Medo da barragem

Moradores de Barão de Cocais temem rompimento: 'a gente não tem vida mais'

Rotina diária de moradores foi alterada desde a primeira evacuação, ocorrida ainda no dia 8 de fevereiro, duas semanas após tragédia em Brumadinho

Por Bruno Menezes (enviado especial a Barão de Cocais)
Publicado em 01 de junho de 2019 | 14:05
 
 
 
normal

Barão de Cocais. Desde o dia 8 de fevereiro deste ano, quando ocorreu a primeira evacuação de moradores que moram próximo à barragem sul superior da Mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, na região Central do Estado, que a motorista Emília de Jesus Gonçalves, 32, não para de pensar na segurança da família e do patrimônio. 

Moradora do bairro São Benedito, um dos primeiros que poderia ser atingido em um possível rompimento da barragem e com o rio São João passando a cerca de 30 metros de casa, ela conta que a rotina diária foi bastante alterada. 

“Desde 8 de fevereiro primeiro a gente pensa na barragem. Os documentos da casa da gente fica tudo no carro. Se a gente vai sair, deixa um vizinho avisado. Bolsa está pronta com algumas peças de roupas. A gente não recebe visita mais, a gente só fica em casa. Estamos prisioneiros, dentro das nossas próprias casas. A gente não tem vida mais”, disse explicou Emília de Jesus. 

Veja relato:

A moradora conta que precisa tomar remédios fortes para dormir, devido a um acidente que sofreu, entretanto deixou de fazer uso, com medo de que não acorde no caso de alguma tragédia pela madrugada. Seu maior medo é não conseguir sair a tempo de casa e salvar seu filho, de um ano e 10 meses. 

“Meu marido trabalha na mina de Sabará e desde a evacuação do dia 8 de fevereiro ele já perdeu vários dias de trabalho. Imagina a cabeça dele, deixar esposa, um filho de um ano e 10 meses, o pai que é hipertenso. Que cabeça a pessoa fica de ir trabalhar fora?”, questiona Emília de Jesus. 

Ela conta que tinha intenção de investir na reforma da casa, entretanto, com a dúvida sobre a estabilidade da barragem, desistiu da ideia. Com orgulho, ela também exibe o jardim no fundo de casa, com diversos tipos de plantas e lamenta que possa perdê-las. 

“Minha vida em primeiro lugar, mas isso daqui é patrimônio da gente. A gente lutou muito para conseguir. A casa própria da gente é o patrimônio que a gente trabalha demais para ter”, disse Emília de Jesus.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!