Na calçada da rua Álvares Maciel, quase no encontro com a avenida Brasil, no bairro Santa Efigênia, na região Leste de Belo Horizonte, vive o morador de rua Fernando da Silva, de 32 anos. Natural de Três Marias, na região Central, mas registrado pelos avós maternos em João Pinheiro, no Noroeste do Estado, há três anos ele vem tentando uma oportunidade de trabalho em Belo Horizonte, sem muito sucesso.
Diante disso, ele resolveu afixar uma placa na rua pedindo uma oportunidade de emprego. A placa diz: “Lavo carros e encero. Conhecimento de pintura, grafiato, textura e pedreiro de acabamento”.
Desde que chegou a Belo Horizonte, em 2018, Fernando diz que a vida não tem sido fácil. “Quando cheguei, em um simples cochilo na rodoviária eu fiquei sem meus documentos. Me roubaram junto com R$ 2.600 do meu acerto com a última firma que trabalhei. Levaram meu telefone, minhas roupas, não deixaram nada”, conta Fernando. Desde então ele diz que tem tentado tirar a segunda via dos documentos, mas diz que a burocracia tem dificultado. Obstáculo que também que também vira um problema na hora de procurar um trabalho.
A placa afixada na rua ainda traz um número de celular que seria o contato dele. O aparelho, que nem terminou de ser pago e tem o valor de R$ 600, foi roubado na última segunda-feira (25), enquanto ele dormia na rua.
Na casa simples, com paredes invisíveis, tem uma bíblia sobre a mesa, quadros pintados por ele, um banheiro cercado por pano, um guarda-roupa improvisado debaixo da cama e muita organização. O rádio não pode faltar, nem a companhia do cão de estimação chamado de Popeye. Nome que foi dado ao animal pela namorada dele, que grávida de quatro meses do primeiro filho do casal, largou recentemente o companheiro no local, para voltar ao mundo das drogas.
“O nome dela é Hanna. É uma pessoa que eu amo, do fundo da minha alma. Tentei cuidar e dar carinho da maneira que eu posso. Está grávida de mim, foi pra Pedreira Prados Lopes, ou perto da rodoviária. Desistiu do relacionamento, queria voltar para as drogas e me abandonou. Já liguei e pedi pra mãe dela para orar por ela. Eu consegui falar não para as drogas, ela já não consegue. Agora estou aqui, sozinho”, lamenta Fernando.
A placa
Na jornada das ruas, Fernando diz que chegou a ser vítima de trabalho escravo. Nas costas, ele exibe cicatrizes de facadas que levou, em uma das vezes que foi roubado. Ele conta que a placa pedindo emprego afixada na rua Álvares Maciel, é pra ele uma esperança para mudar de vida.
“Eu coloquei a placa porque eu cansei da mão do homem. Agora eu estou querendo a mão de Deus. Tentaram me levar para Nova Lima, em um trabalho escravo, carregava 60 litros de desinfetante nas costas sem ganhar nada. Eu queria mesmo uma oportunidade de Deus. Se alguém pudesse me dar um apoio. Eu não estou louco, só estou sem condição. Queria que alguém pudesse me dar a dignidade de homem que eu mereço, porque foi pra isso que eu vim na Terra”, desabafa.
Vizinhos torcem por Fernando
Nas redondezas da avenida Brasil, não é difícil encontrar alguém que torça para que o Fernando melhore de vida. É o caso da socióloga Maria do Carmo, 57.
“É um menino que a gente vê que ele está precisando de uma coisa muito simples: oportunidade. É um menino que está na rua, tentando construir a própria casa dele, em um país que tem dinheiro e luta por uma coisa básica, que é uma casa. É um menino muito bacana e quem puder oferecer um trabalho ou ajuda-lo seria muito bem vindo”, pede Maria do Carmo que morar em um prédio a poucos metros de onde Fernando fica.
A vendedora Ana Paula dos Santos, 35, trabalha nas redondezas e diz que o Fernando merece sair das ruas e ter uma casa digna para morar. “É um rapaz bem tranquilo, diferente dos demais. Ele mantém o local dele ali como se fosse uma casa, limpinho e organizado. Muito educado, ele não desfaz de ninguém e eu fico pensando como que ninguém ainda deu uma oportunidade pra esse rapaz?”, questiona.
Fernando não tem telefone de contato, mas está sempre da rua Álvares Maciel, próximo ao número 312, no bairro Santa Efigênia, na região Leste de Belo Horizonte, aguardando que alguém lhe dê uma oportunidade de emprego.