Depois de viajar mais de 500 km até Brumadinho, na região metropolitana, o técnico em informática Alex Sandro da Silva, 44 anos, morador de Ribeirão Preto, em São Paulo, recebe, ouve e conforta, voluntariamente, no Espaço do Conhecimento, parentes das vítimas do rompimento da Barragem I da mina Córrego do Feijão. A estrutura é destinada ao cadastro de desaparecidos do desastre.

Engajado em trabalhos voluntários há 24 anos, Silva deixou dois filhos e a mulher no Estado de origem para prestar suporte a quem classificou como necessitados. "Cheguei na quinta, mas, desde o dia que (a barragem) caiu, estou recolhendo recursos como água e produtos de limpeza que já foram entregues no fim de semana passado. Minha família deu todo o apoio, porque sabe que essas pessoas precisam de suporte", explicou.

O técnico em informática diz ter perdido a conta do número de pessoas ligadas aos atingidos com quem falou nos últimos três dias, mas garante que, em muitos casos, palavras são substituídas por abraços. "Tinha uma senhora que chorava tanto, ela nem respirava direito. O filho está desaparecido. Pedi a ela que se acalmasse, para tentar ficar em paz para seguir. Ela me respondeu que a paz tinha sido roubada com o sumiço- e provável morte do filho- e que só o encontro dele, mesmo que só o corpo, daria descanso para a alma dela. Eu não tive o que dizer. A abracei até que ela voltasse a si", lembrou.

A inspiração para tentar trazer alento aos parentes das vítimas vem, segundo o voluntário, de experiências anteriores. "A gente tenta, pelo exemplo, contar alguma história de superação, de alguém que já passou por algo parecido. Para mim, está sendo um desafio, porque nunca vi uma tragédia dessa proporção. Mesmo preparado, estou aprendendo", afirmou. Desde que chegou a Brumadinho, a jornada solidária de Silva no Espaço Conhecimento dura, em média, 12 horas diárias. "Fico pelo menos até a próxima quarta-feira (6), o máximo de horas que for possível".

 

Quadra se transformou em quarto

As noites de sono do técnico em informática Alex Sandro da Silva têm sido bem diferentes da realidade dele na cidade natal. "A Vale disponibilizou colchões que ficam ali na quadra, onde dormem os voluntários. Banho e sanitários são aqui no complexo. A alimentação também é fornecida por eles. O restante é por minha conta. Totalmente voluntário".