Professores e profissionais da educação infantil, de escolas públicas e particulares de Belo Horizonte, começaram a ser vacinados nesta quarta-feira (26) contra a Covid-19 na capital. Com o movimento tranquilo no período da manhã, a imunização deu ânimo e colocou fim na angústia dos trabalhadores, que não contiveram a ansiedade e a emoção. A diretora pedagógica Kelly Gonçalves, 48, acordou cedo e chegou antes mesmo do posto de saúde do bairro Coqueiros, na região Noroeste da capital, abrir.
"Às 7h já estava na fila e tinha umas 20 pessoas aguardando também. Fui antes mesmo de começar a trabalhar. Foi um momento tão esperado que não tinha porque vir mais tarde", conta a diretora, que garante estar mais animada que aluno no primeiro dia de aula. "Em 30 anos de profissão nunca vivi uma época tão difícil, é um misto de alívio, euforia e gratidão", afirma a educadora.
Em Belo Horizonte, podem se vacinar, nesta quarta-feira, professores e funcionários da educação infantil de 41 a 59 anos. Na quinta (27), será a vez dos educadores acima de 18 anos. A expectativa é que 31 mil trabalhadores da educação infantil sejam imunizados contra a Covid-19 na capital. A vacinação acontece em postos fixos e no sistema drive-thru, até às 16h. Os endereços estão disponíveis no portal da prefeitura. O grupo será vacinado, prioritariamente, com a vacina da AstraZeneca.
"Foi muito rápido e tranquilo. Pelo país que nós vivemos e tendo em vista tudo que está acontecendo eu sou é sortuda, a gente vai se conformando com as pequenas vitórias, apesar da educação ser tratada como tudo, menos prioridade", desabafa a auxiliar de berçário, Dilene Marinho, 48, que se vacinou na Pampulha.
Com a imunização dos profissionais, a coordenadora pedagógica Maize Maria Borges, 57, acredita que mais pais e alunos se sintam confortáveis para o retorno do ensino presencial em BH. "Acredito que a maioria das escolas têm seguido os protocolos, que são sim muito seguros, mas o risco sempre existe, então, o medo continuava. A vacinação traz alívio para nós, nossas famílias e dos alunos, é uma alegria compartilhada", comemora a professora, que reforça que os cuidados devem permanecer.
"Eu vacinei, mas não quer dizer que há menos preocupação por causa disso ou relaxamento, porque a vacina não é garantia 100%. A luta é que todos também possam ser imunizados. Não é só uma categoria que precisa ser vacinada para que estejamos seguros", avalia.
'Vacinação não é garantia de segurança'
Para a diretora do Sindicato dos Trabalhadores da Educação da Rede Pública Municipal de Belo Horizonte (Sindi-Rede-BH), Vanessa Portugal, apesar da imunização, a preocupação se mantém para o retorno das aulas presenciais. "A vacinação é uma conquista importante, mas só isso não basta, precisamos que as crianças e as suas famílias também estejam seguras. Temos a questão das cepas que é uma preocupação, de não saber como se comportam", argumenta a diretora que defende uma vacinação ampla.
Segundo Vanessa, desde o início das aulas presenciais na educação infantil, há um mês, pelo menos 54 trabalhadores já foram contaminados. "Temos visto que o protocolo de retorno tem vários furos, máscaras não adequadas, as bolhas não estão sendo respeitadas entre os profissionais por falta de orientação. Não existe um esquema de testagem e rastreamento. Os especialistas não têm dúvida da chegada da terceira onda, por isso, a vacinação não é garantia de segurança", destaca.
Procurada, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que investiu R$ 14 milhões na compra de itens de higiene, limpeza, tapetes, dispensers com álcool em gel, kits de máscaras e toda a estrutura necessária para o cumprimento dos protocolos de segurança. Além disso, segundo o município, foram criadas Comissões, com a participação de pais de alunos, para monitorar a implantação desses protocolos em todas as escolas.
Sobre a organização em bolhas entre os professores, a PBH ressaltou que para os educadores que possuem dois cargos na prefeitura, não é legalmente possível dispensá-los de cumprir a jornada de um dos vínculos e reforçou que a jornada de trabalho dos profissionais foi reduzida a três vezes por semana e que, portanto, o contato é extremamente restrito.
Amplicação da vacinação em BH
Além dos profissionais da educação infantil, moradores em situação de rua também começaram a ser imunizados hoje em Belo Horizonte. A expectativa é que sejam vacinadas 7,5 mil pessoas. Equipes volantes farão o acolhimento das 8h às 16h em vários pontos da cidade.
No caso dos profissionais da educação infantil, para se vacinar o trabalhador precisa apresentar um documento que comprove o vínculo com a unidade de ensino em BH, por meio do contracheque emitido nos últimos 3 meses, carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) com especificação da função, contrato de trabalho ou declaração emitida pela instituição.
Também é preciso estar com um documento de identidade com foto, além de não ter recebido qualquer vacina nas últimas duas semanas nem ter testado positivo para o coronavírus com início de sintomas nos últimos 30 dias.