Sentado no banco de uma escola em Santa Maria de Itabira, na região Central de Minas, o açougueiro Marcos Oliveira, de 56 anos, almoçava arroz, feijão, macarrão e angu nesta segunda-feira (22). A refeição foi preparada com alimentos doados para os pontos de apoio para onde foram levados os desalojados e desabrigados da cidade após a chuva.
No entanto, devido à quantidade de pessoas, voluntários solicitam mais doações, além de alimentos, cobertores, colchões e fraldas. "Eu estou aqui comendo para daqui a pouco ir para rua ajudar outros moradores. Todas as pessoas que morreram eu conhecia. É muito triste", contou.
A casa dele também foi invadida pela água, mas o açougueiro optou por, primeiro, ajudar quem não tem mais lugar para ficar. "Na minha casa, eu vou ver o que foi perdido. Mas, neste momento, tem gente precisando de apoio e eu estou aqui para ajudar", disse.
Grupo para ajuda
Em um grupo criado no Whatsapp, moradores da cidade falam que precisam de donativos.
"Eu sou Dadá, de Santa Maria de Itabira, estou na linha de frente, estamos precisando, sim, de alimentos, marmitex. Tem muita gente desabrigada, muita gente com fome. Tem gente tremendo de fome, e a nossa cozinha aqui não está dando conta de fazer tanta comida. A gente precisa de toalhas de banho, roupas de cama, materiais de limpeza. Teve uma notícia que a gente não estava precisando, mas isso é falso. Estamos em pânico em Santa Maria. Deus abençoe todos vocês. Obrigada", disse a mulher chorando já no final da gravação.
Desde às 11h, a reportagem de O TEMPO pede um posicionamento da Prefeitura de Santa Maria de Itabira em relação aos números atualizados de vítimas, pessoas fora de suas casas e quais os canais para as doações.
No entanto, um funcionário do gabinete do prefeito afirma que o "município vai se manifestar apenas uma vez e por áudio encaminhado em uma lista de transmissão", o que não tinha acontecido até as 15h40.
A reportagem também solicitou um contato direto com o prefeito da cidade, mas foi informada que ele não vai falar com a imprensa por agora, uma vez que também teve a casa atingida e está abalado.
Posicionamentos
Copasa
Em nota, a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) informou que a manutenção e o restabelecimento do abastecimento na cidade de Santa Maria de Itabira ocorreram no final da tarde desse domingo (21). Já na manhã desta segunda-feira (22), após baixar o nível da inundação na cidade, técnicos da empresa realizaram novas inspeções no Sistema de Abastecimento de Água (SAA) e detectaram outros pontos de rompimento nas redes de distribuição de água no Centro e nos bairros Chaves e Vila Marília.
Na região central do município, que corresponde a aproximadamente 53% das residências, o fornecimento de água já foi restaurado, segundo a companhia. Já no bairro Vila Marília, onde se concentra 40% dos imóveis, esse restabelecimento deve ocorrer ainda nesta segunda.
Já no bairro Chaves, abastecido pelo rio Tanque, cuja rede de distribuição foi rompida, a previsão é que ocorra normalização durante esta terça-feira (23).
"A companhia esclarece que a interrupção emergencial do abastecimento da cidade no domingo foi necessária para a realização de manutenção na captação e em uma adutora de água tratada, que se rompeu com a queda de uma ponte no Centro da cidade, em razão das fortes chuvas que atingiram o município no último final de semana. Desde o início dos trabalhos, a empresa está realizando o abastecimento alternativo por meio de caminhões-pipa", disse.
Cemig
Já a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) informou que as equipes, entre técnicos, eletricistas e engenheiros atuam desde a manhã de domingo no restabelecimento da energia aos clientes afetados pelas fortes chuvas que atingiram a cidade. Conforme a empresa, os servidores encontraram dificuldades de acesso por causa de desmoronamentos e pontos submersos.
Mesmo assim, a energia foi religada para a grande maioria dos usuários. Alguns clientes seguem sem energia na zona rural, mas a previsão é de que ela seja restabelecida ainda nesta segunda.
Polícia Civil
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) disse que peritos estiveram nos dois locais em que ocorreram os óbitos em razão dos deslizamentos e realizaram os primeiros levantamentos. Agora, a instituição aguarda a emissão do laudo para identificar a causa dos deslizamentos.
Dos mortos, três corpos já foram liberados pelo Posto Médico Legal, em Itabira. "O que cabe à PCMG, neste momento, é auxiliar nas confecções das segundas vias de identidade para aquelas pessoas que perderam todos os documentos. Ao longo da semana serão divulgadas informações mais precisas do mutirão que será realizado para a confecção destes documentos, essenciais ao exercício da cidadania", informou.