Buracos, trincas e erosões nas rodovias em Minas Gerais não são um problema restrito à segurança no tráfego, mas causam um aumento de 42% no custo operacional do transporte de cargas. O dado, um dos resultados da Pesquisa CNT de Rodovias 2023, divulgada nesta quarta-feira (29 de novembro), ocasiona um encarecimento em série. Enquanto as transportadoras devem gastar R$ 1,3 bilhão em despesa excessiva em diesel, segundo o estudo, os consumidores absorvem esse valor ao comprarem os produtos das cargas, como orgânicos, carnes, e até o próprio combustível.

De acordo com a Confederação Nacional do Transporte (CNT), no Estado, 70,6% da extensão da malha rodoviária avaliada têm algum tipo de problema. Já 29,4% está em condição satisfatória e 0,7% com o pavimento totalmente destruído. A má qualidade das rodovias em Minas, estaduais e federais, foi exposta pela pesquisa –  cinco delas estão entre as piores do Brasil para trafegar, e nenhuma foi classificada como “ótima”. 

O engenheiro e professor da área de Infraestrutura de Transportes do Cefet-MG, Raphael Lúcio Reis dos Santos, explica que parte do projeto de uma rodovia é direcionada ao pavimento. O objetivo é entender de qual forma a estrutura vai comportar os veículos e o peso previsto, mas nem sempre a preservação das pistas é feita corretamente.

“Sem a manutenção preventiva e corretiva, e se o pavimento atinge a vida útil, começam a surgir buracos, trincamentos e deteriorações na pista. Os veículos que trafegam nessas vias têm um consumo maior de combustível, gasto maior de pneus, e estão sujeitos a atrasos nas viagens e a acidentes, o que pode ainda causar perda de carga e problemas nos veículos”, afirma. 

Maioria do transporte de cargas do Brasil é feito pelas rodovias

O problema é intencionado pela dependência da economia brasileira no transporte de cargas por estradas. O especialista chama atenção para o fato de que mais de 60% de toda a carga que é transportada no país passa pela malha rodoviária.

Os gastos excessivos causados pela má qualidade das rodovias, por consequência, oneram o bolso do consumidor. “Os produtos que chegam na mesa do brasileiro dependem da estrutura utilizada pelo transporte de cargas. Todo o sobrepreço atrelado ao transporte, ao aspecto logístico, vai gerar um aumento no preço final do produto”, afirma.

Dos Santos lembra do impacto da greve dos caminheiros na economia. “Quando os caminhões pararam, houve escassez e alta do preço dos produtos. Da mesma forma, se está havendo uma alta de custos por causa das estradas, esse gasto vai ser repassado ao consumidor”, acrescenta. 

Como melhorar a situação das rodovias? 

O estudo da CNT destaca que a maioria das rodovias com qualidade classificada como “ótima” está sob gestão concessionada. Já as piores rodovias são, em maior parte, de gestão pública e estadual. O especialista Raphael Lucio dos Santos defende que os governos tenham uma melhor estratégia de melhorias das rodovias, aderindo a programas de investimentos, por exemplo.

“Quando uma empresa ganha uma concessão, ela tem uma previsão de valores a serem investidos e em quê. Da mesma forma, o poder público precisa se comprometer com esse acompanhamento da situação das rodovias, se responsabilizar pelo diagnóstico da pista e investimentos em melhorias. As concessões são sempre boas alternativas”, diz. 

Outro caminho, segundo dos Santos, é o aumento da competitividade no negócio de transporte de cargas. “Seria interessante reduzir essa dependência na malha rodoviária. Por exemplo, com investimento no sistema ferroviário e hidroviário. Menos caminhões nas rodovias iria aumentar a vida útil das pistas, diminuindo a necessidade de tantas intervenções”, explica.