O cálculo da letalidade de uma doença é feito dividindo-se o número de óbitos decorrentes dela pelo número de casos confirmados. Com isso em vista, a taxa de letalidade da Covid-19 no Brasil gira em torno de 2,4%, considerando-se os dados do Ministério da Saúde publicados na quarta-feira (25), que contabilizavam 2.443 pacientes e 57 óbitos.
Mundialmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima uma letalidade de 3,4%, a princípio (ou seja, a cada 100 pessoas contaminadas, aproximadamente 3 morrem). Mas ela varia bastante de local para local: na China, primeiro epicentro da pandemia, chegou a 4%, passando para mais de 7% na Itália, enquanto a Coreia do Sul registrou uma taxa de cerca de 1%, e a Alemanha, de 0,5%. No mundo, a taxa de letalidade das gripes sazonais (os surtos de influenza que ocorrem todos os anos) é de 0,1%, número 34 vezes menor que a média global para o coronavírus.
A princípio, a OMS havia estimado que a gripe suína, primeira pandemia do século XXI, tenha matado cerca de 18,5 mil pessoas no mundo entre 2009 e 2010. Em três meses, o coronavírus fez quase 23 mil mortos. Um estudo apoiado pela OMS em 2013, porém, mostra que foram pelo menos 203 mil mortes devido à H1N1. Ainda assim, a taxa de letalidade permanece menor que a da Covid-19, globalmente, somando 0,02%.
O coronavírus também se mostra potencialmente mais transmissível: uma pessoa infectada por ele tem capacidade de contaminar, em média, de dois a três indivíduos. No caso da H1N1, cada doente transmitia o vírus a 1,5 pessoa.
Subnotificação de casos pode fazer letalidade parecer maior
Entre variáveis como qualidade de atendimento hospitalar e número de pessoas nas faixas etárias mais suscetíveis a complicações, outro fator importante define a taxa de letalidade: a quantidade de testes realizados. É o que explica Vitor Sudbrack, mestrando do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual de São Paulo (IFT/Unesp) e membro do Observatório Covid-19 BR.
“Essa taxa diminui se for verificado que o número de contaminações é maior. Acreditamos que haja muitos subnotificados”, diz. Um estudo britânico divulgado nesta semana estima que pode haver até nove vezes mais casos no Brasil do que o registrado oficialmente. Por ora, a estratégia brasileira é testar apenas os pacientes com quadro mais grave. Em meio à transmissão comunitária em todo o país, qualquer pessoa com sintomas gripais pode se tornar um caso suspeito, mas não necessariamente vai fazer um teste para confirmar o diagnóstico.
Assim, uma taxa de letalidade menor do que aparenta já seria motivo para alívio? Não, é o que responde a infectologista e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Raquel Stucchi. “Ainda poderemos ver a doença se manifestar de forma diferente no Hemisfério Sul. O número da letalidade, em si, não nos diz muita coisa, porque a nossa forma de fazer os testes mudou e é diferente de outros locais. Neste momento, é preciso ficar atento e entender se as mortes têm seguido o padrão visto em outros lugares”.
Taxa de letalidade é diferente em cada faixa etária
Na China, onde a doença se iniciou, a letalidade da Covid-19 mostrou-se 15 vezes maior entre idosos do que na população mais jovem. Isso não significa que a contaminação dos mais velhos seja maior, mas que eles desenvolveram mais complicações.
Porém, lembra a infectologista Raquel Stucchi, os jovens não estão livres de morrer em decorrência da Covid-19 – há alguns poucos casos de mortes de adolescentes entre 10 e 19 anos na China e na Espanha, por exemplo. O risco de letalidade também aumenta quando a Covid-19 encontra comorbidades, como diabetes, problemas cardíacos e sequelas de tuberculose. Não existe, até então, qualquer grupo que possa se considerar imune à doença.