Enquanto o número de casos de coronavírus em Minas Gerais cresce em ritmo acelerado – nesta quarta-feira (20), registrou-se recorde no número de confirmações, 309 novos em apenas 24 horas –, pesquisadores de todo o Estado correm contra o tempo para encontrar soluções que ajudem a minimizar o impacto da pandemia, a reduzir o número de mineiros infectados e a tratar aqueles que necessitam de apoio médico.
A Fundação Ezequiel Dias (Funed), por exemplo, concentra dois importantes estudos para diagnóstico e tratamento da Covid-19, ambos receberam recentemente a aprovação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). Com o apoio da instituição às duas pesquisas, equipes de cientistas receberão um bom apoio financeiro para que os projetos tenham continuidade.
O primeiro deles pretende elaborar um soro anticoronavírus, enquanto o segundo quer fabricar um teste rápido capaz de detectar a presença do vírus mesmo nos pacientes que ainda não apresentam sintomas da infecção. A conclusão de um desses testes levaria menos de 15 minutos para sair e, além de ser descartável, permitiria a ampliação da capacidade de testagem da população.
Soro anticoronavírus
À frente do estudo referente ao soro anticoronavírus, o pesquisador Sérgio Caldas esclarece que a técnica é bastante próxima à usada para fabricar outros tipos de soro – como o antirrábico, usado para tratamento imediato de pessoas que acabaram de ser expostas ao vírus da raiva. “O soro que estamos propondo é basicamente uma preparação farmacêutica composta por anticorpos retirados do sangue de cavalos expostos de forma controlada ao coronavírus morto, inativado”, esclarece o cientista.
De acordo com ele, a produção do soro acontece da seguinte maneira: o coronavírus morto é inoculado no corpo de um cavalo e o organismo do animal reage àquela exposição produzindo anticorpos. Logo em seguida, sangue é coletado do cavalo e os anticorpos ali encontrados são purificados até que estejam prontos para serem injetados em um ser humano infectado com o coronavírus.
Apesar de parecer simples, o estudo demanda inúmeros testes até que o processo seja considerado seguro. O pesquisador acredita que no período de um ano já terá sido possível chegar a um piloto do soro. Após isso, serão necessários um ano e meio ou até dois anos para que o produto chegue às pessoas.
“O projeto que nós apresentamos à Fapemig prevê um protocolo de 12 meses até a produção em escala piloto industrial. Depois que nós encontrarmos resultados bons com o piloto, precisaremos de mais ensaios pré-clínicos e clínicos para colocar o produto com segurança no mercado”, pontua Caldas.
A produção de soros é uma tradição na história da Fundação Ezequiel Dias, que já possui os laboratórios necessários e mesmo uma fazenda experimental para que sejam conduzidas as etapas do projeto. “Inclusive, temos relatos na literatura de produção de soro em cavalos contra o SARS, que é essa grande família de coronavírus que já causou epidemias anteriores em outros países. Nós já temos indícios de que é realmente possível produzir o anticorpo no cavalo”, conclui.
Teste rápido até para assintomáticos
Se por um lado a equipe do pesquisador Sérgio Caldas estuda uma opção de tratamento para pessoas infectadas com a Covid-19, por outro os cientistas comandados por Luiz Heneine analisam a criação de um teste rápido capaz de detectar a presença do vírus mesmo nas pessoas que ainda não apresentaram sintomas da doença.
“É uma tentativa de trazermos um diagnóstico rápido, um teste que permita identificar pessoas ainda assintomáticas e que, nessa condição, podem transmitir o vírus”, explica. Segundo ele, os testes atuais não conseguem apontar com precisão quais das pessoas que, mesmo sem apresentar sintomas, têm o coronavírus.
A ideia do grupo, e que já está em desenvolvimento, é produzir um teste capaz de oferecer um diagnóstico em, no máximo, 15 minutos. O exame será rápido e descartável como um teste de glicose – daqueles que usam fitas compradas em farmácias –, o ideal para ampliar a testagem para toda a população.
“Anticorpos contra o coronavírus são anexados em uma tira que a gente chama de sensor. Essa tira é colocada num aparelho para ser lida. Quando você acrescenta a amostra do paciente contaminado na tira, o anticorpo se liga ao vírus e aparece no aparelho um sinal que mostra que a pessoa tem o vírus. Se ela não tem, o anticorpo não se liga a nada, não há uma mudança de status no aparelho”, esclarece.
Heneine acredita que até o final deste ano um protótipo já estará disponível para testes mais ampliados. “Nós já desenvolvemos uma plataforma, temos os eletrodos que são as tiras e já vamos começar a purificar os anticorpos. Fizemos testes preliminares e os resultados foram interessantes”, comenta.
Atualmente com mais de 5.200 casos de coronavírus e recorde de mortes no período de um dia registrado nesta quarta-feira (20), o estado de Minas Gerais poderá se beneficiar do teste criado pela equipe do cientista para testar a população em larga escala. “O nosso teste é descartável, fácil e usa um reagente só que é a própria amostra do paciente. Ele diagnostica mesmo quem está infectado e não tem sintomas. Aplicá-lo em larga escala é uma estratégia para debelar a pandemia”, conclui.