Brumadinho

Representantes da PCMG pedem novos equipamentos para identificar vítimas

A aquisição de uma nova ferramenta para identificação de impressões digitais foi pleiteada durante audiência pública

Por Michelyne Kubitschek
Publicado em 12 de março de 2019 | 19:53
 
 
 
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A aquisição de uma ferramenta tecnólogica de identificação automática de impressões digitais foi pleiteada ao Estado pela Polícia Civil, durante audiência publica realizada hoje, na Assembleia Legislativa, na região Centro-Sul da capital.

A diretora do Instituto de Identificação da Polícia Civil, Letícia Gamboge, revelou que 71, dos 200 corpos de vítimas da tragédia da Vale, em  Brumadinho, tiveram as identidades obtidas por meio da datiloscopia, que consiste, segundo a diretora, na análise por comparação visual de impressões digitais colhidas com o banco de dados da Instituição, cujo acervo conta com 25 milhões de fichas e 250 milhões de impressões digitais cadastradas. 

Ela ressaltou que os equipamentos hoje utilizados pelo instituto são manuais e retrógrados. "Nosso trabalho é muito desgastante. Estamos parados no século XIX com essa avaliação artesanal de digitais. Com uma nova tecnologia, ganharíamos tempo e avançaríamos também em outros processos como expedição de carteiras de identidade e cruzamento de dados em casos de crimes. Certamente teríamos muita celeridade e, então, a equipe hoje formada por 10 pessoas seria um efetivo suficiente para atender a demandas diárias, inclusive de órgãos como Ministério Público Estadual e demais da Justiça", afirmou Gamboge.

A diretora explicou que os processos de identificação datiloscópica relacionados a Brumadinho só não foram mais longos em função dos nomes de desaparecidos constarem em uma lista encaminhada à entidade. "Levamos, em média, seis a sete horas por caso, mas num universo de 250 milhões de impressões, a equipe pode precisar de dias para conseguir, de modo artesanal, comparar todos os traços das digitais de um indivíduo".

Questionada sobre a possibilidade de a Vale arcar com a compra do software que cruzaria os dados papiloscópicos, já que ainda há corpos resgatados com chance de coleta de digital, Gamboge não descartou a alternativa. "Penso que essas tratativas devem ser feitas junto ao Ministério Público Estadual, junto a Vale".

"Dolo eventual", classifica delegado

Durante a audiência, representantes da Polícia Civil destacaram parte dos trabalhos realizados pela corporação desde o rompimento da barragem, em 25 de janeiro. Chefe do Departamento Estadual de Investigação de Crimes Contra o Meio Ambientem, o delegado Bruno Tasca Cabral, parabenizou a atuação dos agentes envolvidos, destacou o papel desempenhado pelo IML que, segundo Cabral, atua com precariedade de equipamentos e afirmou que trabalha com a hipótese de a Vale responder por dolo eventual, quando mesmo que sem intenção, é assumido o risco de matar. "Não temos dúvida sobre o dolo eventual. O plano de emergência da Vale fala detalhadamente sobre a previsibilidade, caso a barragem se rompesse", afirmou.

O delegado não deu detalhes sobre prazos para indiciamento e sobre depoimentos de diretores da mineradora. "Esses detalhes podem acabar atrapalhando as investigações", disse.
Um vídeo gravado por policiais civis envolvidos nos trabalhos em Brumadinho foi exibido durante a reunião. Nas imagens, os agentes públicos destacavam o papel desempenhado. "Nos primeiros instantes após o rompimento, já estávamos com duas equipes que se deslocaram para pontos diferentes das barragens, para colher as primeiras informações técnicas e entrevistar testemunhas. Assistimos diversas vezes ao vídeo do momento que a barragem se rompe, descobrimos quem eram os indivíduos que estavam em cima da barragem. Todo esse empenho se estende até agora, mais de 40 dias depois", afirmou.

Até o momento, segundo a corporação, 59 pessoas entre investigados, sobreviventes e familiares foram ouvidos em depoimentos que chegaram a sete horas de duração. Celulares, computadores e outros dispositivos informatizados foram apreendidos. 

O delegado acredita que novos equipamentos auxiliariam a corporação. "Além da ferramenta para a parte de datiloscopia, hoje externamos a necessidade de se aquirir um programa chamado Celebrate, que nos ajudaria a extrair dados de celulares na confecção de relatórios. Isso seria crucial para otimizar o trabalho da polícia", afirmou.

Esclarecimentos

Em resposta à solicitação de O TEMPO, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) esclareceu que os equipamentos citados na audiência pública contribuem para o trabalho de segurança pública em geral. Sobre a compra de mais equipamentos, a corporação informou que ainda estudam essa possibilidade, "tendo em vista a crise financeira em que o Estado está passando", afirmou em nota. 

A Vale, por sua vez, garantiu que está investindo R$ 6,5 milhões em equipamentos de ponta para o IML. No entanto, de acordo com nota enviada, alguns dos novos aparelhos não têm data para chegar a Minas Gerais, "pois dependem da disponibilidade de entregar por parte do fabricante e de adequação dos locais onde irão funcionar". 

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