Ao completar hoje um mês do retorno de Keke, de 10 anos, ao Brasil, após cinco meses na Nigéria, sequestrada pelo próprio pai, a garotinha conta que está satisfazendo a sua maior vontade enquanto esteve longe da família materna: “Estou comendo arroz com feijão”, disse Atinuke, nome de Keke, que sonha em fazer ginástica olímpica.

Na casa dela, no bairro Serrano, na região Noroeste de Belo Horizonte, agora é só alegria. A felicidade da menina é maior porque a irmãzinha dela, Maria Júlia, de 1 ano, está apreendendo a falar. E a primeira palavra foi “Keke”. 

A menina não consegue esquecer a surpresa que os colegas da escola fizeram para ela. “Todo mundo foi para o jardim e começou a gritar o meu nome. Fiquei muito emocionada”, disse a garotinha. Ela conta que, apesar da tristeza de estar longe da mãe, gostou de conhecer a família nigeriana dela. Mas, de uma coisa ela disse ter certeza: “O Brasil é melhor”.

A mãe da garotinha, a psicóloga Laurimar Pires Ferreira, 38, conta que uma das maiores alegrias da filha foi ter reencontrado os colegas da escola particular onde estuda. Ela pegou duas semanas de aula e agora curte as férias em casa, brincando com amigos e primos.

“O processo de readaptação dela foi automático. Nesse período dela de volta ao país, ela fica comparando os hábitos no Brasil e na Nigéria. Ela compara: ‘Aqui a gente faz assim; lá, de outro jeito’. Mas, ela está supertranquila, graças a Deus”, conta a mãe.

Keke disse ter estranhado a alimentação na Nigéria, por ser carregada na pimenta, segundo ela. “A gente tem o hábito de comer de manhã uma coisa mais leve, um pão, um leite, um café. E lá eles comem a mesma comida do almoço no café da manhã. Ela compara esse tipo de coisa”, contou Laurimar.

Assim que retornou, Keke recebeu um monte de cartinhas dos colegas da escola, todas manifestando carinho e saudade dela. “Ela guarda as cartinhas. Está muito feliz, conversando e brincando com todo mundo. Agora, nas férias, ela acorda tarde, fica vendo filmes, jogando, brincando”, reforçou a mãe.

A garotinha conta que estava com muita saudade do seu melhor amigo, Bernardo, de 9 anos, colega de escola dela desde o primeiro ano. O reencontro deles foi emocionante. O garoto chegou a ficar doente, com saudade e preocupado com Keke na Nigéria.

Relação com o pai

Keke, segundo a mãe, não comenta se tem vontade de reencontrar o pai. “Acredito que sim. Afinal, ela gosta dele, embora tenha havido uma quebra de confiança por parte dele”, disse a mãe, que tem a guarda exclusiva da filha e não pretende impedir a convivência da filha com o pai, o nigeriano Michael Akinruli, preso na Nigéria.

Ele levou a filha para São Paulo com a promessa de comprar uma boneca. Chegando lá, a levou, com a roupa do corpo, para o seu país. A mãe teve que enfrentar um longo processo judicial e ir até a Nigéria para trazer de volta a filha, após cinco meses. As duas chegaram há um mês a Belo Horizonte.

De férias, hoje Keke não faz outra coisa senão brincar. “Brinca 24 horas por dia”, conta a mãe. A filha caçula da psicóloga sempre entra na brincadeira. “Maria Júlia fica o tempo todo atrás da Keke. O que ela mais fala é ‘Keke’”, disse a mãe, interrompida por diversas vezes na entrevista por Maria Júlia, que repetia “Keke, Keke, Keke”. Outro passatempo de Keke é ficar no bate-papo com o amigo Bernardo, pelo WhatsApp.

Além de saciar a vontade de comer arroz com feijão, o primeiro pedido de Keke ao chegar ao Brasil foi estrogonofe e churrasco.

O sonho da menina é fazer ginástica olímpica. A mãe já havia feito inscrição dela na PUC-Minas quando o pai a levou embora. “Agora, vaga é só no ano que vem”, disse a mãe.