O medo de ser contaminado pelo coronavírus afastou muita gente dos centros de saúde. Em relação ao ano passado, a média de faltas nas consultas com especialistas subiu de 19% para 25%. E como muitos não estão buscando os médicos, a Prefeitura de Belo Horizonte arrumou um jeito de levar o tratamento até eles. Um programa de monitoramento começou a ser implantado e, a partir de agosto, cerca de 50 mil pacientes com doenças crônicas serão acompanhados.

O gerente de Atenção Primária à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Fabiano Gonçalves, explica que o monitoramento será feito pelas equipes de saúde da família.  Entre os pacientes com doenças crônicas, são selecionados aqueles com maior risco cardiovascular.

“Como as equipes dos centros já conhecem essas pessoas, a ideia é que entrem em contato e ofereçam opções para que o tratamento não seja interrompido. Podem oferecer uma teleconsulta e, dependendo da avaliação, se for necessária uma consulta presencial, os agentes podem oferecer aos pacientes um agendamento em horários que os centros estejam menos cheios e dar orientações como uso de máscara, para que a pessoa se sinta mais segura”, afirma Gonçalves.

O novo sistema já está fazendo a diferença para muita gente. “Tive uma paciente que passou por todo esse caminho. Hipertensa, diabética e idosa, sentia-se abandonada e sem coragem para vir à unidade. Depois do nosso contato, concordou em vir e agora mantemos ainda conversas pelo celular. Vai ser difícil tornar a fazer tudo como antes, mas talvez a gente precisasse mesmo é evoluir e melhorar o acesso das pessoas com a equipe de saúde, melhorando o assim o processo de coordenação dos cuidados”, comemora o médico de Família e Comunidade, Artur Oliveira Mendes.

Quando a pandemia começou, Mendes percebeu um esvaziamento nas consultas, com muitos cancelamentos e faltas. “No começo, a gente entendia que era por causa da pandemia, mas, com a persistência da situação, a possibilidade que os cuidados com esses pacientes pudessem ser negligenciados começou a nos preocupar, e isso gerou uma angústia m toda a equipe”, conta o médico, que atende no Centro de Saúde do Sagrada Família, na região Leste.

Foi a hora de correr atrás de alternativas. “Começamos a ligar para pacientes mais graves. Depois, passamos a usar e-mail da equipe para nos comunicarmos. Agendamos, com a ajuda dos agentes de saúde, algumas pessoas com quadros mais graves. Por fim, organizamos contato via aplicativos de celular, tudo gerenciado pela enfermeira da equipe. A partir disso, começamos também a fazer teleatendimentos”, relata o médico.

 

Em geral, os pacientes que se enquadram nos critérios do monitoramento são aqueles que sofrem de hipertensão, diabetes, cardiopatias, além de doenças renais e aqueles que fazem uso de anticoagulantes. “Quando há controle, eles têm uma vida normal. Mas, se não há o acompanhamento adequado, ficam mais sujeitos a terem sequelas das doenças cardiovasculares como infarto e  AVE (Acidente Vascular Encefálico)”, explica Gonçalves.

O novo sistema de vigilância da saúde já está sendo implantado e, até agosto, está funcionando nos 152 centros de saúde da capital.  A estratégia chamou a atenção da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) no Brasil, que selecionou a teleconsulta  para participar da iniciativa “APS Forte no combate da Covid-19”, em junho. Essa ação da OPAS tem o objetivo de divulgar experiências de sucesso da Atenção Primária à Saúde, que podem servir de exemplo no enfrentamento da Covid-19.