“Estamos nas mãos de Deus”. Foi assim que Warley Ferreira, presidente da associação de moradores do bairro Residencial Gualter Monteiro, em Congonhas, região Central de Minas, descreveu a sensação de desamparo diante da falta de respostas da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) sobre os riscos de rompimento da barragem da mina Casa de Pedra.

Após uma reunião na última sexta-feira com várias entidades locais ligadas à assistência social, psicologia, meio ambiente e outras áreas, os moradores pediram para serem removidos da área de risco pela CSN, além de receberem apoio psicológico. “Precisamos ser realocados enquanto acontece a retirada de rejeitos para evitar uma tragédia em caso de rompimento. Queremos ter a certeza de que poderemos voltar para nossas casas em segurança”, comentou Ferreira. A área da Zona de Autossalvamento, estabelecida pela CSN durante a construção da barragem, compreende, além do bairro Residencial, o Complementação Cristo Rei.

Consequências do medo. Segundo Ferreira, muitos moradores não conseguem dormir desde o rompimento da barragem em Brumadinho. Alguns estão procurando ajuda psicológica, crianças precisaram ser encaminhadas a profissionais e muitos idosos que usam remédios controlados para controlar a pressão, precisaram aumentar a dose.

“Como ela está acima e próxima do bairro, independente da condição técnica em que se encontra, o risco potencial é acontecer o mesmo que aconteceu com a população em Brumadinho, além disso, a barragem já passou por intervenções corretivas em 2013 e 2017”, explica Sandoval de Souza Pinto Filho, diretor de Meio Ambiente da União das Associações Comunitárias de Congonhas (Unaccon). Para ele, a empresa deveria apresentar imediatamente à população um diagnóstico claro do atual estado da barragem.

Escola e creche foram fechadas

A Prefeitura de Congonhas paralisou temporariamente as atividades da creche Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida e da Escola Municipal Conceição Lima Guimarães, localizadas no bairro Residencial. Os alunos e os professores da escola, que atende 120 alunos, serão transferidos para uma escola no bairro ao lado. Já os servidores da creche serão remanejados, mas não será possível realocar todas as 130 crianças, uma vez que o atendimento requer estrutura especializada.

CSN tenta tranquilizar a população

Procurada pela reportagem de O TEMPO, a CSN Mineração afirmou em nota que a barragem da mina Casa de Pedra foi construída a jusante, um método mais seguro que o da barragem de Fundão, em Mariana, e da barragem I, em Brumadinho.

A empresa garantiu ainda que investiu R$ 250 milhões na tecnologia de empilhamento a seco e que “até o fim de 2019, a empresa estará processando 100% do seu minério a seco, descartando a utilização de barragens para o processo produtivo”, diz a nota.

Apesar de salientar na nota que a “população de Congonhas pode ficar tranquila”, a mineradora não comunicou se a barragem será descomissionada, nem se a população que vive naquela área será retirada do local, como solicitou a associação de moradores do bairro Residencial Gualter Monteiro, na reunião realizada na última sexta-feira.