O presidente da Unimed-BH, Samuel Flam, anunciou, nesta quinta-feira (30), que a unidade hospitalar ambulatorial da avenida Dom Pedro I, no bairro Planalto, na região Norte de Belo Horizonte, foi transformada em hospital de campanha contra a Covid-19. Ele reúne 120 leitos, dos quais 20 devem estar prontos para atendimento na próxima segunda-feira (4/5).
A previsão é a de abertura de 200 novos leitos na rede do grupo – que incluem dez leitos da unidade da avenida do Contorno, dez leitos de UTI no Hospital Infantil São Camilo, 40 leitos de enfermaria e 20 unidades de CTI no hospital da Unimed em Betim, na região metropolitana.
Flam deu a declaração durante a Live do Tempo, entrevista ao vivo conduzida diariamente por Helenice Laguardia e Karlon Aredes nos canais digitais do portal O Tempo (confira programação no final desta matéria).
Assista à entrevista completa:
Desde o dia 18 de março – mesma data do decreto que fechou parte do comércio em Belo Horizonte –, a Unimed-BH também adota as consultas online, que chegam a 12 mil até agora. A Prefeitura de BH utiliza a plataforma da empresa para as consultas a distância pela rede pública de saúde.
Segundo Flam, custos operacionais da empresa aumentaram: ele contabiliza que o valor de máscaras cirúrgicas, que custavam R$ 0,90 antes da pandemia, tenha subido para R$ 2,40, enquanto a demanda por elas multiplicou-se seis vezes. A redução de procedimentos eletivos – como cirurgias contra hérnia – não reduz os custos, de acordo com ele, pois elas foram apenas adiadas.
Leia a entrevista na íntegra:
A Unimed-BH é a sétima maior operadora do país, com mais de 1,2 milhão de clientes, e está instalando 200 novos leitos na rede própria. Onde eles estão?
Frente à pandemia, expandimos a rede própria. Expandimos com dez leitos novos no hospital da Avenida do Contorno, dez leitos de UTI no hospital infantil São Camilo, reabrimos o hospital da Unimed no centro de Betim, com 40 leitos de enfermaria e 20 unidades de CTI, abrimos mais dez leitos de CTI no novo hospital de Betim e transformamos a unidade ambulatorial da Avenida Pedro I em um hospital de campanha. Nela, temos 120 leitos, dos quais 20 estarão operacionais na segunda-feira, 4. Na medida da necessidade, vamos ampliar. Temos uma análise praticamente diária para ver a necessidade de expansão. Isso, na rede própria, mas temos também a rede parceira, com quase todos os hospitais de Belo Horizonte, e todos eles fizeram reforço de leito de forma que possamos atender a todas as demandas.
A pandemia tem algum efeito sobre os custos da Unimed? Há certo alívio, já que outras demandas não estão sendo realizadas neste período, como as cirurgias eletivas e consultas?
Neste momento, temos o aumento absurdo nos insumos: a máscara cirúrgica passou de R$ 0,09 para R$ 2,40, e o consumo aumentou quase seis vezes. Além disso, itens que eram muito pouco usados estão sendo utilizados e descartados intensamente, como máscara N-95, capotas, macacões e protetores faciais. Uma das principais diretrizes da Unimed é a proteção do pessoal na linha de frente.
Quanto à redução de procedimentos, entendemos que procedimentos eletivos, como cirurgias de prótese de joelho ou hérnia, não estão deixando de ser feitos, só foram postergados. Não entram na conta do mês, mas, na conta de um período maior de tempo, vai haver uma compensação.
Por outro lado, a Unimed-BH tem 53% de participação do mercado. O número de clientes pode abaixar após a pandemia, com o aumento de desemprego e falta de renda para bancar planos de saúde?
Com a assistência aos clientes da Seguros Unimed, do intercâmbio de Unimed do interior e da Central Nacional Unimed, esse número sobe para cerca de 60%. Vai haver uma grande mudança no cenário nacional, com a previsão de queda do PIB mundial e do Brasil. Diferente de outras crises, quando o Brasil teve um encolhimento e o mundo estava crescendo, desta vez, o mundo inteiro deve decrescer, talvez com exceção da Índia e da China. Com esse decréscimo, temos redução do número de empregos em inúmeras cadeias, como a aviação, a indústria de carros e a de turismo. Esperamos que a recuperação seja rápida, mas já vemos os empregos serem afetados diretamente.
De quanto pode ser o impacto na base de clientes neste ano e no próximo?
Podemos utilizar a crise de 2015 como base. Naquele momento, a Unimed perdeu cerca de 5% dos clientes, o equivalente a 70 mil clientes. As empresas demitem funcionários, mas, às vezes, continuam com o plano e só diminuem a quantidade de clientes. A nossa expectativa é que haja uma perda, mas esperamos uma recuperação mais rápida. O número de clientes perdidos em 2014 e 2015 já tinha sido recuperado e ultrapassado no final de 2019.
Uma leitora diz pagar um plano da Unimed em Teófilo Otoni, mas não há UTI no hospital da Unimed na cidade. O que fazer em caso de necessidade nesse caso?
Em algumas unidades da Unimed que não conseguem fazer atendimento de certa complexidade, os pacientes são encaminhados para unidades mais próximas que fazem esse atendimento. As Unimeds funcionam em um sistema de intercâmbio, com todas se amparando, centralizando as maiores complexidades da região metropolitana de Belo Horizonte, em parceria com seus hospitais.
O senhor falou sobre o aumento de custos da Unimed-BH. Qual vai ser o efeito disso nos reajustes de preço do plano no futuro?
O reajuste futuro das pessoas físicas e dos contratos familiares é uma determinação da Agência Nacional de Saúde (ANS). Os contratos de grandes empresas são uma negociação direta, então têm outro modelo. A agência tem uma metodologia de cálculo baseada em consumo. Mas eu acredito que, neste momento, ela terá certa dificuldade em precificar, em primeiro lugar, o aumento de custos das operadoras e, em segundo, certo empobrecimento da população. Isso produzirá uma complexidade a mais para a agência determinar os modelos de custo.
Mas o senhor acredita que pode haver um congelamento no preço do plano?
Diferente de uma companhia aérea, que está parada e põe o avião no chão, sem gastar combustível e com férias para os funcionários, a Unimed-BH está em pleno voo acelerado. É importante colocar que há o custo dos EPIs e as ações que a Unimed está fazendo para assegurar aos seus clientes a melhor assistência, além de todos os processos inovadores, como a consulta online (lembrando que salas de espera de consultório são focos de contágio em epidemias respiratórias).
As consultas online vieram para ficar? Qual a demanda?
Podemos dividi-las em duas grandes frentes. A primeira é a consulta online específica da Covid-19. Ela foi implantada para dar orientações e para abrir um fluxo preferencial para quem tem sintomas, e atingiu cerca de 12 mil clientes. Temos cerca de 100 médicos trabalhando com isso, e tranquilizam pessoas quando os sintomas não correspondem à Covd-19. Por outro lado, se a pessoa tem sintomas compatíveis com a doença, é encaminhada aos hospitais. Quando o procedimento não é conclusivo, colocamos esse paciente em telemonitoramento. Já tivemos um número grande de pessoas que entraram nele e uma série delas já recebeu alta. Hoje, temos cerca de 600 pessoas em telemonitoramento e, desde o começo, foram quase 9 mil clientes nessa situação.
Outra modalidade, que foi aprovada pelo Ministério da Saúde e está sendo colocada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), é a consulta online normal, com especialistas. Nós entendemos que é um procedimento complementar, para aquele paciente já tem o seu médico e quer ter alguma orientação ou mostrar exames.Temos que esperar o processo após a pandemia. Vamos seguir as orientações do ministério e da CFM para estar na legislação vigente. Entendemos também que a consulta presencial estabelece uma relação de confiança e uma proximidade entre médico e paciente. Não podemos nos esquecer disso, e acho que é um fator primordial para o sucesso terapêutico.
A Unimed-BH contratou mais de 300 pessoas. Há previsão de abertura de mais vagas?
As publicações estão sempre no nosso site. Com esses 200 novos leitos, contratamos 350 novos profissionais. Se houver necessidade de maior abertura de leitos, faremos novas contratações. Cada vez que abrimos um leito, abrimos a contratação de novos profissionais até antes de o leito estar preparado, porque treinamos as pessoas. Um dos pontos fundamentais do nosso treinamento é sobre como se paramentar. Pode parecer que é só chegar e ir colocando os EPIs, mas tem que haver muito cuidado e treinamento para colocar e para retirar esse material. Nosso propósito fundamental é evitar contaminação do pessoal da linha de frente, porque, sem eles, respiradores, leitos e atendimento não funcionam. Não conseguimos formar pessoal de uma hora para outra. Não é só comprar o respirador, é necessário ter gente que saiba utilizá-lo. É importante termos o material físico, mas a presença dos médicos e enfermeiros é o que vai garantir o sucesso da ação contra a Covid-19.
Um leitor pergunta se, nas Unimeds de todo o país, as pessoas estão morrendo como mostra a imprensa.
O Brasil é vasto e cada lugar tem um modelo de contaminação. Locais onde há aeroportos e são centros cruciais de trânsito de pessoas são mais afetados. Manaus, por exemplo, tem o aeroporto internacional e toda a região no entorno vai à cidade, assim como em São Paulo e no Rio de Janeiro. O Aeroporto Internacional de Belo Horizonte não tem o mesmo volume de voos de Guarulhos (em São Paulo). Também somos uma região interiorana, com menos tráfego no nosso aeroporto e tivemos medidas muito precoces de isolamento e de informação à população. No dia 3 de fevereiro, a Unimed estava ativando o comitê de crise. Trabalhamos com o poder público para fornecer o sistema de consulta online da Unimed e para juntar os números e ver quais estudos eram importantes.
O senhor é a favor do isolamento social?
Acho que devemos determinar o isolamento social de maneira temporal. Ou seja, em cada momento, teremos um modelo. O modelo que deu certo há um mês não vai ser aquele que dará certo em três meses. Começamos com o isolamento horizontal e, felizmente, a região metropolitana tem tido um número muito pequeno de casos. Esses números com certeza são resultado do trabalho que foi feito, com as pessoas permanecendo isoladas em casa.
Isso evitou o contágio da Covid-19, mas também o de outras viroses. Avaliando o número de pessoas que foram ao pronto-atendimento, vemos que outras viroses comuns dessa época, como a Influenza e casos de H1N1, também foram reduzidos. Suspendendo as aulas, o contágio entre as crianças, que acabam levando a virose para dentro de casa, foi reduzido drasticamente. Os serviços da Unimed estão totalmente abertos para emergências, todos os pronto-atendimentos dela e dos hospitais parceiros têm portas separadas para pacientes com suspeita de Covid-19. As demandas cirúrgicas de urgência, como de apendicite, estão sendo atendidas.
Houve uma redução dos acidentes de carro e moto, além dos acidentes esportivos, como de pessoas que quebram a perna jogando futebol. Não só nos hospitais da Unimed, mas nos hospitais públicos, há uma redução muito grande.
O senhor defende que o isolamento horizontal seja feito da forma atual até quando?
Às vezes, ficamos cobrando uma data: por exemplo, até a meia-noite do dia 1º, ninguém pode sair na rua, mas, às 1h do dia 2, todos podem. Vou fazer uma comparação com um paciente que tem um infarto: ele vai para o CTI e, na medida em que o quadro se estabiliza, vai para a enfermaria, depois vai para casa, com restrições de voltar ao trabalho habitual. Depois, é liberado para exercê-lo e para fazer uma caminhada e pergunta quando pode voltar a jogar bola. Eu acho que temos que pensar em um modelo mais médico e biológico, que reduza nossos riscos de contaminação. Essa abertura, provavelmente, será feita de maneira gradual, respeitando as pessoas mais idosas e com fatores de risco. Vimos o que aconteceu no mundo inteiro, primeiro na China, depois no Irã e na Itália, Espanha e Estados Unidos. Tivemos relatos dramáticos de alguns médicos.
Uma leitora diz que precisa fazer sessões de fisioterapia, mas elas foram canceladas. Há como reverter isso?
Temos que ver o caso dela. Se houver necessidade de urgência, com certeza o atendimento será feito. Todos os serviços estão abertos, respeitando as orientações dadas para casos eletivos que puderem ser postergados.
Muitos hospitais dizem estar à beira da falência e que querem negociar, com os planos de saúde, um repasse pelo período de três a quatro meses de parte da receita estimada que teriam, caso estivessem trabalhando na normalidade. Isso é possível?
Isso não só é possível, como já foi feito quando chamamos hospitais para conversar. Quando a Unimed viu a situação, chamou os hospitais imediatamente e falou que ela iria garantir a eles, durante quatro meses, 70% do faturamento médio deles. É o mesmo raciocínio para a cirurgia eletiva: ela apenas está sendo adiada. Também estamos fazendo isso para os médicos cooperados. Pelo que eu sei, a Unimed foi a única operadora do país que se antecipou e conversou com os hospitais para garantir que eles vão permanecer abertos, atendendo pacientes com o máximo de carinho, atenção e cumprindo os requisitos de EPIs. Quando vimos (a demanda dos hospitais) na imprensa, já fazia 45 dias que conversamos com os nossos hospitais, prevendo o que iria acontecer pela frente.
O senhor mencionou que investimentos emergenciais estão sendo feitos devido à Covid-19. Os planos de investimento da Unimed-BH para os próximos anos estão mantidos?
Todo o planejamento estratégico que a Unimed e qualquer empresa do país fez para o ano de 2020 era incapaz de prever uma pandemia com essa virulência. Neste momento, estamos considerando um período mais curto, fazendo tudo o que for necessário para garantir o melhor atendimento. Passado isso, o novo planejamento estratégico terá de ser feito baseado em novos dados, novos números e novas previsões de crescimento e expansão. Teremos, após a pandemia, um novo normal, e ainda levaremos um pouco de tempo para entendê-lo e estabelecer um programa de investimentos de longo prazo.
Uma leitora pergunta se grávidas que trabalham em hospitais estão em risco.
Não há relato a respeito da Covid-19 em relação a eventos durante a gravidez, mas, de maneira geral, temos tirado as pessoas com fatores de risco da frente de atenção aos pacientes com a doença.
A Prefeitura de BH está usando a plataforma de consulta online no sistema de saúde municipal. A Unimed-BH pode estender esse serviço a outras cidades?
A Unimed disponibiliza o programa para todos que desejarem. Ele tem um objetivo muito claro. Quando um paciente com dengue se dirige a um pronto-atendimento, não oferece o risco de contágio a um paciente próximo a ele, nem se estiverem abraçados, porque não há contágio de pessoa a pessoa. No caso das pandemias respiratórias, o raciocínio é completamente diferente, já que cada pessoa pode contagiar outra. Vimos que em outras epidemias, inclusive com mortalidade muito alta, seja a Sars, a Mers ou o começo da H1N1, o controle é diferente. Quando o paciente tem febre ou um mal-estar, dirige-se a um pronto-atendimento. Já quando o paciente vai encaminhado pela consulta online específica do coronavírus, ele tem uma porta de entrada separada, já sabe para onde se destina e, assim, fica assegurado de que, se não tiver a Covid-19, não tem risco de adquirir no hospital. E, se tiver a doença, não a passa para frente.
Uma leitora diz que a maioria dos funcionários da Prefeitura de Belo Horizonte aderiram ao plano da Unimed-BH carteirinhas e as carteirinhas têm vencimento em agosto. Há previsão de renovação do contrato, caso a pandemia se estenda?
Acredito que não há motivo nenhum para entender que essa parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte não possa continuar, principalmente neste momento de pandemia.
Live do Tempo: programação da semana
A Live do Tempo começa às 14h, diariamente, e pode ser acompanhada em todos os canais do portal O Tempo.
- Segunda-feira (3/5): presidente da Fiat Chrysler para a América Latina, Antonio Filosa
- Terça-feira (4/5): presidente da Nissan do Brasil, Marco Silva
- Quarta-feira (5/5): presidente da Volkswagen, Pablo Di Si
- Quinta-feira (6/5): vice-presidente da Ford América do Sul, Rogelio Golfarb
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