Custo de vida

Novo aumento do gás de cozinha afeta em cheio a vida dos mais pobres em BH

Famílias que atualmente sobrevivem exclusivamente com o auxílio do governo na capital mineira e região metropolitana precisam escolher entre comprar comida ou botijão

Por Alice Brito
Publicado em 11 de março de 2022 | 15:04
 
 
 
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Com o aumento do custo de vida, a cabeleireira desempregada Amanda Mariane da Silva, de 32 anos, aprendeu a economizar  ao extremo para garantir a sobrevivência dela, e do filho, de 6 anos. Os dois moram em um cômodo emprestado, em uma ocupação, no bairro Maria Goretti, na região Nordeste de Belo Horizonte. Eles sobrevivem, atualmente, com uma renda de pouco mais R$180, provenientes do auxílio bolsa família. Por isso, na casa da mulher, a comida e o gás de cozinha são consumidos, há tempos, de forma regrada para não faltar.  

E mesmo já contando com um orçamento familiar arrochado a desempregada terá que ‘apertar ainda mais o cinto’. É que nesta sexta-feira (11), o gás teve mais uma alta. Na capital mineira e na região Metropolitana, o preço médio do botijão de 13kg é de R$ 110

De acordo com o presidente do site Mercado Mineiro, Feliciano Abreu, a alta no preço do produto promete afetar em cheio não só a vida da cabeleireira desempregada, mas de todas as famílias mais pobres. Com isso, o item essencial na cozinha já abocanha o equivalente a 9,07% da renda total da família assalariada.  

“A renda da família assalariada, e das que recebem menos ainda, vai ficando cada vez mais comprometida com os gastos básicos. As famílias mais pobres estão passando dificuldade para cozinhar. Infelizmente, o jeito para tentar driblar esses sucessivos aumentos é reduzir ao máximo o consumo do produto e antes da comprar pesquisar sempre o preço”, pontuou Feliciano. 

 Impacto é ainda maior no orçamento 

Já na casa de Amanda, o impacto do aumento do item é ainda maior: de 61%. Por isso, para comprar um botijão novo para garantir comida cozida no prato do filho, todos os dias, a desempregada terá que fazer concessões. Ela vai comprar menos comida.  

 “Já acordei pensando em bolar maneiras para conseguir garantir a compra de um gás novo, depois do aumento. Pensei, já para o próximo mês, comprar menos comida, tirar do auxílio bolsa família que recebo uma quantia para comprar pipoca doce para vender na rua. Vou guardar o dinheiro da venda do doce para o botijão novo. Acho que assim vai dar”, contabilizou a cabeleireira desempregada.  

Plano B. E para o gás durar mais tempo, a mulher já arquitetou um plano. A partir de agora, ela vai optar pela compra de alimentos mais fáceis para cozinhar, e ainda vai acompanhar ao lado do fogão o cozimento da comida. 

“O jeito será regrar ainda mais o uso do gás. Vamos comer alimentos mais fáceis de cozinhar e optar por outros que não precisam do gás para serem consumidos, como é o caso do biscoito. O que não dá é ficar sem comer”, disse a desempregada.  

Apoio às famílias de baixa renda 

 A Petrobras irá realizar, no primeiro trimestre desse ano, a doação de mais de 50 mil auxílios para compra de gás de cozinha e de cestas básicas para famílias em situação de vulnerabilidade social que vivem no entorno de unidades operacionais da empresa, em dez estados do país. A ação teve início em janeiro e faz parte do programa social de acesso ao gás de cozinha (gás liquefeito de petróleo – GLP). Para o programa a Petrobras prevê destinar R$ 300 milhões até o fim desse ano. O programa deverá atingir até 4,2 milhões de pessoas, direta e indiretamente. 

 "As doações estão sendo realizadas em conjunto com instituições sem fins lucrativos que são parcerias da companhia na realização de projetos socioambientais. No momento, 22 instituições estão envolvidas com as entregas de gás de cozinha e cestas básicas nos estados do Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Essas ações, que seguem até março, são contempladas pelo montante de R$ 30 milhões que foram destinados inicialmente, no final de 2021, dos R$ 300 milhões totais previstos para o programa", pontuou a nota. 

O que as pessoas estão fazendo para economizar gás? 

A reportagem de O Tempo percorreu as ruas de Contagem, na região Metropolitana e ouviu dicas que prometem ser infalíveis para a economia do item doméstico: 

“Ligo a chama do fogão bem baixinha.” 

Regina Neves, de 66 anos, doméstica aposentada – moradora do bairro Riacho 

 

“Cozinho no fogo baixo e funciona, economiza mesmo.” 

Ângela Maria, de 65 anos, Aposentada - moradora do bairro Industrial 

 

“Antes de preparar o feijão o deixo de molho. Só cozinho o alimento uma vez na semana e no fogo baixo.” 

Neuza Maria Martins, de 60 anos, doméstica - moradora do bairro Riacho 

 

Dicas do especialista 

  De acordo com o economista Carlos Eduardo Costa, uma boa saída para gastar menos o gás de cozinha, é evitar o uso do forno do fogão e aquecer a comida no micro-ondas.

"Usar o forno elétrico e o micro-ondas pode ser a solução para economizar gás e fazê-lo durar por mais tempo", explicou.  

  Simulação 

 O economista simulou o gasto de gás de uma família, de quatro pessoas. Para o cálculo, o especialista considerou: o café preto da manhã feito no fogão, o almoço aquecido no micro-ondas e a janta feita no fogão. Na refeição noturna, o cardápio é arroz, feijão e frango. 

  Uso do fogão - Fogo baixo  

 Qual o gasto? - 1 botijão a cada 45 dias  

 Valor médio: R$ 80 mensais gastos com gás de cozinha  

 Impacto no salário mínimo - R$ 1.212 : 9,7%  

   

Para economizar:  

  - Evite abrir o forno 

 - Use o forno só quando for estritamente necessário 

 - Mantenha o fogão limpo. Chamas amarelas e laranjas indicam que as boas estão sujas e o fogão precisa se "esforçar mais", gastando mais gás 

 - Use as bocas do fogão adequadamente. Coloque panelas pequenas em bocas pequenas, etc. 

 - Use a panela de pressão quando possível 

 -Deixe os alimentos mais duros de molho, antes do cozimento 

 - Evite a passagem de vento. Feche as janelas 

 - Aproveite o vapor para cozinhar outros alimentos, como legumes  

 - Tampe as panelas 

 - Corte os alimentos em pedaços menores 

 

Variação do preço do gás de cozinha para entrega  -  BH por região

Barreiro - R$110 e R$112

Centro-Sul - R$102  

Leste - R$102 a R$ 115 

Nordeste - R$105 a R$120 

Noroeste - R$108 a R$121,90 

Norte - R$113 a R$120 

Oeste - R$103 a R$125 

Pampulha -  R$110 a R$135

Venda Nova - R$ 115 

 

 Variação do preço do gás de cozinha para entrega  -  região Metropolitana

Betim - R$ 110 

Contagem  - R$ 108,90 a R$ 118 

Ribeirão das Neves - R$ 102 a R$ 108 

Sabará  - R$115 

 

 Fonte: Economista Carlos Eduardo Costa, pesquisa direta e Site Mercado Mineiro 

 

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