O prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS), anunciou nesta quarta-feira (19) a construção de dois túneis subterrâneos na avenida Vilarinho, em Venda Nova, para escoamento de água. Segundo ele, o projeto pode ser a solução para os alagamentos na via, que tantas vezes já arrastaram carros, causaram mortes e deram prejuízos a comerciantes. Orçada em R$ 300 milhões, a previsão é de que a obra seja iniciada em junho do ano que vem e, se tudo correr bem, seja concluída até 2021.
“Se não resolver definitivamente, Vilarinho pelo menos passa a não ser notícia mais, porque vai só molhar o sapato”, afirmou Kalil. O prefeito, no entanto, acredita que a obra não inibirá o impacto de temporais como o do dia 15 de novembro, que matou três pessoas na região.
“Isso que estamos fazendo não vai proteger contra uma chuva daquela de 96 mm em 40 minutos. Os hidrólogos disseram que foi um temporal que cai a cada 160 anos. Nosso projeto vai proteger contra volumes de chuvas que caem de cem em cem anos”, completou Kalil.
O professor de engenharia hidráulica da Universidade Federal de Itajubá Carlos Martinez explicou que essas obras levam em conta a média histórica de chuva no lugar. “O volume para cem anos é calculado para uma determinada região, levando em conta a média histórica, que deve ser algo em torno de 90 mm (de água)”, disse Martinez.
A obra
Somadas, as passagens subterrâneas terão capacidade de escoar 305 m³ de água por segundo. Para Martinez, é uma capacidade considerável. “É 30 vezes mais volume de água da Copasa consumido por segundo em Belo Horizonte. É muita água”, detalhou.
Parte da verba para a execução das obras já está garantida e vem dos cofres municipais – a PBH não informou quanto. O restante virá de empréstimos com bancos e deverá passar por votação na Câmara Municipal. Outra fatia do montante deverá vir de recurso solicitado ao governo federal.
Os R$ 300 milhões orçados no projeto vão cobrir, além dos túneis, a construção de um viaduto na rua Joaquim Clemente, no bairro Xodó Marize, na mesma região, e o escavamento de galerias pluviais para facilitar o que eles chamam de “engolimento de água”.
“A licitação deve ser lançada em março do ano que vem, e a previsão é que as obras comecem em junho, com um ano e meio de duração”, afirmou Henrique Castilho, chefe da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap).
O superintendente afirmou que há obras atualmente nos córregos do Marimbondo, na região Nortel, e Olaria, no Barreiro, mas destacou que os esforços estão voltados para a Vilarinho. “Estamos atuando em toda a cidade, mas nossa preocupação hoje é naquele entroncamento da Vilarinho. Precisamos tirar aquela quantidade de água que cai lá”, concluiu.
Falta de discussão com a comunidade é questionada
Especialistas ouvidos pela reportagem falaram com cautela sobre o projeto da prefeitura, até mesmo por não terem sido apresentados a ele. Para os estudiosos, o município deveria ter discutido a ideia com a população. Além disso, eles avaliam que a solução para os alagamentos na Vilarinho vai muito além da construção de túneis.
“Precisaria analisar de forma aprofundada o estudo, mas, a princípio, me parece que essa solução reproduz o modelo que já está lá. O que a prefeitura precisa, na minha opinião, é criar mais reservatórios”, afirmou o professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e integrante do projeto Manuelzão Marcus Vinícius Polignano.
Ele acredita que outros projetos deveriam ser avaliados. “Apresentaram um obra preconcebida. Deveriam ter aberto e divulgado um processo de envio de projetos para outras entidades, e não só para uma prestadora de serviço. Fora a discussão com a comunidade, extremanente importante, que faltou”, comentou o especialista.
Questionado, o prefeito Alexandre Kalil confirmou que o projeto não foi discutido com moradores nem comerciantes. “Não foi. Esse é um projeto totalmente técnico”, disse.
Já o professor de engenharia hidráulica da Universidade Federal de Itajubá Carlos Martinez tem dúvidas de que o projeto trará soluções imediatas. Para ele, há problemas a serem resolvidos no longo prazo. “Deveriam fazer um planejamento da ocupação do solo, da impermeabilização, que é asfaltar o chão e construir de forma deliberada. Fora as questões relacionadas ao descarte de lixo”, disse.
Saiba mais
Empréstimo
A PBH assinou nesta terça-feira (18) convênio de R$ 10 milhões com a Caixa Econômica Federal para prevenção de enchentes na capital. Ao total, serão investidos R$ 9,5 milhões de recursos federais e R$ 500 mil de verba municipal.
Locais
Os recursos serão utilizados para elaboração de projetos de saneamento ambiental nos córregos Cercadinho (na região Oeste), Barreiro (no Barreiro), Leitão (na região Centro-Sul) e dos Pintos (na região Oeste), além de estudos no Conjunto Lagoa (na Pampulha) e na rua Antônio Henrique Alves (na região Noroeste).
Adiada
A licitação para tratamento de fundo de vale dos córregos Olaria/ Jatobá foi adiada para análise de perguntas feitas por interessados em participar do processo.
Empresa
Experiência. A Engesol, empresa que formulou o projeto de construção dos túneis na avenida Vilarinho, já realiza obras para evitar alagamentos na capital. “A Engesol nos apresentou uma proposta técnica, que nós estudamos e entendemos que será a melhor solução”, disse o superintendente da Sudecap, Henrique Castilho.