Desde o fim de janeiro, quando a campanha de imunização foi iniciada em Minas, quase 10,7 milhões de doses já foram distribuídas aos municípios do Estado. A capital mineira recebeu o maior número, com mais de 1,6 milhão, conforme o Portal da Transparência, seguida por Juiz de Fora, na Zona da Mata, com outras 311 mil. Passados mais de quatro meses, secretários municipais de Saúde reclamam que as vacinas têm chegado a conta-gotas e ainda que há uma distribuição desigual entre as cidades.
Na região Central, a insatisfação é grande. Para a secretária municipal de Saúde de Moeda, Maria Aparecida do Carmo, os municípios menores sofrem ainda mais com a falta de doses. “Recebemos o mínimo possível e não conseguimos acompanhar o calendário. Não adianta nada chegarem aviões lotados de doses em Confins se elas não estão indo até as cidades”, enfatizou.
Ainda segundo a secretária, a pressão da população cresce cada vez mais. “Ainda estamos nas comorbidades, e a todo momento aparece um novo grupo prioritário. Se apenas o critério da idade fosse seguido, a vacinação já estaria bem mais adiantada. Está muito difícil e desorganizado”, acrescentou.
Presidente do Conselho de Secretários Municipais de Saúde (Cosems-MG), o secretário de Saúde de Contagem, Fabrício Simões, contou que a reclamação se repete em outras cidades.
“Tem sido desproporcional quando se considera o critério populacional. Prejudica muito o planejamento operacional da vacinação, e há grande pressão das pessoas, que querem ser vacinadas e acham que é culpa do município. Cidades de uma mesma região estão com cenários completamente diferentes”, pontuou Simões, que acredita, no entanto, que a nova distribuição anunciada pelo governo, com 70% das doses por idade e o restante para o grupo prioritário, deixe o processo mais igualitário.
Mais mortes
Já o secretário municipal de Saúde de Betim, Augusto Viana, lembrou que, ao longo de todo o ano passado, a cidade apresentava uma das menores taxas de óbitos por 100 mil habitantes entre os grandes municípios mineiros. Porém, com menos doses recebidas quando comparado com a população, o índice cresceu neste ano. “É visível que naqueles municípios que recebem menos doses, proporcionalmente, a taxa de óbitos aumentou, como é o caso de Betim. O Estado continua escolhendo quem vai morrer”, afirmou.
Viana argumentou ainda que, no caso da região, os limites de muitos municípios se confundem e muitas vezes são separados por ruas e avenidas. “A partir daí, podemos ter um lado da rua com toda a população de um grupo vacinada, e no outro, não. Com isso, o vírus vai continuar circulando, e dificilmente vamos conseguir vencer essa batalha”, declarou.
Em Ribeirão das Neves, o secretário municipal de Governo, Erik Lucas da Fonseca, também compartilha desses questionamentos. Segundo o dirigente, municípios que possuem o mesmo porte da cidade receberam até 50 mil doses a mais. Até o momento, a cidade recebeu pouco mais de 94 mil imunizantes. “Não conseguimos entender o critério do governo para a distribuição. O Estado disse que só faz a logística e recebe o quantitativo definido pelo Ministério da Saúde, que não respondeu a nenhum de nossos contatos. Em municípios muito próximos, conseguimos ver avanços em uns, enquanto em outros não”, finalizou.