"Paraná Solidária"

Repúblicas em Ouro Preto distribuem cestas básicas para famílias vulneráveis

Estudantes arrecadaram R$ 10 mil revertidos em 193 cestas básicas entregues a instituições do município e diretamente a moradores em situação de vulnerabilidade

Por Lara Alves
Publicado em 19 de junho de 2020 | 12:33
 
 
 
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Incontáveis são as ações criadas por mineiros para apoiar moradores de inúmeros municípios que descobriram-se sem renda com a paralisação do comércio após o início da pandemia. O desespero é especialmente comum a mulheres com filhos e para muitas não há mais comida à mesa. Elas são as principais beneficiadas do "Paraná Solidário", projeto criado por estudantes da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) que moram nas repúblicas Nau Sem Rumo, Aquárius, Pulgatório e Ninho do Amor à rua Paraná no município da região Central de Minas Gerais.

Vinte dias bastaram para que eles arrecadassem R$ 10 mil doados por amigos e ex-moradores das casas. A quantia foi revertida na compra de 193 cestas básicas, distribuídas nessa quarta-feira (17) a empregadas domésticas que atuam em repúblicas da cidade e a instituições e associações de moradores cujos cadastros permitem uma distribuição mais igualitária dos alimentos comprados.

Morador de uma das repúblicas à frente do projeto, o sergipano Sandro Andrade de 29 anos conta que esta não é a primeira vez que os estudantes residentes em repúblicas federais se reúnem em ações em prol do município. “Existe um projeto chamado Universidade Desce o Morro criado pelas repúblicas federais. Através dele nós escolhemos um patrimônio da cidade, como escolas, para reformar, retocamos a pintura, lixamos… Mas, paramos com a pandemia e nós moradores de quatro repúblicas vizinhas decidimos fazer outra coisa para ajudar os moradores. É uma forma de apoiar a cidade e mostrar que não é necessária a pecha que as repúblicas têm de serem bagunceiras”, detalha.

Um olhar cuidadoso para a realidade das próprias moradias bastou para que os residentes das repúblicas entendessem como poderiam dar continuidade à ideia de fortalecer a comunidade. “Nós nos lembramos da comadre da nossa república. Ela é mãe de dois filhos e recai sobre ela a necessidade botar comida à mesa”, esclarece Sandro – aliás, “comadre” é o termo pelo qual os estudantes conhecem as mulheres que atuam como domésticas nas repúblicas.

A partir deste desejo de apoiar mães, muitas em situação de informalidade, o grupo decidiu destinar uma boa parte das cestas básicas arrecadadas para instituições como a União Brasileira de Mulheres (UBM) que auxilia moradoras de Ouro Preto. "Escolhemos algumas associações que buscam assistir essas mulheres em situação de vulnerabilidade, para nós era mais interessante dar assistência a elas”, destaca.

Cinquenta cestas básicas seguiram para a organização, as outras foram entregues à Associação de Moradores da Rua 13 de Maio, à Rede Solidariedade OP e ao Grupo de Mães Juntas Somos Mais. Vinte ainda foram destinadas às “comadres” que atuam há anos, até décadas, nas repúblicas da cidade.

Os estudantes, de acordo com Sandro, decidiram encaminhar as cestas básicas às instituições de forma a garantir uma distribuição mais equilibrada das doações. “Repassamos parte das cestas arrecadas para as associações porque elas têm um conhecimento melhor a respeito da realidade de cada bairro, para que seja feita uma entrega mais justa àqueles que realmente precisam”, comenta.

Tradição

Culturalmente, o município de Ouro Preto recebe incontáveis estudantes anualmente que se hospedam em imóveis históricos transformados em repúblicas para abrigá-los. As moradias são tradicionais na cidade e, segundo Sandro, apoiar o município é uma forma de estreitar os laços com a comunidade.

“Nós queremos dar um retorno à sociedade. Os moradores costumam falar mal das repúblicas, existe essa pecha de bagunceiros, vagabundos… Mas, precisamos mostrar que as repúblicas podem ajudar. Acredito que, hoje, exista só em Ouro Preto essa relação do estudante que volta à república todos os anos depois de formar, tem a tradição dos quadrinhos. Queremos manter esse vínculo”, conclui.

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