Se os últimos dias já não têm sido fáceis para todos, imagine só para quem está na linha de frente do combate ao novo coronavírus no Brasil? É o caso de milhares de profissionais de saúde que têm se exposto diariamente aos riscos de contágio para garantir atendimento às pessoas nos hospitais e clínicas de todo o país.
Além dos riscos de contaminação, eles também acabam expostos a um nível muito maior de estresse e precisam redobrar a atenção e os cuidados para evitar levar qualquer tipo de doença - nem só a Covid-19 - para dentro de casa.
A clínica geral e alergista Paula Martin atende em seu consultório e na urgência de dois hospitais de Belo Horizonte. Por conta da pandemia de coronavírus, ela precisou mudar sua rotina e já não vê o filho de 23 anos há mais de 15 dias. “Eu mandei meu filho para casa da minha mãe, de 80 anos, e estão ambos sem sair de casa e eu estou sem vê-los porque acabo sendo muito mais exposta a qualquer risco de pegar a doença”, afirmou.
Ela disse ainda que está convivendo apenas com os colegas do trabalho e com o marido, que também é alergista. Ainda assim, redobrou os cuidados para evitar qualquer tipo de contágio. “Eu já tinha por hábito entrar em casa deixando o jaleco e o calçado separado e indo direto para o banho para tirar a roupa pois trabalho em um local mais contaminado. Mas,ainda assim, agora tenho tido uma atenção ainda maior com a roupa”, afirmou.
Outra angústia que a médica relata é quanto à incerteza dos rumos que a pandemia nos próximos dias. Em alguns países, a evolução do número de casos confirmados foi muito rápida, enquanto outros tiveram sucesso no processo de “achatar a curva” de crescimento de novos casos. Isso tem variado conforme as medidas adotadas em cada país.
Além disso, ela relata que como trata-se de uma doença nova e uma situação inédita, o volume de informação e a rapidez com que algumas orientações mudam acabam também gerando uma tensão entre os profissionais. “As duas últimas semanas foram muito difíceis porque há um volume muito grande de informações, são informações que mudam a toda hora, normativas diferentes de um dia para o outro. Então, é preciso controlar angústia, até para não causar pânico nas pessoas e nos pacientes”, afirmou.
Apesar de não estar na linha de frente, ou seja, na triagem e atendimento direto aos pacientes, a residente em radiologia, Joyce Carneiro, de 27 anos, também adotou algumas medidas extras durante esse período da pandemia. Apesar de morar sozinha, ela está com atenção redobrada a roupas e sapatos utilizados durante o trabalho no hospital. “Eu também não tenho recebido mais ninguém em casa, nem saído com ninguém pra evitar expor as pessoas a qualquer risco”.
Ela relatou ainda que colegas que têm crianças em casa estão mais preocupados porque o risco a que estão expostos nas unidades de saúde é muito alto. “Os médicos que têm filhos pequenos acabam mais tensos, bem como os profissionais que moram com pessoas mais velhas, mas também estão todos tomando as precauções possíveis”, contou.
Ainda segundo ela o hospital público onde trabalha adotou várias medidas em relação à espera por atendimento, por exemplo. Também os seguranças e profissionais de triagem estão utilizando máscara durante todo o tempo para evitar o contágio com pessoas que porventura cheguem ao hospital com a doença.
Mudanças no atendimento
Também no atendimento realizado em consultório, ela e o marido realizaram algumas alterações de rotina para evitar que os pacientes tenham contato um com outro na sala de espera.
“No consultório temos realizado o possível para organizar pacientes crônicos, aqueles que não podem ficar sem um acompanhamento médico. Então, estamos fazendo de modo que as pessoas não fiquem muito tempo na sala de espera e estamos evitando que fique mais de uma pessoa aguardando”.
Esse tipo de conduta também está sendo adotada nos hospitais onde ela trabalha, que estão com equipes de atendimento específicas para triagem e tratamento de pacientes com qualquer sintoma gripal. “Além das equipes e da triagem separadas, também na CTI já há leitos separados para casos graves de coronavírus que demandem internação, mas até agora não temos nenhum caso confirmado em nenhum dos dois hospitais que atuo”.