As consequências dos encontros de Natal e de Ano-Novo começam a dar sinais nos números da crise da Covid-19 em Minas Gerais, na perspectiva de médicos consultados pela reportagem. Nesta quarta-feira (6), a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) divulgou o maior número de registros de casos desde o começo da pandemia. Foram 7.715 confirmações nas últimas 24 horas — o recorde anterior era do dia 31 de dezembro, com 6.865 casos.
A SES-MG diz que o aumento já era esperado, dado que o ritmo das notificações nos municípios mineiros teria diminuído na última semana de 2020 e estaria sendo retomado agora, com a normalização das escalas de trabalho. Na perspectiva da pasta, também houve redução da obediência a medidas de segurança básicas, como uso de máscara, distanciamento social e higienização das mãos.
A secretaria não cita encontros de Natal e Ano-Novo como potencializadores do aumento, mas eles são uma peça fundamental para explicar a escalada, de acordo com o infectologista Estévão Urbano, membro do comitê de enfrentamento à pandemia de Belo Horizonte. ““Os sintomas de quem se contaminou no Ano-Novo vão começar a se manifestar no máximo até os dias 10, 12 de janeiro. O problema é que essas pessoas vão contaminar outras, inclusive já podem estar contaminando. Temos essa nova cepa mutante do vírus, mais contagiosa, e não sabemos para quais locais as pessoas viajaram”, diz. Até agora, o Ministério da Saúde confirmou somente dois casos de contaminação pela nova variante do coronavírus no Brasil, em São Paulo.
A virada do ano foi marcada por imagens de festas lotadas pelo país, mas mesmo quem se limitou a encontros com parentes e amigos em casa no final do ano aumentou o próprio risco de se contaminar, lembra o infectologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Dirceu Greco: “Alguns disseram que era uma reunião só com 20 pessoas em casa, mas cada uma delas tem contato com outras 20”.
Urbano conta, por exemplo, que, nesta quarta-feira, hospitalizou uma mulher de 60 anos que havia participado de um encontro de família com mais sete parentes no Natal. “Eram oito pessoas, que moravam em casas diferentes, e sete foram infectadas. Hoje, a paciente chegou ao décimo dia de sintomas, um dos dias mais críticos da doença, e começou a sentir falta de ar”.
Gota d’água
Os especialistas lembram, porém, que as festividades de final de ano não são a única causa para um aumento de casos, que depende de muitos fatores além desse. Eles pontuam que os últimos meses marcaram uma alta nas contaminações em outras partes do mundo — o Reino Unido, por exemplo, colocou-se em lockdown novamente neste mês.
“O final do ano foi uma gota d’água em um pote quase cheio. Se não der tudo errado, talvez até o final de fevereiro tenhamos uma vacina começando a ser distribuída, então agora é a hora de nos preparar da maneira correta, esvaziar as UTIs e evitar que cada um de nós se infecte”, continua Greco.
O epidemiologista e também professor da UFMG Geraldo Cury alerta que os efeitos dos encontros natalinos podem perdurar, por isso pede atenção redobrada às medidas de segurança sanitária. “Vamos continuar vendo os reflexos, porque é um efeito de cascata, a doença vai se transmitindo e se transmitindo. É cada vez mais urgente que usemos máscara e conversemos a distância”, alerta.