Buenópolis

Servente confessa assassinato

Um ritual de magia negra pode ser o motivo da morte de menina que teve coração arrancado

Por Nathália Lacerda
Publicado em 09 de junho de 2016 | 03:00
 
 
 
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Curvelo. Foi aos gritos de “assassino, assassino” de uma população indignada que o servente de pedreiro Jair Lopes, 42, deixou a delegacia de Curvelo, na região Central de Minas, para ser conduzido a um presídio da região. Ele é apontado pela Polícia Civil como autor do assassinato de Raiane Aparecida Cândido Costa, 10, que teve o coração arrancado, na última quinta-feira, em Buenópolis, na mesma região.

De acordo com o delegado Vitor Amaro, o homem confessou ter estuprado e matado Raiane, além de ter cometido outros dois estupros, mais um homicídio e dois roubos. Ele estava foragido há pelo menos três anos. O investigador informou existir a suspeita de que Lopes faça parte de alguma seita religiosa, o que poderia ter motivado o assassinato e a retirada do coração da menina.

“Inicialmente, ele negou todos os fatos. Depois, ele se viu em uma situação que não conseguiu sair e, inclusive, deu alguns detalhes da situação macabra que cometeu”, disse o policial. Segundo Amaro, o servente de pedreiro contou que estrangulou a menina e, com ela ainda agonizando, a estuprou. Depois ele teria usado uma faca para retirar o coração dela.

“Ele entrou em contradição várias vezes. Fala que havia tirado o coração para fazer uma simpatia para chover na região. Ele indica todos os sinais de magia negra, mas também chegou a dizer que matou por dinheiro”, contou o delegado. Amaro disse ainda que o suspeito tem uma tatuagem de demônio nas costas e outra de uma aranha no ombro.

A prisão. Lopes foi preso ontem após seis dias de buscas. Ele foi encontrado no início da manhã, por cerca de 15 funcionários de uma fazenda, na zona rural de Curvelo. Os lavradores o avistaram fugindo pelo campo, conforme explicou a Polícia Militar. “Na hora que foi preso, ele tentou fugir, mas acabou sendo amarrado por um vaqueiro”, explicou o cabo Rondinele Veloso da 14° Cia Independente de Meio Ambiente e Trânsito de Curvelo.

A reportagem de O TEMPO chegou a falar com exclusividade com Lopes enquanto ele era transferido. Desidratado, machucado e confuso, o suspeito não soube explicar o que o levou a cometer o crime e alternou falas desconexas com momentos de silêncio durante a entrevista.

“Eu não queria ter feito isso. Mas aconteceu que ela morreu, né? Por mais que eu explique, as pessoas não acreditariam em mim. Não tem como eu explicar o motivo”, disse o servente de pedreiro. Lopes não explicou o motivo de ter retirado o coração de Raiane. Segundo o homem, ele foi estuprado quando tinha 12 anos, por amigos da irmã.

Coração. Hoje, a Polícia Civil vai até o local onde o suspeito contou ter enterrado o coração de Raiane, conforme o delegado Amaro. A área fica próximo à casa da garota.

De acordo com a Polícia Civil, Lopes será indiciado por ocultação de cadáver e homicídio qualificado. A pena pode variar de 12 a 30 anos de prisão.

Investigação

Próximo. Jairo Lopes admitiu à Polícia Civil que conhecia o pai de Raiane. Ele contou ao delegado que conversava com o homem e que chegou a ir à casa dele uma semana antes de matar a garota.

Outro crime. Segundo a Polícia Civil, o servente de pedreiro é suspeito de cometer outro crime semelhante, em Bocaiuva, no Norte de Minas. A vítima seria uma criança, que também foi estuprada e teve o coração arrancado. Detalhes sobre o homicídio e a idade da criança não haviam sido informados pela corporação até o fechamento desta edição. 

Suspeito demonstra sofrer transtorno

Para o psiquiatra Sérgio Palomba, mais do que a brutalidade do crime, o que pode delinear a personalidade de Jairo Lopes é a naturalidade com que ele trata a morte. “Geralmente esse tipo de pessoa se coloca como vítima da situação. Tanto que ele diz que, mesmo tendo uma explicação, as pessoas não acreditariam no crime. É uma forma de se vitimizar, de se fazer de incompreendido”, afirmou.

Palomba explicou que Lopes possui um transtorno de personalidade. “A forma como ele matou a menina revela que ele não estava se importando com a vítima. É uma forma de tratar a vida e a morte com banalidade”, completou.

Segundo o especialista, a versão dada por Lopes para o crime, que teria sido cometido por dinheiro não justifica a brutal ação. “A violência faz parte do ser humano, porém, não sentir culpa por uma morte é característica de psicopatia”, diz. (Bruno Inácio)

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