A Prefeitura de Ouro Preto, na região Central de Minas, começou a tratativa de descomissionamento da barragem de Doutor, no distrito de Antônio Pereira. Desde o ano passado, a Vale não recebe mais rejeitos no local.  Paralelamente, 28 famílias da comunidade serão retiradas de suas casas, de forma preventiva, devido ao período chuvoso. As informações foram divulgadas durante uma coletiva na manhã desta quinta-feira (13). 

"Foi uma decisão da prefeitura. É uma ação preventiva de retirar famílias que moram próximo ao rio Tabuleiro. Tivemos mais de 500 ocorrências registradas pela Defesa Civil e ainda temos dois meses de período chuvoso pela frente. Os moradores vão ser cadastrados calmamente e serão levados para outros imóveis no próprio distrito. As crianças vão continuar frequentando a mesma escola. Já mapeamos alguns hotéis e outros imóveis", explicou o prefeito Júlio Pimenta. 

As famílias que vivem na região já seriam removidas porque os imóveis estão na área da rota de lama caso aconteça o rompimento da barragem que, atualmente, está em nível 1. 

"Estamos aqui anunciando, mas isso é um processo longo. Ontem (quarta-feira), nós estivemos no distrito para falar com a comunidade que não há motivo de pânico. É claro que vão ser inúmeras reuniões. O primeiro passo está sendo resguardar as pessoas. Não há risco para o centro de Ouro Preto, a comunidade está a 40 quilômetros da sede", disse o prefeito. 

Representantes da Vale também participaram do encontro. Segundo Heloísa Oliveira, gerente executiva do complexo Mariana - Vale, o processo de descaracterização já foi iniciado. 

"A barragem está em nível 1 e, pelo protocolo de emergência, não há necessidade de evacuação. Em contrapartida, em setembro, essa barragem foi reclassificada pela Agência Nacional de Mineração como uma barragem a montante. Então, a partir disso, a gente passará a seguir todos os protocolos nesse processo", afirmou.

Processo

A próxima etapa de descaracterização será realizada após o período chuvoso. A obra pode durar de 7 a 8 anos. 

"Ano passado começamos a retirar a água da barragem. A obra do vertedouro vai ser iniciada após o fim das chuvas, a previsão é que essa etapa fique pronta até o final do ano que vem. Após o vertedouro vamos iniciar o aterro do entorno da estrutura. Esse aterro vai ser feito de forma controlada", detalhou Franklin Pereira, responsável por projetos de descaracterização. 

Retirada das famílias

"Esse processo de realocação vai gerar, sim, impacto a essas famílias. Então, desde já queremos pedir desculpas pelos transtornos. A Vale reafirma o compromisso de garantir que essas pessoas fiquem de forma segura", afirmou Luiz Henrique Medeiros, da diretoria de Reparação da Vale. 

Os custos com as famílias serão bancados pela mineradora. Ainda não há data certa para a retirada dos moradores, e não está descartada a possibilidade de saída de outras famílias. Posteriormente serão analisadas questões ligadas a indenizações. 

Moradores pedem mais informações

Durante a coletiva de imprensa, alguns moradores da comunidade participaram  da reunião e pediram mais informações da retirada das famílias.

"Eu fiquei indignado com essa coletiva - a 40 quilômetros do distrito. Essa reunião deveria ser feita lá. Tem 5.000 moradores lá no distrito com dúvidas. A reunião de ontem não tinha a presença da Vale. Já recebi mensagens aqui de pessoas que disseram que não vão mandar seus filhos para escola", disse o vereador e morador do distrito, Vander Leitoa. 

A casa do soldador Adenilson Silvério está na rota da lama. No local, ele mora com os filhos e a companheira. "Vim aqui na prefeitura saber o que vai decidir de todo o processo, questão de indenização. Estou aguardando, a gente sempre está preocupado", contou. 

No distrito, moradores de uma área conhecida como "loteamento novo" - localizada mais próxima da barragem - afirmam que não conseguem seguir a rotina com tranquilidade.

 "A gente fica com um pouco de medo. A gente não tem oportunidade de dormir e comer direito, principalmente com as crianças. Não sabemos quando vamos precisar sair correndo", afirmou a professora de informática Maria Isabel, de 30 anos. 

O cabeleireiro Carlos Rogério de Carvalho, de 42 anos, mora no distrito há 26 anos e afirmou que o receio dos moradores atrapalha também o comércio. 

"Tem uma placa de fuga perto do meu comércio e isso, com certeza, afasta alguns clientes. As ruas aqui estão ficando vazias. Eu não sei se a Vale vai me ressarcir nesse ponto, considero uma falta de respeito com a população", desabafou. 

Carnaval

Segundo a Prefeitura de Ouro Preto, o Carnaval na cidade vai ocorrer normalmente.