Entre 2013 e 2023 a população em situação de rua de Belo Horizonte passou de 1.827 para 5.344, um número praticamente três vezes ou 192% maior. Destas 3.517 novas pessoas na situação, 35% passou a viver nas ruas da capital mineira após o início da pandemia de Covid-19, em 2020. Os dados são do Censo Pop Rua 2022, realizado pela Faculdade de Medicina da UFMG a pedido da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH). 

Os primeiros números da pesquisa, que serão o ponto de partida para as políticas públicas voltadas para esta população de BH nos próximos anos, foram divulgados na manhã desta quinta-feira (9 de fevereiro) durante coletiva de imprensa na Faculdade de Medicina da UFMG. 

Samuel Rodrigues, do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), garante que a pandemia contribuiu, e muito, para o aumento desta população. "Várias dessas pessoas estavam trabalhando informalmente e, com a pandemia, isso dificultou de conseguir estes trabalhos. O que a gente ouve deles é que eles só estão ali por falta de uma política complementar. E, com o censo, o que a gente busca é isso, uma política conjunta entre as secretarias para discutirmos uma forma eficaz de tirarmos essas pessoas das ruas", afirmou. 

Os moradores de rua da capital são, em sua maioria, homens (84%) com idade média de 42,5 anos. Já as mulheres (16% do total), tem cerca de 38,9 anos. Um outro número que se destacou no levantamento foi o aumento no tempo em situação rua dessa população, que passou de 7,4 anos em 2013 para 11 anos agora. 

Coordenador do Censo, o professor Departamento de Saúde Mental da UFMG, Frederico Garcia, destacou durante o evento que a acertividade do número obtido pela pesquisa pode ser verificado pelos dados de usuários ativos da PBH, como atendimentos de saúde e vacinação dessa população. 

“Essa coincidência funciona como um validador externo. Podemos dizer que o número de fato encontrado tem alto grau de certeza e está dentro da faixa esperada”, afirmou o profissional.

Reformulação das políticas públicas

Ainda segundo ele, as informações qualitativas do levantamento serão importantíssimas para a adequação das atuais políticas públicas da cidade. “Um dado importante foi o envelhecimento dessa população. A idade média está crescendo e, daqui a 10 ou 15 anos, esse será um desafio grande para a PBH", pontuou. 

O aumento no relato de problemas de saúde mental entre o grupo também foi destacado pelo pesquisador. "Esses dados vão ajudar a prefeitura a atualizar a sua atuação, para agir de acordo com o Estatuto do Idoso e na promoção de saúde e prevenção de transtornos mentais entre crianças e adolescentes”, defendeu Garcia.

Segundo a secretária municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania, Rosilene Rocha, estes foram apenas os dados iniciais, mas o estudo completo deverá ser divulgado em breve.

"Certamente o prefeito Fuad Nomam deve convocar uma nova coletiva para apresentar o resultado completo e trazer as atualizações nas políticas de BH", disse. 

O Censo Pop Rua 2022 apontou ainda que os problemas familiares são o principal motivo para que estas pessoas fossem viver nas ruas, sendo a causa apontada por 36,7% dos 2.507 moradores ouvidos. Em seguida aparece o uso de álcool e outras drogas (21,9%) e desemprego (18%).