O número de transplantes em Minas Gerais aumentou 27% com o término da pandemia da Covid-19, e a consequente redução do número de pessoas infectadas pelo vírus. Foram 2.003 procedimentos realizados no ano passado (2022), quando foi decretado o fim do período de crise sanitária. O número é superior aos 1.573 transplantes feitos em 2020, ano em que os primeiros casos de Covid-19 foram notificados. Apesar do aumento no número de transplantes, a doação de órgãos ainda é um tabu no Estado. Conforme a Secretária de Estado de Saúde de Minas Gerais, a taxa de recusa também aumentou nos últimos anos. A média passou de 25% em 2019 para 45% em 2022.

"Estamos com esse aumento, mas a quantidade de transplantes realizadas ainda é abaixo do período anterior a pandemia. A Covid foi muito ruim para as doações" , afirma Omar Lopes Cançado Junior, diretor do MG Transplantes. Para o diretor, a quantidade de doações abaixo do esperado tem como causa principal a desinformação. "Muitas pessoas acham que se declarar doador vai adiantar a morte daquele paciente. Não é assim. O diagnóstico de morte encefálica é muito rígido, principalmente no Brasil. Ele precisa, por exemplo, de mais de um profissional, alem de exames complementares", acrescentou.

A lista de espera para a realização de transplantes em Minas somava, até julho deste ano, 5.949 pessoas. As demandas, neste período, eram principalmente por córnea (2.986), rim (2.794), rim e pâncreas (44), coração (22) e pâncreas (6). "Esse ano, felizmente, estamos conseguindo aumentar a captação de órgãos,  mas a quantidade de pacientes ainda é grande", destacou o diretor do MG Transplantes.

Minas Gerais conta com sete unidades do MG Transplantes, que é responsável por coordenar a política de transplante de órgãos e tecidos no estado. É a instituição que regula o processo de notificação, doação, distribuição e logística. As unidades estão instaladas na capital e nas regiões Metropolitana de Belo Horizonte, Leste (Governador Valadares), Nordeste (Montes Claros), Oeste (Uberlândia), Sul (Pouso Alegre) e Zona da Mata (Juiz de Fora).

"Nós temos feito um esforço muito grande para que as pessoas fiquem um tempo menor na fila, e isso passa pela captação. Por isso vamos aumentar o repasse de recursos para a captação", afirmou o secretário de estado de saúde Fábio Baccheretti. O investimento, segundo o secretário, será na formação de uma equipe multidisciplinar que vai permitir aprimorar o diagnóstico de morte encefálica e o serviço de apoio aos familiares. "São psicólogos e assistentes sociais que podem ajudar neste processo. Além disso, com esse recurso, esperamos realizar transplantes de pulmão no Hospital das Clínicas. É algo que está sendo viabilizado com a UFMG e vai evitar que pacientes tenham que ir para outros estados", acrescentou.

Bate coração

A médica aposentada Cláudia Myriam Amaral Botelho, de 65 anos, realizou transplantes de coração em duas ocasiões. Em 2002, o procedimento foi realizado com urgência, após um diagnóstico de cardiomiopatia dilatada - que provoca insuficiência cardíaca. Dez anos após o procedimento, o organismo dela começou a rejeitar o órgão,  o que implicou em um novo transplante.

"Na primeira vez, eu estava em coma e quando acordei minha irmã avisou que já tinha sido transplantada. Foram três semanas de muita dor, sofrimento. Já em 2012, eu entrei na fila para um novo transplante. E esse coração está se comportando muito bem", detalhou a médica. 

Para ela, as operações em 2002 e em 2012 foram dois momentos marcantes em vida. Os procedimentos deram "novas oportunidades", como de retomar alguns velhos hábitos que ela sentia saudades enquanto estava doente. "Quando eu consegui colocar sal na batata-frita, aquilo foi uma alegria muito grande pra mim", brincou. 

Recomeço

A vida da psicóloga e escritora Ailla Pacheco, de 33 anos, também recomeçou após a doação de um fígado, em 2020. "Tive um diagnóstico de hepatite, fui hospitalizada e passei mais de 50 dias em coma até receber a notícia de que tinha um fígado compatível. A minha vida foi salva a partir desse dia", relata.

Para a psicóloga, a oportunidade que ela teve de uma nova não é a mesma para outras tantas pessoas que ainda esperam por um órgão. Ailla acredita que ainda é preciso informar e conscientizar sobre a doação, a fim de que esse cenário possa ser revertido.

"Ainda existem muitas negativas, mesmo sendo um processo simples. Basta avisar a família, somente ela vai ser responsável por isso. As pessoas precisam saber que esse gesto pode salvar ate oito vidas. É uma forma de manter a luz de cada um acesa", completa.

Setembro verde

Nesta sexta-feira (1° de Setembro), a Secretária de Estado de Saúde de Minas Gerais e a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Rede Fhemig) lançaram a campanha Setembro Verde. A campanha foi criada a partir da Lei 15.463/2014 e tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância da doação de órgãos. No dia 27 de setembro é celebrado o Dia Nacional da Doação de Órgãos.

Como ser um doador de órgãos?

É preciso conversar com os familiares sobre o desejo de doar órgãos.  Não é preciso deixar nenhum documento assinado. 

Quais órgãos pode ser doados?

Pulmões
Intestinos
Tendões 
Pâncreas 
Ossos
Células 
Rins
Pele
Coração e válvulas 
Fígado 
Córneas 
Veias e artérias