BEBÊ TEVE CABEÇA ARRANCADA

Uma semana após morte da bebê em BH, PC não tem previsão para liberar corpo

De acordo com a polícia, caso é complexo e corpo precisa ainda passar por novos exames; família foi avisada

Por Isabela Abalen
Publicado em 09 de maio de 2023 | 10:58
 
 
 
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Mais de uma semana após a morte da bebê Emanuelly Vitória, que supostamente teve a cabeça arrancada durante o parto no Hospital das Clínicas, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na região Centro-Sul de Belo Horizonte, o corpo ainda não tem data para ser liberado do Instituto Médico-Legal (IML) para realização do enterro. 

De acordo com a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG), o caso é complexo e ainda faltam exames a serem realizados. “O caso se reveste de grande complexidade e demanda estudos necroscópicos e laboratoriais detalhados. O corpo será liberado tão logo os médicos legistas definam que não serão necessárias coletas adicionais de tecidos para análises”, afirmou em nota. 

A polícia reforça que os trabalhos foram iniciados imediatamente após a chegada do corpo da bebê no IML Dr. André Roquette, no bairro Gameleira, região oeste de BH. “Por ora, não é possível definir data exata da conclusão do laudo”. 

De acordo com a advogada de defesa da família, Jennifer Valente, a mãe, Ranielly Coelho, de 34 anos, foi avisada de que o corpo levaria mais tempo antes de ser liberado. “Não há previsão para liberação. Ontem (8 de maio), a família foi informada que será necessário de alguns exames complementares para o laudo preliminar. Então, é possível que fique ainda mais algumas semanas”, conta. “O laudo da Polícia Civil mesmo, só deve ser concluído em torno de 30 dias. Isso o preliminar”, explica. 

O corpo da bebê só foi entregue ao IML na quarta-feira (3 de maio), mais de 48 horas após a sua morte. Isso porque, segundo a família, o hospital havia solicitado a realização da necrópsia e sepultamento direto na instituição, sem passar pelos exames da polícia. “Vieram com os papéis. Disseram que iam fazer tudo até enterrar de graça. Pediram para que eu assinasse. Mas como eu não entendo essas coisas, fiquei confusa, recusei. Senti que não explicaram direito”, relata a tia da criança, Aryane Santos, de 32 anos. 

Se a família tivesse aceitado, a bebê teria sido enterrada ainda na semana passada. Na terça-feira, 2 de maio, um dia após a morte da criança, a família foi chamada para liberação do corpo. “Pediram para que eu fosse até o necrotério para assinar a declaração de óbito e liberar o enterro da minha sobrinha, acompanhada do meu cunhado. No documento da necropsia, estava escrito que a bebê morreu dentro da barriga da mãe, não fazia menção nenhuma para a perda da cabecinha”, denuncia Aryane. 

Foi essa suposta inconsistência no documento que fez com que a família procurasse uma advogada. Somente após entrada da advogada no hospital, acompanhada de agentes da Polícia Civil de Minas Gerais, que o corpo da bebê foi levado ao IML. 

Entenda o caso 

A morte de uma bebê na hora do parto, supostamente após ter a cabeça arrancada pela médica no Hospital das Clínicas, em Belo Horizonte, é investigada pela Polícia Civil. O caso aconteceu no último dia 1º de maio e foi denunciado neste domingo (7 de maio) a O TEMPO pela família da criança, que está completamente abalada.

A mãe da criança, uma mulher de 34 anos, registrou um boletim de ocorrência após a morte do filho no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no bairro Santa Efigênia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte. 

De acordo com o registro, feito dois dias depois pela Polícia Civil, a gestante contou que estava com 28 semanas e apresentou um quadro de pressão alta. Por causa disso, ela ficou internada na unidade de saúde, onde foi optado pelo parto induzido. 

O pai da criança e a mãe da grávida acompanharam o parto. O homem relatou para a polícia que viu o rosto de sua filha. Ele disse também que percebeu que a pequena mexia a boca e os olhos, mas que, momentos depois, viu que a médica tinha arrancado a cabeça da criança. 

Ainda na versão dos familiares à polícia, a médica pediu desculpas e a assistente social da unidade de saúde disse que o hospital arcaria com todos os custos do sepultamento. A necropsia da bebê também teria sido feita no hospital, e o corpo não teria sido encaminhado ao Instituto Médico-Legal (IML) após a morte.

“Com a ocorrência, conseguimos a remoção do corpo do hospital para o IML. O hospital não queria liberar para que a família fizesse qualquer procedimento, inclusive enterro e velório, por que eles falaram que eles lidariam com essa situação do sepultamento. Amanhã (nesta segunda-feira) sai o resultado preliminar da necropsia e também uma guia preliminar para a mãe da criança. Ela está com mais de 60 pontos, não consegue andar e está muito mal psicologicamente”, explicou a advogada Aline Fernandes, que representa a família da vítima.

Ainda segundo o registro no boletim de ocorrência, familiares acompanhavam o parto através de um vidro. Eles teriam presenciado a médica subindo sobre a barriga da mãe enquanto puxava a criança, que, ao nascer, teve a cabeça arrancada do corpo. Conforme a advogada da família, a criança, inclusive, teria tido a cabeça costurada para que a mãe pudesse carregá-la.

O que diz o Hospital das Clínicas (HC)?

O Hospital das Clínicas, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no bairro Santa Efigênia, região Centro-Sul de Belo Horizonte, afirmou que a bebê decapitada durante o parto tinha “malformação pulmonar, incompatível com a vida”. 

A gestão da unidade disse que o parto foi prematuro, com 30 semanas de gestação, e que a gestante evoluiu para “agravamento do quadro clínico, com elevação da pressão arterial e edema generalizado”.

“Devido à gravidade do quadro materno e à inviabilidade fetal [incapacidade do feto de sobreviver fora do útero], o corpo médico optou pela indução do parto", prosseguiu. O hospital também diz que "se solidariza com a família" e que segue "à disposição dos parentes e das autoridades".

"O HC e a EBSERH empenharão todos os esforços para apuração dos fatos e análise do caso e apoio à família", concluiu o texto divulgado pelo hospital. As defesas das médicas não foram localizadas pela reportagem. 

O que diz a Polícia Civil?

Por meio de uma nota, a Polícia Civil confirmou que instaurou um inquérito para apurar as "causas e circunstâncias" do ocorrido. "A PCMG esclarece que procedimentos estão sendo realizados com o intuito de elucidar o caso. Tão logo seja possível, outras informações serão divulgadas".

"A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informa que o caso se reveste de grande complexidade e demanda estudos necroscópicos e laboratoriais detalhados. Os trabalhos já foram iniciados imediatamente após a chegada do corpo no Instituto Médico-Legal Dr André Roquette. Por ora, não é possível definir data exata da conclusão do laudo. O corpo será liberado tão logo os médicos legistas definam que não serão necessárias coletas adicionais de tecidos para análises."

O que diz o CRM-MG?

O Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) afirmou que irá investigar o caso. "Em resposta a sua solicitação, o Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRM-MG) informa ter tomado conhecimento, pela imprensa, de desfecho desfavorável em parto realizado em Belo Horizonte, e vai instaurar os procedimentos administrativos necessários à  apuração dos fatos.

Todas as denúncias recebidas, formais e de ofício, são apuradas de acordo com os trâmites estabelecidos no Código de Processo Ético Profissional (CPEP), tendo o médico amplo direito de defesa e ao contraditório. Em conformidade com o CPEP todos os processos correm sob sigilo."

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