Quem vive nas proximidades de grandes avenidas e das linhas de metrô em Belo Horizonte está mais suscetível a ser internado por Covid-19 ou Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Os moradores de bairros próximos aos limites de BH com outras cidades também estão em maior risco de internação, é o que mostra a segunda edição do boletim “InfoCovid”, elaborado pelo Observatório de Saúde Urbana de Belo Horizonte (OSUBH), da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O grupo analisa a dinâmica da epidemia na capital quinzenalmente. Avaliando o número de internações por SRAG e Covid-19 até o dia 6 de junho, notaram que mais moradores de bairros como o Lindeia, na região do Barreiro, e o Jardim dos Comerciários, em Venda Nova, têm sido internados pela síndrome respiratória sem causa específica (quando ainda não houve exame, por exemplo) do que em outros locais de BH. O Lindeia é vizinho dos municípios de Contagem e Ibirité, enquanto o Jardim dos Comerciários se aproxima de Vespasiano. Eles apresentam o mesmo padrão de outros bairros nos limites da capital, o que sugere a pesquisadores que a interação com outras cidades próximas pode aumentar os casos de Covid-19 nesses locais.
“Foi um padrão distinto do resto da cidade e isso nos chama atenção. Mas, para confirmar o que está acontecendo, teríamos de estudar como se dá a relação com os municípios e o fluxo de pessoas de um local para outro”, pontua a epidemiologista e pesquisadora do OSUBH, Aline Dayrell. Ela explica que ainda não é possível cravar o porquê de mais pessoas nessas áreas estarem sendo internadas, mas que o dado é ponto de partida para futuras análises do observatório.
A região central da cidade, que têm concentrado confirmações da Covid-19, é outro foco de internações. Dayrell observa que os bairros com mais pacientes internados seguem o percurso das principais avenidas e da linha de metrô da cidade — muitas delas passando pela área central. É um fenômeno que replica a dinâmica global da pandemia, ela explica.
“Temos risco maior das pessoas que circulam contaminarem um morador do bairro, que contamina vizinhos e familiares. É como a pandemia em grande escala: ela veio de outros países e continentes e chegou ao Brasil por onde há mais fluxo de pessoas, como São Paulo e Rio de Janeiro”, aponta a pesquisadora. Em Belo Horizonte, em vez de o risco surgir em aeroportos, passaria pelas grandes vias da cidades, como a avenida dos Andradas, a avenida Afonso Pena, a avenida Amazonas, a avenida do Contorno, a avenida Pedro II e a avenida Teresa Cristina.
Mais uma hipótese que o grupo de pesquisadores vai testar é se bairros com mais internações concentram população idosa, o que indicaria que há mais moradores no grupo de risco da Covid-19.
Apesar de o estudo se deter nas internações — ou seja, nos casos mais graves da doença — Dayrell assinala que isso pode significar mais casos em geral de contaminação por coronavírus nos locais. O relatório mostra, ainda, que o número de internações por SRAG não especificada é sete vezes maior que o número de internações com diagnóstico já confirmado para Covid-19. “Com certeza parte desses casos é Covid-19. Não tem como 100% não serem especificados. Vemos a grande limitação de testagem”, destaca Dayrell.
Flexibilização do comércio de BH ainda não se reflete nos dados da pesquisa
A flexibilização das atividades comerciais em BH se iniciou no dia 25 de maio, e os dados avaliados pelo OSUBH vão até o dia 6 de junho. O intervalo, segundo Dayrell, é insuficiente para notar os efeitos da abertura do comércio sobre as informações. Desde a retomada das atividades, a ocupação de leitos da capital aumentou, ultrapassando os 80%, e a epidemiologista espera ver reflexos do cenário na próxima publicação do observatório, prevista para daqui a duas semanas.
A pesquisadora suspeita que, mesmo antes da retomada oficial do comércio, bairros onde havia mais locais abertos irregularmente podem ter assistido a acréscimo dos casos. Se a hipótese for confirmada pelo grupo no futuro, pode ser outro fator para explicar a alta nas internações: “Tivemos norma para fechamento da maioria dos comércio em BH no começo da pandemia, mas até que ponto a fiscalização foi efetiva e o comércio de fato fechou? Ainda sem dados, observamos, circulando, que em alguns bairros o comércio continuou funcionamento quase normalmente”, destaca.
Confira os dez bairros com mais internações por SRAG não especificada e Covid-19 em BH
1 - Vera Cruz, região Leste: 51 internações
2 - Santa Efigênia, região Leste: 46 internações
3 - Padre Eustáquio, região Noroeste: 45 internações
4 - Mantiqueira, região Venda Nova: 39 internações
5 - Lindéia, região Barreiro: 37 internações
6 - Serra, região Centro-Sul: 32 internações
7 - Jardim dos Comerciários, região Venda Nova: 31 internações
8 - Céu Azul, região Venda Nova: 30 internações
8 - Sagrada Família, região região Leste: 30 internações
8 - Vista Alegre, região Barreiro: 30 internações
9 - Centro: 29 internações
10 - Carlos Prates, região Noroeste: 28 internações

FONTE: MAPA DIVULGADO PELA PREFEITURA DE BELO HORIZONTE SOBREPOSTO AO MAPA COM OS BAIRRO DA CIDADE.