No dia 11 de maio, a Prefeitura de Belo Horizonte suspendeu a vacinação contra a Covid de grávidas e puérperas sem comorbidades, conforme recomendação do Ministério da Saúde. Apenas as mulheres desses grupos com comorbidades continuaram a ser imunizadas, com doses de Coronavac ou Pfizer.
Mas quando a vacinação foi aberta para os trabalhadores de educação, gestantes e puérperas dessa categoria viram ali uma chance de conseguirem uma dose. De acordo com a nota técnica 651 do Ministério da Saúde, publicada no dia 19 de maio, “as gestantes e puérperas pertencentes a outros grupos prioritários (trabalhadoras da saúde ou de outros serviços essenciais por exemplo) poderão ser vacinadas após avaliação individual de risco e benefício a ser realizada em conjunto com o seu médico”.
Com esse direcionamento em mãos, a professora de Direito Leticia Birchal procurou um posto de saúde no bairro São Lucas, onde estavam sendo aplicadas doses de Coronavac. Mesmo assim, ela não conseguiu convencer a equipe do posto da vaciná-la contra a Covid. Ela relatou a questão em sua conta no Twitter.
“Mostrei meu contracheque e meu contrato de trabalho. Contei que tinha ido àquele posto porque deveria tomar Coronavac. A enfermeira falou que iria verificar com a supervisão e a vacina foi negada”, relata a professora. “Pedi uma recusa formal, pois é meu direito ter isso quando há uma recusa de serviço de administração pública, mas também houve uma recusa. Até que disseram que iam chamar a Guarda Municipal e a polícia para me tirar do posto”.
Letícia conta que gostaria muito de ser vacinada porque as mulheres grávidas têm maior risco de terem complicações por Covid ou evolução para o óbito, em comparação a outras mulheres da mesma idade. “Tem sido um processo de medo. Temos que sair para fazer exames de pré-natal de rotina e muitas vezes vamos a lugares fechados e pouco ventilados, como laboratórios. Me sinto desamparada pelo Estado, porque há vacinas disponíveis para o nosso grupo”, diz. De acordo com o Ministério da Saúde, a dose de Astrazeneca não é recomendada para gestantes e puérperas, mas não há contraindicações para Coronavac e Pfizer, as outras duas opções disponíveis no Brasil.
Segundo a PBH, no momento, não estão sendo vacinadas grávidas sem comorbidades, pois essa é uma determinação do Ministério da Saúde. “Somente são vacinadas as grávidas com comorbidades ou que estejam especificadas pelo Ministério da Saúde, conforme Decreto nº 10.282, como trabalhadoras de serviços essenciais (desde que tenha a avaliação individual de risco benefício realizada em conjunto com o médico). No decreto não constam profissionais da educação como serviço essencial”.
GRÁVIDAS VIVEM EXPECTATIVA
Enquanto o Ministério da Saúde não toma uma nova decisão sobre a vacinação de grávidas e puérperas, muitas mulheres vivenciam um grande medo em um dos momentos mais importantes de suas vidas. A comunicadora Thaíne Belissa, grávida de 39 semanas, entra todos os dias no site da prefeitura para ver se houve alteração na recomendação de vacinação para seu grupo.
“O que mais queria para meu bebê agora não é um quartinho bonito, nem enxoval completo, queria mesmo eram os anticorpos contra a Covid”, diz Thaíne. “Fico feliz por cada grupo chamado para vacina, mas ao mesmo tempo é desesperador você ser grupo de risco, num momento tão delicado da sua vida, que ficou para trás”.
De acordo com levantamento do The Wall Street Journal, em 2021, o Brasil viveu uma triste média de 100 mortes de grávidas por mês por causa da Covid.