HOSPITAL DAS CLÍNICAS

‘Peito sai leite, e ela diz que a filha quer mamar', fala tia da bebê decapitada

Bebê teve a cabeça arrancada durante parto em Belo Horizonte; mãe ainda se recupera do trauma, bastante abalada

Por Isabela Abalen
Publicado em 08 de maio de 2023 | 16:36
 
 
 
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“O peito da minha irmã está saindo leite. Quando sai, ela chora, diz que é a menina querendo mamar”. A fala é de Aryane Santos, de 32 anos, tia da bebê que teve a cabeça arrancada durante parto no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no bairro Santa Efigênia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. 

Segundo ela, a mãe da pequena, Ranielly Coelho, de 34 anos, está sofrendo muito com a perda da menina, que se chamava Manuelle Vitória e é sua segunda filha. “Mentalmente, não tenho nem palavras para descrever. Minha irmã só sabe chorar. Não consegue dormir. Quando consegue, acorda assustada, achando que está escutando um grito”, conta, lamentando. 

“Além disso, ela está muito inchada, com água saindo pelos poros. Mal consegue andar por causa dos 60 pontos. Seu peito dá leite, e isso é muito triste, é um gatilho”, continua a irmã. “Nós estamos pesquisando formas de secar o leite, para que doa menos”. A grande quantidade de pontos foi necessária por causa de um rasgo feito por um bisturi pela equipe médica. A paciente terminou com uma grande ferida.

Para toda a família, o luto se repete todo dia. “É uma dor tão forte que, a todo momento, você chora. Toda hora você pensa na menina. Cadê o bico? Cadê a mamadeira? Estão aqui. Mas não tem neném”, se emociona. “Tudo por um erro. Não houve sequer uma explicação”, continua. 

Entenda o caso 

A morte de uma bebê na hora do parto, supostamente após ter a cabeça arrancada pela médica no Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte, é investigada pela Polícia Civil. O caso aconteceu no último dia 1º de maio e foi denunciado neste domingo (7 de maio) a O TEMPO pela família da criança, que está completamente abalada.

A mãe da criança, uma mulher de 34 anos, registrou um boletim de ocorrência após a morte do filho no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no bairro Santa Efigênia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. 

De acordo com o registro, feito dois dias depois pela Polícia Civil, a gestante contou que estava com 28 semanas e apresentou um quadro de pressão alta. Por causa disso, ela ficou internada na unidade de saúde, onde foi optado pelo parto induzido. 

O pai da criança e a mãe da grávida acompanharam o parto. O homem relatou para a polícia que viu o rosto de sua filha. Ele disse também que percebeu que a pequena mexia a boca e os olhos, mas que, momentos depois, viu que a médica tinha arrancado a cabeça da criança. 

Ainda na versão dos familiares à polícia, a médica pediu desculpas e a assistente social da unidade de saúde disse que o hospital arcaria com todos os custos do sepultamento. A necropsia da bebê também teria sido feita no hospital, e o corpo não teria sido encaminhado ao Instituto Médico-Legal (IML) após a morte.

“Com a ocorrência, conseguimos a remoção do corpo do hospital para o IML. O hospital não queria liberar para que a família fizesse qualquer procedimento, inclusive enterro e velório, por que eles falaram que eles lidariam com essa situação do sepultamento. Amanhã (nesta segunda-feira) sai o resultado preliminar da necropsia e também uma guia preliminar para a mãe da criança. Ela está com mais de 60 pontos, não consegue andar e está muito mal psicologicamente”, explicou a advogada Aline Fernandes, que representa a família da vítima.

Ainda segundo o registro no boletim de ocorrência, familiares acompanhavam o parto através de um vidro. Eles teriam presenciado a médica subindo sobre a barriga da mãe enquanto puxava a criança, que, ao nascer, teve a cabeça arrancada do corpo. Conforme a advogada da família, a criança, inclusive, teria tido a cabeça costurada para que a mãe pudesse carregá-la.

A reportagem de O TEMPO procurou a assessoria de imprensa do Hospital das Clínicas (HC). Por meio de uma nota, a unidade de saúde, que é administrada pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), lamentou o ocorrido e disse que "se solidariza com a família neste momento de luto".

"O HC e a EBSERH empenharão todos os esforços para apuração dos fatos e análise do caso e apoio à família", concluiu o texto divulgado pelo hospital. As defesas das médicas não foram localizadas pela reportagem. 

O que diz a Polícia Civil?

Por meio de uma nota, a Polícia Civil confirmou que instaurou um inquérito para apurar as "causas e circunstâncias" do ocorrido. "A PCMG esclarece que procedimentos estão sendo realizados com o intuito de elucidar o caso. Tão logo seja possível, outras informações serão divulgadas".

O que diz o CRM-MG?

O Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) afirmou que irá investigar o caso. "Em resposta a sua solicitação, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) informa ter tomado conhecimento, pela imprensa, de desfecho desfavorável em parto realizado em Belo Horizonte, e vai instaurar os procedimentos administrativos necessários à  apuração dos fatos.

Todas as denúncias recebidas, formais e de ofício, são apuradas de acordo com os trâmites estabelecidos no Código de Processo Ético Profissional (CPEP), tendo o médico amplo direito de defesa e ao contraditório. Em conformidade com o CPEP todos os processos correm sob sigilo."

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