A pergunta parece ser simples de responder, mas não é. Vários fatores fizeram com que Belo Horizonte tenha tido mais casos de coronavírus que o interior de Minas, movimento que agora se inverte. A localização do aeroporto internacional, tal como acontece nos grandes municípios, que já têm uma circulação maior de pessoas, e até mesmo a migração dos moradores para as cidades menores são alguns dos motivos que explicam as mudanças nos rumos da pandemia.
Essa inversão acontece não só em BH e no interior de Minas, mas em todo o Brasil. “Como uma pandemia que teve sua origem em outros países, é normal que as capitais tenham os primeiros casos, devido à presença de aeroportos internacionais. A prefeitura de Belo Horizonte foi muito atuante no sentido de enrijecer as regras de isolamento social. Isso ajudou a curva da capital a sair da sua tendência de crescimento exponencial. É provável ainda que já tivéssemos casos se formando durante o Carnaval”, explica o professor Gilvan Guedes, do Departamento de Demografia e Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (Cedeplar) da UFMG.
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O primeiro decreto de isolamento social, publicado pela prefeitura de BH no dia 18 de março, fez com que a curva de crescimento de casos decrescesse ao longo do tempo. Nesse primeiro momento, o interior, em contrapartida “continuou com poucos ou nenhum caso, gerando uma sensação incorreta de segurança”. “Outras pessoas com vínculo com o interior também deixaram a região metropolitana de Belo Horizonte. Fluxos de pessoas têm o potencial de carregar o vírus. Esse cenário ajuda a entender o que acontece hoje no interior”, elucidou o professor Guedes.
Novos cenários
Cidades que endureceram a quarentena e, agora, partem para um momento de afrouxamento de normas devem estar preparadas para todos os cenários, que vão desde a estabilização até o crescimento exagerado de novos casos. Belo Horizonte, por exemplo, se prepara para um processo de flexibilização, que deve começar no próximo dia 25.
“Vemos que, em cidades com maior rigidez, a curva epidêmica cresce mais lentamente. Nos locais com maior flexibilização, o efeito tem sido de aceleração de novos casos. O exemplo emblemático foi Blumenau, em Santa Catarina, que verificou uma forte aceleração de novos casos após a abertura de um shopping. Outro indicador importante, que é a taxa instantânea de reprodução, R(t), já tem se mostrado reativo à diminuição do isolamento social. Cálculos da série dessa taxa têm mostrado um início do aumento de seu valor coincidente com uma queda do nível isolamento social”, finalizou o professor da UFMG.
Mudanças nas curvas
A partir do último dia 2, Minas Gerais começou a aumentar o número de casos novos em relação ao que vinha ocorrendo. As figuras abaixo representam a evolução dos casos confirmados segundo diferentes tipos de agrupamentos locacionais. O gráfico abaixo compara a situação em BH, região metropolitana (exceto BH), nas cidades do Colar Metropolitano e os demais municípios do estado.
"Percebemos que no dia 22 de abril o total de casos dos demais municípios mineiros ultrapassa Belo Horizonte, mas o ritmo de crescimento tanto de BH quanto da RMBH voltou a se acelerar os últimos dias. O efeito do isolamento é notado a partir do dia 20 de março, que combina exatamente com os dois decretos (de BH, do dia 18/03, e que se torna efetivo no dia 20/03, e o estadual, que se torna efetivo no dia 22/03", explicou o professor.
No segundo gráfico, é possível ver um quadro masi preocupante. Nos municípios menores, especialmente naqueles com população inferiro a 20 mil habitantes, o rítmo do crescimento de casos de coronavírus cresceu nas últimas semanas, ao contrário do observado nas cidades maiores, com mais de um milhão de habitantes. "Isso é mais um sinal de preocupação com as cidades do interior", finalizou o professor GIlvan.