Professores da Universo (Universidade Salgado Filho) de Belo Horizonte, demitidos em massa na primeira quinzena de julho, denunciam que o centro de ensino não pagou as verbas rescisórias nem depositam o valor referente ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) há, pelo menos, 15 anos. Para protestar contra a medida, dezenas deles se reuniram nesta quinta-feira (1º) em frente ao Fórum da Justiça do Trabalho, no Barro Preto, onde ocorreu audiência conciliatória.
Ao todo, 73 professores foram demitidos. O número representa a maioria esmagadora do corpo docente da universidade, de acordo com o professor Carlos Moreira, que deu aula na instituição por 15 anos. “Ficaram apenas aqueles professores que entraram com recurso, pois vão se aposentar por agora, e aquelas que estão grávidas. Isso representa três ou quatro professores por curso”, comenta.
Segundo ele, no dia 12 de julho, os professores receberam um telegrama que os comunicava que eles estavam sendo desligados da instituição. “O problema maior é a falta de responsabilidade com o trabalhador, porque eles não honraram com os seus compromissos. Não fizeram os acertos dez dias depois da demissão, como prometeram que fariam”, diz.
De acordo com Moreira, a instituição também não deposita o FGTS há 15 anos. “Como uma empresa fica impune assim por todos esses anos? O Brasil não tem responsabilidade sobre os seus cidadãos”, argumenta.
Professor de fisiologia Humana, Eduardo Zendron Vitol, que trabalhou por 14 anos na empresa, reitera as informações do colega. “Não foi pago nenhuma verba rescisória nem os dias trabalhados. Além disso, dos 14 anos de empresa, só depositaram quatro anos de FGTS. Ou seja, me devem dez anos de depósito! Até agora não foi dado baixa na carteira de trabalho nem recebemos as guias para seguro desemprego”, reivindicou. O professor continua relatando que quando liga para a instituição para conseguir alguma informação é ignorado.
Em audiência de conciliação realizada nesta quinta, ajuizada em 2014 pelo Sindicato dos Professores do Estado de Minas Gerais (Sinpro Minas) referente ao pagamento do FGTS, o professor informa que nada foi resolvido. “Participei das reuniões do Sinpro, onde acertamos quais medidas iríamos tomar. Foi uma audiência de conciliação a respeito do FGTS, em que não houve acerto, pois a instituição alega que deve R$ 6 milhões em depósitos. Porém, a dívida deles conosco está em torno de R$ 16 a R$ 18 milhões”, diz.
Há 13 anos na instituição, o professor de educação física, Wolfgang Cristiano também participou da audiência e das manifestações. "Demissão sem justificativa por parte da instituição", falou.
Repúdio
O Sinpro divulgou nota na qual repudia a demissão em massa dos professores. “A instituição de ensino alegou que a decisão faz parte de uma proposta de reorganização pedagógica, mas a justificativa não convenceu professores nem estudantes, que manifestaram indignação com a medida”, escreveu.
A nota segue destacando que “as demissões atendem a um projeto de mercantilização da educação, sem qualquer preocupação com a qualidade do ensino. Sob a lógica do mercado, o que se buscou foi a redução de custos, para lucrar ainda mais com a educação, em detrimento dos direitos e da dignidade dos docentes”
O outro lado
A reportagem entrou em contato por telefone com a assessoria da universidade, mas as ligações não foram atendidas. Também foi enviado e-mail para a instituição, mas ainda não obteve-se retorno. Quando a reportagem receber a resposta, esta matéria está atualizada.