isso ocasionou o banimento por 30 dias da Máfia Azul e da Pavilhão Independente. Então fizemos duas ações: a primeira com as medidas cautelares reais e pessoais, que significa mandados de prisão temporária e mandados de busca e apreensão, e nesta segunda esfera que é administrativa baseada no inquérito civil que está em andamento, que é o banimento pelo prazo de um ano de todos os torcedores que se apresentem com aquela caracterização de torcida Máfia Azul e Pavilhão Independente no entorno e dentro dos estádios de todo o país. Eles não poderão comparecer uniformizados, com bandeiras e outros objetos que remetam às torcidas", expicou a promotora de Justiça de Defesa do Consumidor, Vanessa Fusco.

O pedido será encaminhado à Federação Mineira de Futebol, que vai ter um prazo para se manifestar. "No âmbito do termo de ajustamento de conduta, não seria uma medida salutar para a federação descumprir essa orientação do Ministério Público. É uma orientação de toda a sociedade. A população ordeira não quer que esse público específico, uma gama pequena de pessoas, frequente os estádios", detalhou a promotora. 

Caso a federação acate a recomendação do MPE, caberá à Polícia Militar a monitorar esses torcedores nos estádios durante os jogos de 2020.

Operação 

A operação Voz da Arquibancada começou na madrugada desta terça-feira e foi uma ação conjunta entre Polícia Civil, Polícia Militar e Ministério Público, onde foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão nas sedes dos grupos, em Belo Horizonte, e em outros imóveis  em Contagem, Betim, Vespasiano, Ribeirão das Neves, na região metropolitana da capital,  Barão de Cocais e João Monlevade, na região Central de Minas.

Foram expedidos  16 mandados de prisão temporária - com validade de cinco dias.  Nas investigações relacionadas às torcidas são apurados crimes de tentativa de homicídio, associação criminosa, lesão corporal, provocação de tumultos, ameaças e dano ao patrimônio público e privado. 

"Alguns desses presos já têm passagens pela polícia por tráfico de drogas e homicídios. Entre os presos estão líderes dessas torcidas, que, além de participarem, instigavam as brigas. Eles serão responsabilizados e responderão por associação criminosa. Estamos, agora, tomando medidas contra a Pavilhão e a Máfia Azul, mas quero deixar claro para as torcidas dos outros clubes que, se ocorreram fatos como desses dois grupos, vamos tratar da mesma forma", destacou o delegado Denilson Gomes, da Delegacia de Eventos, que integra o Departamento Estadual de Operações Especiais (Deoesp).

De acordo com o policial, a instituição ainda investiga se há financiamento por parte de algum clube. "Não temos essa confirmação, mas vamos investigar. Há indícios que clubes estejam sustentando essas torcidas com ajuda de custo e ingressos", contou. 

Durante a ação foram apreendidos uniformes, documentos, bastões de madeira e ferros. No Deoesp, apenas três dos presos se limitaram a dizer que eram inocentes. O restante optou pelo silêncio.

Tentativas de conciliação 

Desde setembro, quando ocorreu a partida de Cruzeiro contra Flamengo, em que também foram registrados conflitos, líderes das duas torcidas foram chamados para tentativas de conciliação.

"Nós tivemos três reuniões no batalhão tratando com as torcidas, tivemos uma reunião no próprio Cruzeiro e duas ou três reuniões no Ministério Público com membros das torcidas tratando dessa questão de caminharmos para uma paz, mas eles estão sempre em atrito. Essas lideranças não entram em um consenso, e eles têm o domínio das torcidas", explicou o tenente-coronel Juliano Trant, comandante do Batalhão de Choque da Polícia Militar. 

O militar informou que a corporação vai continuar acompanhando os jogos, e, caso a federação acate a recomendação do MPE, os torcedores podem ser presos. "Eles podem ser presos porque estão desobedecendo uma recomendação de autoridade competente. Mas, em primeiro momento, trabalhamos com a questão educativa porque muitos torcedores compram o uniforme da torcida e vão inocentemente. Percebendo que se trata de afronta dos integrantes das organizadas, nós vamos tomar providências", destacou o tenente coronel. 

Tornozeleiras e biometria

Sobre o uso de tornozeleira para esses integrantes envolvidos em brigas e a possibilidade da biometria nos estádios, conforme acontece em outros Estados, a promotora Vanessa Fusco afirmou que todas as possibilidades são estudadas. 

"Nós estamos estudando várias metodologias e ainda não sabemos qual é a mais adequada, mas eu acho que toda tecnologia é bem-vinda para facilitar. Os estádios têm um fluxo muito grande de pessoas. Então existe a necessidade do auxilio da tecnologia e podemos adotar a ideia de outros Estados e outros países", finalizou. 

Efetivo

A operação contou com a participação de 110 investigadores, 40 policiais militares, quatro delegados e dois promotores de Justiça.

FMF

A Federação Mineira de Futebol informou que ainda não foi notificada pelo Ministério Público. A sede está com funcionamento limitado devido às férias coletivas até 6 de janeiro.

Matéria atualizada às 14h33

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