DO INTERIOR

Moradores de rua são migrantes em busca de trabalho

Em busca de oportunidades, muitas pessoas vem para Belo Horizonte mas acabam sem ter como voltar para suas cidades de origem de mãos vazias

Por JULIANA BAETA
Publicado em 22 de março de 2015 | 03:00
 
 
 
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Outra mudança constatada pelo Terceiro Censo da População de Rua da capital, é a falta de famílias nas ruas.

Em Belo Horizonte, 47,2% dos moradores de rua está nesta situação porque veio a capital em busca de trabalho, e sem conseguir uma oportunidade, não teve como voltar para a casa de mãos vazias. 39,7% da população em situação de rua migrou de cidades do interior de Minas para BH e, destes, 42,3%% veio da região Central. 

“Antes, a gente via famílias vivendo nas ruas, e hoje, a maioria dessas pessoas são solitárias", pontua o coordenador do CRR da UFMG Frederico Garcia. A principal consequência é que, com isso, muda-se a dinâmica de possibilidade de reinserção social.

Antigamente, a família vinha migrante do interior para BH para tentar uma vida melhor, e quando conseguia sair dessa situação, acabava puxando os familiares com ele. Com as pessoas cada vez mais solitárias, é menor a chance disso acontecer hoje. "A solidão associada ao envelhecimento dessa população também é alarmante, porque mostra que não vai ter ninguém para cuidar destas pessoas daqui há alguns anos”, pondera.

O morador de rua Manoel Raflik, de 43 anos, é um destes migrantes. Ele veio da Bahia à pé para Belo Horizonte, há cerca de dois anos, depois de perder a mãe e ficar na rua. “Demorou um mês e meio pra eu chegar. Fiz igual aquele livro “On the road”, do Jack Kerouac, sabe? Foi neste trajeto que parei de beber e fumar. Eu pinto e escrevo quadrinhos, e vendo na rua, quando preciso de alguma coisa. Sou meio Basquiat”, conta.

Ele também escreve romances autobiográficos e se apaixonou pela capital mineira. Segundo ele, morar na rua não é uma opção. "É falta de recursos", lamenta.

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