Aos 76 anos, o aposentado Marcelino Rosário de Almeida começou a ter problemas respiratórios ainda na infância. Há dois anos, ele pega os medicamentos na Farmácia de Minas e, a partir desta quinta-feira (30), passa a receber o remédio em casa, no bairro São Bento, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. A ação visa evitar que usuários com asma e portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) fiquem expostos em filas, o que pode aumentar o risco de disseminação do coronavírus.
A entrega domiciliar, iniciada nesta semana, foi possível após uma parceria entre o governo de Minas Gerais e a empresa de aplicativo 99, que disponibilizou R$ 300 mil em vouchers para deslocamentos.
“Primeiro tem o agendamento dos pacientes na farmácia. Perto da data do retorno desses pacientes, a gente liga para fazer a confirmação se vai ter alguém em casa. A preparação começa um dia antes: fazemos a separação dos medicamentos, e, no dia da entrega, os motoristas e entregadores pegam as caixas e saem para as rotas”, explicou Cecília Franklin Ferreira, coordenadora do Projeto Medicamento em Casa.
As entregas acontecem das 9h às 16h. Nesta semana já foram realizadas quase 200 entregas.
“Antes das entregas, os objetos utilizados são esterilizados. A gente já pede para os pacientes receberem os entregadores com a identidade na mão para conferência. Só pessoas previamente cadastradas podem receber esses medicamentos no lugar dos pacientes. Ao todo, 25 pessoas, entre motoristas, funcionários da farmácia e recrutas da Polícia Militar, participam do projeto”, detalhou.
A reportagem de O TEMPO acompanhou a entrega do medicamento de Almeida nesta manhã. Por volta das 8h30, as caixas com os remédios da rota de hoje saíram de um prédio no centro de Belo Horizonte. Em menos de 15 minutos, o medicamento chegou ao prédio do aposentado, que recebeu os entregadores na porta.
“Eu tenho bronquite asmática crônica e DPOC. Os problemas se manifestaram ainda na infância, mas, na juventude, passaram. Depois voltou na época em que trabalhava. Há dois anos pego o medicamento na Farmácia de Minas. O atendimento na farmácia é muito bom, mas lá é desgastante, porque a gente não fica menos de duas horas esperando. A aglomeração agora é problemática, essa iniciativa é ótima”, disse o aposentado.
Ele mora com a companheira e, em 40 dias cumprindo o isolamento social, saiu de casa apenas três vezes, para ir à farmácia, que fica a um quarteirão do imóvel do casal.
“Antes, eu levava e buscava meus netos na escola. São as funções de avô, mas agora fui cortado. Se Deus quiser, vai passar rápido. Vamos torcer para que isso termine o mais rápido possível”, finalizou.
Projeto-piloto
O projeto-piloto foi anunciado no dia 13 de abril pelo governador Romeu Zema e, a princípio, atende Belo Horizonte e Juiz de Fora, na Zona da Mata. Um levantamento realizado pelo governo apontou que na capital mineira são 1.682 potenciais pacientes portadores de asma e DPOC. Já em Juiz de Fora, há 730 potenciais pacientes com asma, hipertensão pulmonar e portadores de DPOC.
A iniciativa, após ajustes operacionais, deve ser estendida para outras 25 cidades em que há atuação do aplicativo. As primeiras contempladas, nas próximas semanas, devem ser Uberlândia, no Triângulo, e Divinópolis, na região Centro-Oeste.
Quem não faz parte do projeto
Para os demais usuários não inclusos no público-alvo do projeto, a Secretaria de Estado de Saúde esclareceu, por meio de nota, que as farmácias permanecerão em funcionamento. O governo frisou, porém, que as pessoas não devem comparecer aos locais sem que tenham horário agendado, uma vez que a maior parte das filas ocorre devido aos pacientes que comparecem espontaneamente nas farmácias, sem horário agendado.
Nas últimas semanas, a reportagem de O TEMPO acompanha constantemente as longas filas formadas na porta da Farmácia de Minas, na avenida do Contorno.