Com cinco cidades da região do Campo das Vertentes com as escolas fechadas devido à apuração das causas da morte de três crianças ocorridas em São João del-Rei, o secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti, defendeu que as medidas adotadas não são "efetivas" e que servem para "alimentar" preocupação e pânico entre os pais. A afirmação foi feita pelo secretário nesta quinta-feira (26 de outubro) em entrevista a O TEMPO.
"Essa desinfecção de escolas também, ela não surte nenhum efeito, uma vez que a bactéria vai voltar na boca das crianças. Não é como a Covid, por exemplo, que a gente ficava naquele isolamento. Isso aí (infecção por streptococcus) faz parte do dia-a-dia. O efeito prático é muito pequeno, porque as bactérias fazem parte da flora das pessoas. Então, se você limpa a escola naquele momento, ela vai voltar vai voltar", afirmou.
Outra ação que foi criticada pelo secretário estadual de saúde foi a aquisição pelo município de São João del-Rei de mais de 3.700 testes rápidos para detecção da bactéria streptococcus. "Não existe motivo para se inserir tantos testes, já que a amigdalite bacteriana possui diagnóstico clínico. O médico analisa a garganta da criança, diagnostica e prescreve antibiótico. Não estou falando que o teste não é importante, mas que essas ações (fechamento de escolas e aquisição de testes) retroalimentam essa desinformação", afirmou.
Ainda segundo Baccheretti, a grande comoção e preocupação dos pais não têm "base científica". "Isso nos preocupa, pois, com a força que as redes sociais têm hoje, se torna um desafio muito grande apesar da não existência de nenhuma anormalidade em relação ao que vem acontecendo", completou Baccheretti.
O TEMPO procurou a Prefeitura de São João del-Rei, que foi a primeira das cinco cidades que fecharam suas escolas, mas, até a publicação desta reportagem, o município ainda não havia se posicionado sobre a fala do secretário estadual de saúde.
Ainda durante a entrevista, o secretário de Estado de Saúde afirmou que a amostra da criança de 10 anos que morreu na última segunda-feira (23) sob suspeita de infecção bacteriana no município mineiro, até o momento, não apresentou resultado que indique para presença de qualquer bactéria.
"Por enquanto, não houve crescimento de nenhuma bactéria na cultura que está sendo feita. Mas podemos afirmar que, até agora, não temos nenhum óbito relacionado a essa bactéria, a streptococcus", garantiu.
Questionado sobre quais medidas estão sendo adotadas pelo Governo de Minas diante do problema, Fábio Baccheretti destacou que já está ocorrendo a capacitação dos médicos e demais trabalhadores da saúde da cidade. O objetivo é garantir que o diagnóstico ocorra precocemente e o tratamento com antibióticos seja iniciado.
"Estamos acompanhando os óbitos e fazendo todos os testes para entender, principalmente, se existe algum ponto para ser discutido, por exemplo, dentro da assistência realizada na região, se existiu alguma falha ou demora no diagnóstico para ocorrerem estas mortes por bactérias comuns e que já possuem tratamento eficaz", disse.
Por fim, o secretário alerta para o risco de o pânico causado nos pais ocasionar um desequilíbrio que pode afetar o atendimento às pessoas que têm doenças mais graves, como problemas cardíacos e AVC's, por exemplo. "Isso aumenta a demanda nas UPA's, onde temos parcientes realmente urgentes", finalizou.