Professores da educação infantil da rede municipal de ensino de Belo Horizonte denunciaram nesta quarta-feira (10) o fechamento de cerca de 60 turmas nas Escolas da Educação Infantil (Emeis). Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (Sind-Rede), o problema estaria ocorrendo em 30 escolas da capital desde o início deste ano. A entidade pretende protocolar uma denúncia no Ministério Público de Minas. A prefeitura nega que alunos não estejam sendo atendidos. 

Ao menos 1.200 vagas estão sendo prejudicadas com o fechamento das turmas, segundo a diretora do Sind-Rede, Evangely Rodrigues. De acordo com ela, a prefeitura alega que as vagas estão sendo extintas por falta de demanda. No entanto, pais e professores denunciam que o município não abriu a matrícula para a livre demanda, ou seja, muitas famílias perderam o prazo para o cadastramento no ano passado, mas têm filhos aguardando vagas. 

Ainda segundo Evangely, como consequência do fechamento das 60 turmas, outras estão reunindo alunos de idades variadas. O temor é que o aprendizado seja prejudicado. 
“A prefeitura não está pensando de forma estratégica, apenas na economia. Estamos vivendo um sucateamento. As idades são diferentes, tal como os processos de desenvolvimentos de cada criança. O aluno, muitas vezes, sente-se frustrado por estar em uma turma maior”, pontuou a diretora do sindicato. 

Para Evangely, o modelo da prefeitura não atende às necessidades das comunidades: “Temos famílias que se mudam para Belo Horizonte no meio do ano e não participaram do cadastramento; outras não têm acesso à internet. Não estão fazendo um processo objetivo”. 

Outro lado. Segundo a assessora de articulação pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, Adriana Nogueira, a unificação de turmas sempre aconteceu, sendo o procedimento pautado pela legislação. “Avaliamos onde tem demanda para não termos turmas ociosas. Em algumas escolas, alguma turma pode não existir porque a demanda ali já foi atendida, mas, em outro lugar, tem outras turmas. Nenhum aluno deixa de ser atendido”, garante. 

Sobre a forma de cadastramento, a assessoria informou que, desde 2017, a prefeitura o realiza apenas online.

"Adapatção será difícil", diz mãe

A bióloga Maria Flor Martins, 32, recebeu um comunicado, na última sexta-feira (5), avisando que seu filho de 3 anos seria transferido para outra turma e passaria a estudar com crianças de 2 a 4 anos. Ele está matriculado na Umei Vila Conceição, no bairro São Lucas, na região Centro-Sul da capital. A mãe teme que o aprendizado dele seja prejudicado. 

“Estamos em abril, e, do nada, meu filho troca de turma? Ele já desenha, conhece as letras e vai ficar com crianças que ainda usam fraldas? Nem a professora consegue atender alunos com necessidades tão diferentes. Em nenhum momento, isso foi discutido com os pais”, conta. 

O receio é o mesmo da pedagoga Gicilene Monteiro. Mãe de duas meninas gêmeas de 2 anos, que também estudam na Umei Vila Conceição, ela tem medo de que as crianças não se adaptem com os novos professores e colegas. “Elas chamam a professora pelo nome, já têm um apego emocional. Não é só a questão do desenvolvimento que é diferente. A adaptação será difícil”, reclama. 

Junção requer estrutura
Para o especialista em educação e presidente do Instituto Alfa e Beto, João Batista Oliveira, a interação de crianças de idades diferentes em um única turma é positiva e pode estimular o desenvolvimento dos alunos. No entanto, ele pondera que é necessário ter a estrutura adequada.
 
“Na história da humanidade, crianças de idades diferentes sempre conviveram sem grandes problemas. Em grande parte dos países europeus, isso já acontece. Mas, para isso funcionar, é preciso ter professores preparados e estrutura”, avalia.
 
Déficit. 
Educação infantil. Em BH, 75.305 crianças de 0 a 5 anos são atendidas em 392 instituições municipais. Segundo a prefeitura, atualmente, há um déficit de 3.950 vagas para crianças de 0 a 3 anos.