Entrevista

'Que passe uns bons anos na cadeia', diz mulher esfaqueada pelo ex no Gutierrez

Ainda se recuperando das facadas, que por sorte não atingiram nenhum órgão vital, Verônica recebeu a reportagem de O TEMPO em sua casa

Por Guilherme Gurgel
Publicado em 26 de maio de 2022 | 03:00
 
 
 
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Dois dias após ser esfaqueada pelo ex-companheiro nas ruas do bairro Gutierrez, na região Oeste de Belo Horizonte, a advogada Verônica Cristina Souza Suriani, de 40 anos, só espera justiça. “É uma pessoa que não pode ser integrada à sociedade, que tentou me matar. Que ele não seja solto e que passe uns bons anos na cadeia”, desabafa a vítima.

Na manhã da última segunda-feira (23), Verônica foi atacada na porta de casa. Ela saía com os filhos, de 7 e 10 anos, e com a babá das crianças, quando foi surpreendida pelo ex, um engenheiro de 33 anos, que está preso. A mulher ainda tentou correr, mas foi alcançada pelo suspeito, que deu 17 facadas nela.

Desesperados, os filhos da advogada ainda tentaram proteger a mãe. E o agressor só foi contido pela babá, que conseguiu tirar a faca dele. As imagens dos momentos de terror vividos pela família foram registradas por câmeras de vigilância e chocaram quem assistiu. 

Ainda se recuperando das facadas, que por sorte não atingiram nenhum órgão vital, Verônica recebeu a reportagem de O TEMPO em sua casa nesta quarta-feira (25). Após ter alta do Hospital João XXIII, onde ficou internada por um dia, ela ainda sente dores, principalmente nas costas, onde sofreu 13 perfurações. Durante cerca de 30 minutos, sempre acompanhada da babá, que ajudou a salvá-la, e dos filhos, ela contou sobre sua relação com o ex e falou sobre o pavor vivido nos últimos dias. Confira a entrevista abaixo:

Como foi o início do relacionamento com o Bruno?

Tivemos dois anos de relacionamento saudável, tranquilo, no qual ele me ajudou, inclusive com os meus filhos, e eu me envolvi muito com a família dele, com a mãe, com os sobrinhos. A gente tinha um laço muito bonito das famílias. Infelizmente, no último novembro, quando terminamos, ele não aceitou.

Como ele reagiu?

Fez ameaças e não aceitou o término. Em março, ele se dispôs a fazer um tratamento psiquiátrico mais sério e ficou um tempo internado devido à bipolaridade. Ele saiu do hospital e eu, infelizmente, acreditei que ele estava bem. Tinha a sensação de que ele estava tranquilo, e a mãe dele também me passava essa sensação. Só que, na última semana, ele teve problemas familiares que desencadearam alguma coisa. Nesse momento, ele falou: ‘Se a Verônica não for minha, ela não é mais de ninguém. Eu prefiro perder a minha vida e perder a vida dela do que continuar vivendo sem ela’.

Você esperava esse ataque?

Esperava um escândalo e que tivesse que chamar a polícia, mas não que chegasse a esse ponto. A gente trabalhava na mesma empresa, e ele publicou imagens minhas em grupos de trabalho. Eu fiz um boletim de ocorrência quando soube. Ele teve restrição de acesso ao local de serviço até a verificação dos fatos, e acredito que foi quando ele veio à minha casa, para (cometer) a agressão. Foi por isso que eu estava saindo de casa com meus filhos e a babá, para preservá-los de algo que ele pudesse fazer na porta do prédio. Ia deixá-los na casa do pai. Porém, quando estávamos saindo, ele me surpreendeu.

A que você atribui tamanha violência?

Não consigo explicar como alguém com quem vivi por dois anos possa ter agido com tanta maldade, tanta crueldade. O que mais me doeu é que, em alguns momentos, eu, como vítima, fiquei em uma posição de culpa: “Ah, mas por que ela se relacionou com esse tipo de pessoa?”. Quando comecei meu relacionamento, há dois anos, ele era uma pessoa boa. Algo aconteceu dentro dele. Foram 17 facadas, mas há quatro motivos para eu estar viva: a ação da Patrícia (a babá), o atendimento rápido da PM, o atendimento perfeito no João XXIII e a proteção de Nossa Senhora, de quem sou devota. Ela me cobriu com seu manto.

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