Ponto tradicional do comércio do bairro Floresta, na região leste de Belo Horizonte, a Casa Eure (conhecida loja de utensílios domésticos e louças) fechou as portas na semana passada após 73 anos de funcionamento.

Foi mais um dos comércios de rua conhecidos da capital e da Região Metropolitana impactado pelo aumento da disseminação dos casos do novo coronavírus desde o início do mês de junho. 

Outros conhecidos estabelecimentos de diferentes setores, como o Guaja e o Mercado da Boca, já haviam anunciado o fim das atividades por causa dos prejuízos causados pela pandemia nas últimas semanas. 

Fundada em 1947 e sempre em funcionamento no mesmo endereço (na rua Itajubá, esquina com a avenida do Contorno), a Casa Eure fechou as portas de forma permanente depois de cinco anos sobrevivendo com dificuldades em meio à crise econômica que atingiu o Brasil desde 2015. Com a pandemia, a queda nas vendas foi fatal. 

No podcast Tempo Hábil Entrevista: Como a pandemia do novo coronavírus é afetada pela crise das instituições

 

Nos últimos cinco anos, a crise econômica já havia afetado de forma significativa vários setores do comércio na capital, com fechamento de pontos tradicionais, como a Bendita Gula e Villa Vittini. Neste ano, outros pontos famosos da capital entraram em crise e sofrem para manter as atividades durante a pandemia da Covid-19. 

O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de BH, Marcelo de Souza e Silva, avalia que muitos pontos tradicionais da cidade não conseguem migrar para o mercado digital e sobrevivem graças aos clientes fiéis e aos clientes que gostam de ver, pegar e experimentar os produtos pessoalmente antes de fazer as compras. 

“Temos na cidade um mercado muito forte de comércio de rua, com comerciantes que não conseguiram com facilidade adotar as vendas on line. Grande parte das vendas acontece com as pessoas que veem os produtos e lembram das marcas. Enfrentamos um momento muito complicado para milhares de comerciantes e seus empregados”, conta Souza. 

Segundo levantamento da CDL-BH cerca de 30% dos comércios da capital serão fechados por causa da pandemia do coronavírus, o que levará ao fim de mais de 150 mil postos de trabalhos diretos na cidade. 

“Temos muitas empresas que não vão voltar a funcionar. Quem está fechando as portas temporariamente vive as incertezas sobre o que fazer com estoques, se existe algum planejamento para a reabertura gradual. Nas últimas semanas aumentaram as ligações de comerciantes avisando que vão demitir seus funcionários. Eram pessoas que estavam segurando como podiam, pensando que haveria uma retomada gradual após dois meses de fechamento. Agora a situação se tornou mais complicada ainda”, explica o presidente da CDL. 

Após aumento dos casos de contaminação e da ocupação de leitos nos hospitais de BH, a prefeitura decidiu retomar as restrições do funcionamento na cidade. A medida desagradou várias entidades empresariais e lojistas da cidade, que cobram um planejamento para a flexibilização do comércio.

Para o presidente da CDL, os próximos meses serão de grande instabilidade e dificuldade para o comércio de BH. "O segundo semestre, esperamos que seja de alguma recomposição, mas não teremos como recuperar as perdas totais. As vendas dependem muito da confiança e de um cenário que envolve vários setores da economia", explica.