Mudanças

Outro lado da cidade: falta de circulação por pandemia mostra novas faces de BH

Locais como praças e parques já evidenciam, mais do que o vazio, o que aparece quando não há ninguém

Por Daniele Franco
Publicado em 16 de abril de 2020 | 03:00
 
 
 
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A prevenção contra o novo coronavírus não somente impõe uma nova rotina às pessoas, mas também mostra novas faces de cidades que se modificam sem a interferência humana. O fechamento de praças em Belo Horizonte – entre elas a praça da Liberdade – para impedir que os cidadãos circulem nos locais nesta época de pandemia é um dos exemplos das mudanças causadas pela restrição.

Para além do gradil instalado como barreira física, outros detalhes podem ser observados nos espaços. Na praça da Liberdade, a vegetação já começa a crescer onde antes era impedida, tanto por pessoas andando sobre ela quanto pelo serviço de manutenção do local.

Esse processo de manutenção, para o arquiteto, urbanista e pesquisador Sergio Myssior, depende muito da circulação de pessoas. "Claro que a cidade da forma em que está não se sustenta em longo prazo, porque a segurança e a manutenção dos espaços públicos estão ligadas à presença das pessoas nas ruas", explica.

A arquiteta e urbanista Cecília Fraga concorda com a necessidade de manuteção dos espaços. "É preciso que o poder público consiga propor uma escala para manter a segurança dos trabalhadores, mas que mantenha uma rotina de manutenção dos espaços de convívio para que, assim que acabar a pandemia, a população consiga voltar a desfrutar desses locais", aponta.

Rotina

A falta de circulação afeta profundamente diversos aspectos das cidades, e os destacados por Cecília são as alterações nos horários e fluxos dos espaços urbanos. "Primeiro você não tem mais ninguém na rua, não tem mais trânsito, por outro lado você tem que se preocupar com a segurança em um cruzamento, então a dinâmica em relação a horários e fluxos fica totalmente perdida", conta.

Myssior, no entanto, ressalta que as pessoas buscaram formas e têm se reinventado nesse processo e que "é importante que a cidade também procure novos caminhos para levar aquilo que tinha nas ruas para outras formas de relacionamento". E para Cecília, é uma oportunidade de o poder público implementar novas formas de relacionamento com o povo, por meio de plataformas digitais.

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Pesquisador de cidades sustentáveis, Sergio Myssior ainda destacou que um conceito da década de 1960, da jornalista Jane Jacobs, aponta a presença de pessoas como o grande termômetro da vitalidade das cidades, tanto no ir e vir quanto na movimentação econômica, mas que a pandemia tem mostrado um novo lado dessa realidade. "E tem sido extraordinário descobrir que a cidade tem um potencial que se manifesta não só nas ruas, mas também em uma rede virtual, através das fibras óticas e infovias, e ressignifica o conceito de manutenção dessa vitalidade das cidades", conclui.

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