Em meio ao crescimento dos casos de Covid-19 entre os profissionais de saúde que atuam na rede municipal de Belo Horizonte, a situação da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Barreiro é uma das que vem se agravando, segundo denúncia do Sindicato dos Servidores e Empregados Públicos de Belo Horizonte (Sindibel). De acordo com a entidade, a unidade está em surto, e pelo menos 30 servidores teriam testado positivo para a doença causada pelo novo coronavírus.
Esse número significa praticamente a metade de trabalhadores infectados, já que o último boletim da prefeitura aponta que 66 profissionais que atuam nas UPAs e Samu contraíram a doença. “No Barreiro, a situação é mais grave porque são vários servidores que se afastaram. Às vezes, há plantões com deficiência de três ou quatro técnicos de enfermagem”, explicou Hilda Alexandrino, vice-presidente do Sindibel.
As informações são de que o surto atinge diversos profissionais, como médicos, profissionais que atuam na higienização de equipamentos e nos laboratórios. O contágio, inclusive, teria atingido servidores terceirizados, já que dois porteiros estão internados.
Além do Barreiro, as UPAs de Venda Nova e Oeste também chamam a atenção pela quantidade de casos, apesar de não haver números oficiais sobre o total de servidores contaminados nessas unidades. Na avaliação do Sindibel, o número de casos entre os servidores pode estar associado diretamente ao crescimento do contágio entre os moradores desses locais. Segundo os dados mais recentes, a região do Barreiro é a que concentra mais casos confirmados de Covid-19, com 301. Já Venda Nova lidera a quantidade de óbitos em Belo Horizonte, com 63.
De acordo com Hilda, que também é técnica em enfermagem, qualquer unidade em que mais de três servidores apresentam testes positivos para a Covid-19 já é considerada como em surto. “Estamos acompanhando a situação há duas semanas, e foi justamente neste mês de julho, a partir do dia 7 até o dia 23, que a gente observou a ampliação, não somente nas UPAs, mas em toda a rede (pública) de casos positivos”, explicou.
Nesse cenário, a grande preocupação é com o risco de falta de assistência para a população. “É um aumento muito assustador. E como não conseguimos reposição (de profissionais), quanto mais testes positivos, ficamos preocupados de haver desassistência. Quando trabalhamos com um número menor, como vamos assumir mais pacientes? Pode haver desassistência e estamos cobrando uma resposta para isso”, afirmou, destacando que a informação que recebem da prefeitura da capital mineira é a de que não estão conseguindo profissionais suficientes para a substituição dos que precisaram se afastar.
Segundo os boletins epidemiológicos da PBH, o número de enfermeiros e técnicos de enfermagem contaminados em UPAs e no Samu aumentou 100% entre 1 de julho e o dia 24 (de 21 para 42 casos). Entre 24 de junho e 24 de julho, o salto é de 223% (passando de 13 para 42 casos). Boletim mais recente, da última sexta, traz 128 técnicos e 37 enfermeiros com diagnóstico positivo.
Testagem. O surto de contágio pode estar relacionado ao aumento da testagem. Isso porque, de acordo com Hilda, a prefeitura vem aumentando a análise junto aos servidores. “No início (da pandemia), se testavam apenas os sintomáticos, mas a informação que temos é de que estão testando todos”, informou.
Procurada por O TEMPO, a secretaria de Saúde de Belo Horizonte não confirmou a informação do Sindibel e disse que mais detalhes sobre a denúncia apresentada pelo sindicato devem ser repassados nesta segunda-feira (27).
Confira a nota da Prefeitura de Belo Horizonte:
"A Prefeitura de Belo Horizonte informa, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, que a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) Barreiro funciona normalmente em plena condição material e de pessoal, com equipamentos, quadro de funcionários completo e seguindo todas as orientações técnicas de segurança para o combate ao novo coronavírus.
A unidade conta com infraestrutura para atendimento de urgência da população. Os trabalhadores das Upas receberam capacitação para atendimento de casos de Covid-19. Eles foram treinados para os procedimentos de uso correto de EPIs, de forma a garantir tanto a segurança dos pacientes quanto dos trabalhadores.
A UPA Barreiro passou recentemente por reformas e adequações e ainda foi instalado um Centro Especializado em Covid-19 (Cecovid).
Desde março até o dia 3 de julho, 487 profissionais tiveram a jornada de trabalho ampliada temporariamente, para dar maior suporte às unidades de saúde. Além disso foram contratados 1.171 profissionais, dos quais 311 profissionais para aberturas ou ampliações de serviços, 440 profissionais para recomposição de equipes e 420 ampliações temporárias de jornada. E, estão em andamento, mais 302 contratações para essas frentes de ações.
Desses profissionais, 264 foram destinados às Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s).
O cenário assistencial para definir a necessidade de abertura de novos serviços específicos de atendimento aos casos suspeitos de Covid-19 é avaliado diariamente.
Todos os agentes públicos lotados na Saúde com sintomas da Covid-19 são testados, assim como aqueles assintomáticos com contato domiciliar da doença.
A Secretaria mantém diálogo constante com o sindicato.
Infecções por covid
O Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS) de Belo Horizonte monitora todos os casos de incidência da doença, repassando recomendações de acordo com a especificidade de cada situação.
No caso da UPA Barreiro, desde maio há casos de trabalhadores confirmados para Covid-19. O protocolo definido pela Secretaria Municipal de Saúde e adotado pelas unidades de saúde determina que os profissionais que apresentarem pelo menos dois dos seguintes sintomas: febre, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse, coriza, perda de olfato e perda de paladar, iniciado nos últimos 07 dias, devem realizar a coleta de amostra para exame RT-PCR.
Esses profissionais são afastados imediatamente do trabalho e permanecem isolamento domiciliar até o resultado do exame ou até preencher os critérios de suspensão do isolamento domiciliar, que são:
1 - Ausência de febre por no mínimo 72 horas, sem uso de antitérmico
2 - E Melhora dos outros sintomas
3 - E Passados 10 dias após o início dos sintomas."
Matéria atualizada às 20h56 do dia 27 de julho