No pequeno quarteirão entre as avenidas João César de Oliveira e José Faria da Rocha, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, a cultura da feira de rua que se tornou tradição dos moradores do Eldorado. Entre comidas típicas, arte, roupa e calçados, produtos que fazem o sustento de pelo menos três mil pessoas – entre empregos diretos e indiretos. Mas, na data em que a Feira do Eldorado comemora 29 anos, comerciantes e funcionários convivem com as dificuldades impostas pelo coronavírus.
Fechada há quase 60 dias devido às medidas de restrição na pandemia, muitos não conseguem pagar nem as contas básicas, como aluguel e alimentação. Sem alternativa e até acesso negado aos auxílios emergenciais do governo federal, outra parte passou a ser arriscar na rua e vender os artigos nos capôs e porta-malas dos carros estacionados ao longo da rua Portugal.
De acordo com o feirante Alexandre Magno de Paula, de 39 anos – ele trabalha no local desde a inauguração, em 1991 – o delivery não funcionou para a maioria dos trabalhadores. "Só deu certo para alimentação e conserto de celular. O restante é muito difícil, tem pessoa que fica 15 dias para vender uma peça. Então alguns vieram aqui de carro para pelo menos salvar o almoço, levar algo para dentro de casa. Sabemos que tem dia que não vai vender nem um real, mas é o desespero", justifica.
Já Jefferson Pereira dos Reis, 38, que atua no espaço há pelo menos 16 anos, conta que, mesmo com o condomínio da feirinha suspenso desde março, os problemas financeiros são uma realidade de todos. "Inclusive há muita gente com mais de 60 anos que ainda não conseguiu aposentar e nem recebeu o auxílio [de R$ 600]. Então, as coisas começaram a apertar. Até fizemos uma campanha para a arrecadação de cestas básicas com grupos de amigos e o poder público", completa.
Aniversário sem comemoração
O comerciante lembra que, mesmo com tantos problemas econômicos e políticos vividos pelo Brasil nos últimos 29 anos, o espaço não havia deixado de funcionar sequer por um dia. "A feira passa no dia de seu aniversário a tristeza de estar fechada. Mesmo com tudo que aconteceu no país em todos esses anos, nunca vi todos os boxes fechados", afirma. Ele diz ainda que, mesmo após a reabertura, muitos feirantes terão dificuldades para se reerguer.
"Sabemos que aqui é um local de muita aglomeração e temos consciência da gravidade da doença, por isso estamos sem abrir até segunda ordem. Mas o povo não aguenta mais, vamos nos reunir para pedir alguma ajuda, auxílio municipal ou estadual e tentar uma solução", argumenta. E de todos os trabalhadores do local, mais de 80% já foi dispensado e segue em casa sem receber.
O feirante Alexandre Magno, que também participa da comissão responsável por gerir o espaço, explica que já foi apresentado um plano de contingência para o coronavírus que será usado quando a reabertura for autorizada pela prefeitura municipal. "Isso para que possamos retomar com toda a segurança possível. Apresentamos medidas de higienização e limitação de pessoas", exemplifica.
Sobre a assistência aos trabalhadores da Feira do Eldorado, a Prefeitura de Contagem informou que já forneceu 150 cestas básicas através do Banco de Alimentos. Já em relação a comercialização dos produtos nos carros, o poder público municipal não se pronunciou.