A grande maioria dos equipamentos culturais já reabriu as portas em Belo Horizonte, como museus, cinemas e teatros. Mas, até o momento, as bibliotecas ainda não receberam a permissão para voltar a receber os leitores em seus corredores. O funcionamento é restrito, com empréstimo por meio de agendamento em parte desses equipamentos.

De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura, um protocolo de retomada das bibliotecas foi elaborado em diálogo com instituições públicas, privadas e sociedade civil e está em fase de aprovação no Comitê de Enfrentamento à Pandemia do Covid-19 da prefeitura.

Após a aprovação dos especialistas, poderá ser planejada uma reabertura gradativa das 22 bibliotecas públicas municipais e da Biblioteca Pública Infantil e Juvenil de Belo Horizonte (BPIJ), localizada na rua Guaicurus.

O protocolo municipal pode fazer a diferença também no funcionamento da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, conhecida também como Luiz de Bessa, equipamento gerido pelo Estado. O espaço abriu parcialmente no mês passado, com uma exposição e o recebimento de livros que haviam sido emprestados no período anterior à pandemia, mas ainda não está fazendo empréstimos.

O subsecretário de Estado de Cultura, Maurício Canguçu, explica que algumas bibliotecas estaduais do interior já retomaram os empréstimos, baseadas em protocolos municipais. No caso da biblioteca Luiz de Bessa, o planejamento é de retomar os empréstimos de livros infanto-juvenis a partir de outubro.

“Nós queríamos muito reabrir a biblioteca, mas fizemos o que era possível, recebendo os livros que foram emprestados antes da pandemia, deixando as obras em quarentena. Mas o processamento e catalogação interna do acervo não parou”, afirma o subsecretário, lembrando que a visitação à hemeroteca está sendo realizada mediante agendamento.

Canguçu reconhece que as bibliotecas têm uma importância enorme para a sociedade, mesmo que a internet tenha ajudado a compensar a demanda por livros. “Sem biblioteca, é como se estivéssemos com a porta para o conhecimento fechada. Manusear um livro é uma experiência diferenciada, não é o mesmo que ler um e-book”, completa o subsecretário, lembrando que a secretaria lançou um edital para realização de melhorias em bibliotecas públicas mineiras.

A psicóloga Staell Ribeiro, 46, via na Luiz de Bessa uma oportunidade de garantir a leitura escolar da filha sem precisar investir na compra de obras. “Na escola, as opções se esgotam rapidinho. Então, eu e minhas amigas íamos até a biblioteca pública para pegar emprestado. É um ótimo espaço, pena que muita gente não conhece”, conta a psicóloga, que ficou um ano e meio aguardando para devolver um livro emprestado em março do ano passado.

Quarentena de livros não é consenso entre especialistas

Nas 25 bibliotecas da UFMG, o empréstimo de livros acontece por meio de agendamento exclusivamente para a comunidade universitária. A reabertura para o público depende de uma decisão do Comitê Permanente de Enfrentamento do Novo Coronavírus da instituição.

Na instituição, os livros devolvidos passam por uma “quarentena” de sete dias, em sacos plásticos, antes de voltarem para a prateleira. O tempo estipulado é o mesmo do protocolo definido pelo plano Minas Consciente (documento que não recomenda o uso de produtos sanitizantes para higienização, porque podem danificar papel).

Mas o protocolo de “quarentena” para livros não é consenso entre os especialistas, já que a principal forma de contágio para o Sars-Cov-2 é por via aérea. “Compartilhamento de livros não é um mecanismo de transmissão importante do vírus, não é mais uma questão preconizada pela Organização Mundial da Saúde”, explica o infectologista e professor da UFMG Geraldo Cury.

Segundo ele, há outras questões que podem ser levadas em conta ao trabalhar protocolos para funcionamento de bibliotecas. “Geralmente, são espaços fechados, sem ventilação. E tem pessoas que ficam nas bibliotecas por muito tempo, lendo e estudando. Talvez esses sejam os motivos para que as bibliotecas não tenham reaberto as portas”, diz.

Bibliotecas fazem falta para estudantes universitários

Durante a pandemia, muitos estudantes universitários estão tendo de recorrer ao material acessível via internet para dar conta da realização de pesquisas para graduação e pós. As bibliotecas das instituições estão à disposição, mas de forma restrita.

Na PUC Minas, por exemplo, o acesso a livros acontece por meio de agendamento, mas a instituição afirma estar investindo massivamente em acervo eletrônicos disponibilizando as principais plataforma de e-books para acesso integral aos conteúdos.

O conteúdo on-line ajuda muito, mas não substitui completamente a tradicional pesquisa em obras dispostas em prateleiras de uma biblioteca. O pesquisador de pós-doutorado de história na UFMG Igor Rocha conta que tem sentido falta disso para desenvolver o material para a disciplina que começará a dar para os alunos da graduação. “Coloquei a bibliografia inteira baseada em textos que estão disponíveis e gratuitos na internet, porque se não as disciplinas ficam inviáveis”, diz.

De acordo com Rocha, essa é uma realidade entre muitos pesquisadores da área. “Tenho vários colegas da área que estão com pesquisas paralisadas porque não têm como irem aos arquivos que precisam. Vários estão fechados, alguns com horários muito reduzidos, grande parte não disponibiliza acervos online. E as agências de fomento e programas de pós-graduação continuam cobrando deles respeitarem os prazos da mesma forma”, afirma.

Confira as recomendações do programa Minas Consciente para bibliotecas:

No caso de visita por pesquisadores e a necessidade de manuseio de livros e outras formas de acervo, a visita deverá ser agendada com no mínimo 48 horas de antecedência. O uso de EPI’s é indispensável e o pesquisador será responsável por providenciá-los.

Para documentos/livros de bibliotecas e acervos que possam ter estado em contato com o vírus, não se recomenda uso de produtos sanitizantes que podem danificar papel. Manter os livros apartados do uso humano por pelo menos sete dias ou buscar aconselhamento profissional.